Pelo que consulto de muitas listas e tops cinematográficos, parece-me que muitas vezes é confundido o conceito de mau filme (sempre subjectivo, claro), com filme que desilude. Dessa forma, aqui fica uma lista com os filmes que mais me desiludiram este ano. Não quer dizer que sejam maus filmes, mas apenas que tendo em vista as expectativas colocadas para ele, ficaram bastante aquém. Segue-se também uma justificação destas escolhas. (Para a elaboração da lista apenas foram incluídos filmes estreados comercialmente em Portugal durante 2011. As escolhas de Tiago Ramos não reflectem necessariamente a opinião de toda a equipa do blogue.)
Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos, de Woody Allen
Sendo um filme do Woody Allen, espera-se sempre - mesmo que não 100% original - algo minimamente criativo. No caso deste filme, se já o material promocional não deixava grande expectativa, o seu visionamento veio comprovar que de pouco interessante havia aqui. Não é um mau filme, mas dos mais fracos do cineasta e com certeza, daqueles em que se nota um Woody Allen mais acomodado, diria até, preguiçoso. Com um ritmo monótono, repleto de clichês, a sensação final é de inocuidade.
O Amor É o Melhor Remédio, de Edward Zwick
O hype aqui surgiu precisamente potenciado por toda uma indústria que o apontava como um interessante candidato à temporada de prémios 2010/2011, com Anne Hathaway a interpretar uma vítima da doença de Parkinson. De Edward Zwick (Blood Diamond) também se esperava uma comédia interessante e agradável, mas também crítica, dada a temática que envolvia a indústria farmacêutica. No fim de contas, temos um filme com potencial, mas que não se sabe decidir entre comédia e drama, havendo mesmo momentos em que os géneros entram em conflito. Anne Hathaway tem rasgos de genialidade, mas a sua química com Jake Gyllenhaal nem sempre resulta (este último também não tem aqui um dos seus melhores desempenhos). É um filme agradável (mais que a maioria das comédias do géneros), mas também não atinge todo o seu potencial.
Splice - Mutante, de Vincenzo Natali
O interesse do filme é quando inicia um debate interessante, polémico e actual: devem existir limites para a ciência? E Vincenzo Natali (Cube) consegue, de certo modo, criar uma atmosfera tenebrosa e de terror levantado essas importantes questões éticas. O problema é que a segunda metade do filme começa a dividir-se em vários focos e perde a consistência conseguida até ali. Há falta de sintonia.
O Código Base, de Duncan Jones
Este tinha tudo para ser um dos filmes do ano, especialmente depois de Duncan Jones ter conseguido atingir a quase perfeição com a sua estreia como realizador (falamos de Moon). De um filme de ficção-científica niilista com uma profunda mensagem, partimos para uma grande produção de Hollywood, a evocar em exagero filmes como Déjà vu e Groundhog Day e embora tenha um argumento potencialmente interessante, perde-se em demasia, chegando a uma conclusão óbvia, banal e desinspirada. Sofre de falta de personalidade.
Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley
De documentário internacionalmente reconhecido e nomeado a um Óscar, encontramos afinal uma história comovente, mas com objectivos pretensiosos. Em vez de se focar no que realmente interessa (a vida daqueles catadores de lixo), prefere destacar o artista plástico Vik Muniz como uma figura quase messiânica. Tinha tudo para ser bom, mas vê a sua estrutura enfraquecida a posição arrogante do protagonista, que deveria ser posto mais lado e dado destaque a quem realmente interessava.
Amores Imaginários, de Xavier Dolan
Com uma auspiciosa estreia com J'ai tué ma mère, desta segunda longa-metragem do jovem canadiano Xavier Dolan esperava-se nada menos que uma estrutura amadurecida do seu primeiro trabalho. Apesar de obter destaque como homem dos sete ofícios (apesar da tenra idade, produziu, escreveu, realizou e protagonizou - até o guarda-roupa teve a sua cargo), o filme sofre dos mesmos problemas do filme anterior: falta de maturidade. Com uma visão arrogante e narcisista, por mais interessante que possa ser, acaba por revelar-se cansativo.
