Título original: The Iron Lady (2011)
Realização: Phyllida Lloyd
Argumento: Abi Morgan
Elenco: Meryl Streep, Jim Broadbent, Iain Glen, Alexandra Roach e Olivia Colman
A estreia de A Dama de Ferro não deixa de ser oportuna quando pensamos no caos económico que a Europa atravessa e a que o Reino Unido não é imune. Teoricamente é pertinente explorar a história da mulher que tirou o país da maior recessão do século, mas infelizmente o filme não tira partido desse sentido de oportunidade, originando aqui uma biopic preguiçosa , que se acha importante apenas por ter à sua frente uma actriz como Meryl Streep. É um problema que se começa a querer avistar como um padrão quando nos lembramos da dramaturga Phyllida Lloyd como realizadora de Mamma Mia! (2008) e que agora regressa aos grandes ecrãs com uma segunda longa-metragem que em nada tenta reflectir nos erros passados.
O filme é uma visão superficial e pouco político sobre Margaret Thatcher, que tampouco tenta manifestar-se como apoiante ou não da ex-primeira ministra britânica nem simplesmente dar a margem ao público para que seja este a decidir. Especialmente porque além da imprecisão histórica, o filme foca-se especialmente numa narrativa de fundo onde seguimos uma Margaret Thatcher já fora dos holofotes da política e apresentada como uma mulher idosa, demente e com alucinações. E se nos primeiros cinco minutos de filme achamos uma visão interessante, não deixa de se tornar cansativo, especialmente quando se apoia maioritariamente no recurso dos flashbacks para contar a história (em muitos casos particularmente omissa). Isto revela da parte de Phyllida Lloyd uma incapacidade de contar uma história coerente sem recurso a esses subterfúgios e clichés (além dos flashbacks, usa também muitas imagens de arquivo - que não sendo uma solução desinteressante - não se coaduna com a de uma biopic que foge ao lado histórico e se foca no lado emocional). A verdade é que o argumento também não ajuda, sendo uma pena vindo da promissora Abi Morgan, decidindo focar-se mais no lado feminista da história ao mesmo tempo que não assume um sentido específico da história: perde-se entre um filme político e histórico ou entre um drama emocional, por vezes num tom ligeiro. Já para não falar do final atroz e que em nada se coaduna com a mensagem que tenta passar ao longo do filme.
A nível de desempenho, é impossível criticar o trabalho de Meryl Streep. Aquele desempenho que marca a sua décima sétima nomeação aos Óscares permite uma identificação com a dedicação que a actriz tem trazido aos seus trabalhos. É obviamente um trabalho praticamente perfeito. E isso é inegável. O problema é que observando este trabalho comparativamente com o de Julie & Julia (2009) reparamos também numa certa falta de personalidade. Culpa de estas personagens serem reconhecidas e altamente vincadas? Certamente que sim, mas falta-lhe também um maior arrojo e personalidade nestes trabalhos. Meryl Streep é perfeita na imitação que faz de Margaret Thatcher, nos trejeitos, na postura, na forma de falar. Mas não deixa de ser isso: uma imitação. Especialmente uma que se beneficia e muito de um grande trabalho de maquilhagem (que permitiu uma nomeação a Mark Coulier e J. Roy Helland e que a transfigura fisicamente, deixando a actriz perdida dentro de uma personagem. Não deixa de ser curioso que precisamente devido a essa falta de personalidade que quem realmente se destaca no papel da Dama de Ferro é a jovem actriz Alexandra Roach, que surge nos momentos em que seguimos uma jovem Margaret Thatcher e que foi infelizmente ignorada nesta corrida aos prémios. Este é um trabalho promissor e carismático por parte da actriz, que não podendo ser comparável ao de uma veterana, não deve ser de forma alguma menosprezado. Jim Broadbent mantém a elevada qualidade dos seus desempenhos, a que já nos habituou.
The Iron Lady é uma tentativa frustrada de repetir algo semelhante a The Queen (2006). Mas nem o filme nem o desempenho da actriz (muito por culpa de tudo o resto) o conseguem, trazendo-nos uma obra vazia e sem grande interesse.
