sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Insidioso, por Carlos Antunes


Título original: Insidious
Realização: James Wan
Argumento: Leigh Whannell
Elenco: Patrick Wilson, Rose Byrne e Ty Simpkins

Um pai ausente por muito tempo e uma mãe fechada em casa todo o dia com um filho num coma inexplicável preparam o cenário para um filme de terror centrado na casa que habitam.
A construção dramática da vida familiar não é profunda, mas é suficiente para tornar efectiva a ruptura de visões entre os dois membros do casal.
Também porque as peças colocadas em jogo criam um mistério. Raramente causam arrepios, mas começam a criar um ambiente tenso que vai lentamente afectando o público.
O ambiente é o melhor que vemos no filme, mesmo se a fotografia abusa ao acinzentar o tom da(s) casa(s) ainda antes de nos familiarizarmos com elas. Torna-as em habitações desagradáveis desde o início da sua ocupação em vez de tentar atrair-nos a elas antes de nos sufocar na cor.
Depois o filme faz uma viragem em direcção a um estilo mais aparatoso, que talvez esteja mais em voga no terror actual mas é bem menos interessante.
A partir daí o filme beneficia os truques de terror em vez do ambiente. Torna o terror de que faz uso expectável e, por isso, caminha para uma conclusão evidente.
As explosões de luz sucedem-se e os sons inoportunos intensificam-se. Começa a tentar variadas vezes conseguir que o público salte nas cadeiras.
O aparato dos esquemas de pesquisa paranormal, sobretudo, marca visualmente essa viragem e, ao mesmo tempo, arranca o espectador ao seu envolvimento com o filme de tão exagerado que, por momentos, é risível e despropositado.
É o próprio argumento qua acaba por demonstrar quão inevitável é essa transformação do filme, porque a história entretanto transforma-se para algo muito distante da sua noção inicial.
Toda a sugestão da primeira parte do filme, a preparação do ambiente, serve de muito pouco no momento em que os personagens enfrentam os tormentos que os perseguem, surgidos de um passado que não foi dado a conhecer.
Aí lidam com o fogo-de-artifício do universo fantasmagórico para o qual se transportam, um cenário idêntico ao da casa real mas com regras próprias e uma ambiência infernal (o que faz pouco sentido depois de terem explicado que a assombração é aos homens da família e não à habitação).
O desvendar do filme, portanto o principal do terror que procura expressar, vem negar a experiência anterior.
O efeito de terror palpável a esmagar o efeito de terror sugestionado. Este filme resume assim a evolução mais evidente do género acentuada na última década.


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