Super 8, de J.J. Abrams
Apesar de toda a interessante nostalgia do cinema dos anos 80 e de alto valor moral, o filme acaba por revelar-se demasiado centrado esse saudosismo, revelando uma narrativa deficitária, costurada e monótona. Contrastando com a simplicidade final, termina completamente atropelado pelos efeitos que parecia contestar.
Um Dia, de Lone Scherfig
De um bestseller aclamado, com o regresso de Lone Scherfig depois de um agradável An Education, esperava-se de One Day algo bastante melhor do que revelou ser. A história é demasiado fracturada e a sua estrutura quase episódica acaba por revelar muitos buracos e vazios narrativos, faltando-lhe sobretudo coesão a nível narrativo.
Uivo, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Apresenta sem dúvida a melhor performance de James Franco, num ano em que foi ofuscado pelo seu trabalho em 127 Horas (de bastante menor qualidade), mas o problema não é esse. Apesar de todo o arrojo e originalidade, não existe um elemento unificador da narrativa, que se dispersa em elementos de alto valor artístico quando em separado, mas que quando juntos acaba por se assemelhar a uma manta de retalhos.
Submarino, de Richard Ayoade
Cai no estigma de um certo tipo de cinema independente onde por vezes se confunde originalidade com cultura underground. Apesar de se distanciar de obras mais mainstream e orgulhosamente apresentar uma tentativa criativa de contar uma história banal, deixa-se ofuscar pela ideia forçada de reunir num espaço pequeno todo e qualquer elemento que agrade a uma certa cultura hipster.
Nos Idos de Março, de George Clooney
Filmado e protagonizado de forma exímia, onde todo o elenco se destaca, mas em Nos Idos de Março não deixamos de nos sentir com uma sensação enorme de déjà vu. Basicamente recicla toda a estrutura do filme de conspirações políticas, criando um excelente ambiente, mas que deixa sempre uma sensação amarga de repetição, especialmente quando comparado com outros trabalhos do realizador que se focam na mesma temática.
Não colocaria aí o Submarino nem o Código Base. Gostei bastante de ambos, especialmente do primeiro. De resto, dos que vi, concordo especialmente com o Nos Idos de Março e o Super 8.
ResponderEliminarCompreendo, especialmente de Submarino. Mas acho o Código Base bastante fraco e só não vai para os piores, por respeito ao realizador. :P
EliminarDiscordo de "O Código Base" e "Super 8". Concordo especialmente com "Um dia".
ResponderEliminarPois, conforme disse em cima, "O Código Base" foi uma verdadeira desilusão. Já "Super 8" a crítica desenvolve a minha opinião sobre o mesmo: http://splitscreen-blog.blogspot.com/2011/08/super-8-por-tiago-ramos.html.
EliminarObrigado por comentares. Bem-vinda!
Concordo plenamente em alguns, mas amor é o melhor remédio e idos de Março, de maneira nenhuma, até porque fazem parte do meu top5 do ano. O facto de pouco ou nada saber deles e vê-los tendo em conta as interpretações, talvez tenha ajudado. Porém, adorei amor é o melhor remédio e já não achei o mesmo do Código de base e Um Dia. Um filme não vive só das interpretações, mas de todo um conjunto, ainda que dê primazia a um bom argumento, bons diálogos e neste aspecto: Amor é o melhor remédio e Idos de Março são barra.
ResponderEliminarora bem, tinha aqui um comentário pimpão, mas o blog, na sua infinita sabedoria decidiu eclipsar o dito para o buraco negro. Portanto, agora, apenas partilho a ideia que odeio comentar em blogs que me comem os comentários :P (como todo o respeito pelo dito blog/página)
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