A estreia de A Dama de Ferro não deixa de ser oportuna quando pensamos no caos económico que a Europa atravessa e a que o Reino Unido não é imune. Teoricamente é pertinente explorar a história da mulher que tirou o país da maior recessão do século, mas infelizmente o filme não tira partido desse sentido de oportunidade, originando aqui uma biopic preguiçosa , que se acha importante apenas por ter à sua frente uma actriz como Meryl Streep. É um problema que se começa a querer avistar como um padrão quando nos lembramos da dramaturga Phyllida Lloyd como realizadora de Mamma Mia! (2008) e que agora regressa aos grandes ecrãs com uma segunda longa-metragem que em nada tenta reflectir nos erros passados.
O filme é uma visão superficial e pouco político sobre Margaret Thatcher, que tampouco tenta manifestar-se como apoiante ou não da ex-primeira ministra britânica nem simplesmente dar a margem ao público para que seja este a decidir. Especialmente porque além da imprecisão histórica, o filme foca-se especialmente numa narrativa de fundo onde seguimos uma Margaret Thatcher já fora dos holofotes da política e apresentada como uma mulher idosa, demente e com alucinações. E se nos primeiros cinco minutos de filme achamos uma visão interessante, não deixa de se tornar cansativo, especialmente quando se apoia maioritariamente no recurso dos flashbacks para contar a história (em muitos casos particularmente omissa). Isto revela da parte de Phyllida Lloyd uma incapacidade de contar uma história coerente sem recurso a esses subterfúgios e clichés (além dos flashbacks, usa também muitas imagens de arquivo - que não sendo uma solução desinteressante - não se coaduna com a de uma biopic que foge ao lado histórico e se foca no lado emocional). A verdade é que o argumento também não ajuda, sendo uma pena vindo da promissora Abi Morgan, decidindo focar-se mais no lado feminista da história ao mesmo tempo que não assume um sentido específico da história: perde-se entre um filme político e histórico ou entre um drama emocional, por vezes num tom ligeiro. Já para não falar do final atroz e que em nada se coaduna com a mensagem que tenta passar ao longo do filme.
A nível de desempenho, é impossível criticar o trabalho de Meryl Streep. Aquele desempenho que marca a sua décima sétima nomeação aos Óscares permite uma identificação com a dedicação que a actriz tem trazido aos seus trabalhos. É obviamente um trabalho praticamente perfeito. E isso é inegável. O problema é que observando este trabalho comparativamente com o de Julie & Julia (2009) reparamos também numa certa falta de personalidade. Culpa de estas personagens serem reconhecidas e altamente vincadas? Certamente que sim, mas falta-lhe também um maior arrojo e personalidade nestes trabalhos. Meryl Streep é perfeita na imitação que faz de Margaret Thatcher, nos trejeitos, na postura, na forma de falar. Mas não deixa de ser isso: uma imitação. Especialmente uma que se beneficia e muito de um grande trabalho de maquilhagem (que permitiu uma nomeação a Mark Coulier e J. Roy Helland e que a transfigura fisicamente, deixando a actriz perdida dentro de uma personagem. Não deixa de ser curioso que precisamente devido a essa falta de personalidade que quem realmente se destaca no papel da Dama de Ferro é a jovem actriz Alexandra Roach, que surge nos momentos em que seguimos uma jovem Margaret Thatcher e que foi infelizmente ignorada nesta corrida aos prémios. Este é um trabalho promissor e carismático por parte da actriz, que não podendo ser comparável ao de uma veterana, não deve ser de forma alguma menosprezado. Jim Broadbent mantém a elevada qualidade dos seus desempenhos, a que já nos habituou.
The Iron Lady é uma tentativa frustrada de repetir algo semelhante a The Queen (2006). Mas nem o filme nem o desempenho da actriz (muito por culpa de tudo o resto) o conseguem, trazendo-nos uma obra vazia e sem grande interesse.
Classificação:
Parece que vou ter que diminuir radicalmente minhas expectativas...
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