sábado, 16 de julho de 2011

Pina, por Carlos Antunes


Título original: Pina
Realização: Wim Wenders
Argumento: Wim Wenders
Elenco: Regina Advento, Malou Airaudo e Pina Bausch

Pina é um filme para iniciados. Não é um filme sobre Pina Bausch, é um filme para Pina Bausch.
Um filme que poderá ter começado como dedicado à vida de Pina mas que, com a sua morte, ganhou outro sentido.
Passou a buscar a permanência de Pina nos que com ela aprenderam a descobrir-se, através de lembranças que falam da própria ausência transformadora de Pina ao olhá-los em silêncio até que fossem os próprios dançarinos a chegar à sua expressão corporal.
Foi encontrar a permanência de Pina na forma como a efemeridade dos seus movimentos se imprimiu no mundo real de forma permanente.
Partir para o filme sem saber já de Pina algo substancial é perder a ligação pessoal que Wenders encontrou com uma artista que expressava tudo de si e que compreendia tudo dos outros através de algo que tende a ser descartado, pelo público geral, como uma excentricidade (incompreensível) da arte contemporânea. Algo que, na verdade, acaba por ser uma forma de comunicar através da totalidade do Ser quando o corpo inteiro traduz a percepção que cada um tem de si.
O que sobra para quem nao tem a ligação sensível às evocações de Pina é a contemplação das imagens.
Imagens que se podem dividir em dois conjuntos, aquele em que a dança está no palco e aquele em que a dança está no mundo.
A dança que está no mundo vive de uma série de pequenas composições, quase sempre representadas individualmente, que são filmadas em cenários grandiosos e admiráveis.
Todos os cenários altamente sugestivos, por vezes carregados de vida e outras esvaziados para dar lugar às possibilidades da imaginação.
Cenários onde seria impossível haver um público e onde é proporcionada uma intimidade com a dança que é vibrante e que é um efeito espantoso considerando que os cenários escolhidos são quase imensos perante a figura humana que neles dança.
Pelo contrário, a ideia de público é essencial à dança no palco, chegando mesmo a surgir algumas filas de pessoas na imagem quando Wenders filma os espectáculos.
Neste conjunto de imagens é que o 3D entra em acção dando a visão em profundidade da disposição dos bailarinos em palco, algo que aproxima o espectador no cinema do espectador "ao vivo".
O 3D dá a possibilidade de entendermos com que sentido cada grupo de bailarinos se coloca num ponto de reacção em relação a outro.
O efeito do 3D é particularmente relevante em dois espectáculos. Logo a abrir em Le Sacre Du Printemps onde a câmara, a partir de um certo momento, se move dentro do próprio espectáculo, negando o mero efeito de espectador sentado. E depois, mais tarde, em Vollmond, onde a importância da dispersão da água dá uma razão conclusiva à existência do 3D.
Nem isso evita que, entre os dois conjuntos de imagens, a dança que Wenders inseriu no mundo fique muito mais vincada do que as imagens da dança comme il faut.
A dádiva de presenciar um espectáculo de Pina dada aqui a todo o público - que, de outra forma, não teria essa possibilidade - é importante e explicativa do 3D, mas é ao cruzar as sensibilidades de Pina e Wenders (e tornar o 3D desnecessário) que se percebe o grau de significado e insensatez que as composições da dança e da imagem podem ter no mundo actual.
Este significado era, sim, verdadeiramente para Pina como o filme pretendia e pode ser colhido mesmo por quem, como já referi e onde me confesso incluir, precisa de um filme sobre Pina antes de poder olhar de forma definitiva para um filme entregue como dádiva à artista.


2 comentários:

  1. estava com muita vontade de ver; infelizmente não o apanhei por cinemas aqui perto. Mas quero mesmo muito ver, e tu ainda me aguçaste mais a curiosidade :P

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  2. Estou com grande expectativa para assistir. Deve passar por aqui em outubro.

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