Realização: Miguel Gomes
Argumento: Miguel Gomes e Mariana Ricardo
Houvesse dúvidas do talento e capacidades de Miguel Gomes elas estariam aqui dissipadas. Depois do incompreendido A Cara Que Mereces (2004) e do reconhecido Aquele Querido Mês de Agosto (2008), em Tabu o cineasta português atinge uma maturidade interessante. E vai daí esta obra não se afasta muito da filmografia do realizador. A musicalidade como transversal aos seus trabalhos que remonta já das suas primeiras curtas-metragens enquanto comédias musicais e o imaginário, trazido logo numa fase inicial quando Aurora descreve o sonho com macacos que a levou àquele casino. A musicalidade que está sempre presente não só através do que nos chega da Mario's Band (bela cena ao som de uma mágica versão de Be My Baby), mas também dos diálogos da primeira parte e da narração da segunda. Imaginário aquele que percorre todo o filme, belamente filmado e cheio de evocações inspiradas ao cinema, cinema de F. W. Murnau, por exemplo, que está presente não só no nome da protagonista (Aurora como em Sunrise, de 1927) ou no título do filme (Tabu como em Tabu, de 1931), mas também na sua estrutura dividida em capítulos e na beleza estilizada deste cinema silencioso. Esta beleza que tem tanto de prosaico como de poético é profundamente comovente numa obra que cresce também numa deslumbrante direcção de actores (absolutamente fabulosas estas Teresa Madruga e Laura Soveral e mágica esta química de Ana Moreira e Carloto Cotta).
E se a primeira parte é magnífica por aquela Pilar católica e "boazinha", engrandecida por Teresa Madruga (como lhe falhou o prémio em Berlim?) e por toda a ironia que é também ela transversal à obra de Miguel Gomes, a segunda parte é realmente o Paraíso que antecedeu ao sufixo "perdido" da primeira. Uma marcante fotografia a preto e branco de Rui Poças, um magnífico trabalho de som que, mesmo num período "mudo" da narrativa, é pontuado com as canções e com os sons da selva. E depois aquela perspectiva colonial e exótica que evoca o cinema hollywoodesco ou a narração documental (tal como aparece no início do filme e que empresta o mote à história do crocodilo) mas também o imaginário colectivo português. Magnífico. Magnífica obra que tem tanto de clássico como de inovador.
E se a primeira parte é magnífica por aquela Pilar católica e "boazinha", engrandecida por Teresa Madruga (como lhe falhou o prémio em Berlim?) e por toda a ironia que é também ela transversal à obra de Miguel Gomes, a segunda parte é realmente o Paraíso que antecedeu ao sufixo "perdido" da primeira. Uma marcante fotografia a preto e branco de Rui Poças, um magnífico trabalho de som que, mesmo num período "mudo" da narrativa, é pontuado com as canções e com os sons da selva. E depois aquela perspectiva colonial e exótica que evoca o cinema hollywoodesco ou a narração documental (tal como aparece no início do filme e que empresta o mote à história do crocodilo) mas também o imaginário colectivo português. Magnífico. Magnífica obra que tem tanto de clássico como de inovador.
Há algo de assombroso no cinema de Miguel Gomes. Cinema com alma, perdoem-me o cliché. Como o crocodilo. Aquela testemunha - que tal como nós, espectadores - assiste silenciosa e melancolicamente a este belo romance trágico no sopé do monte Tabu.
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