Título original: [REC]³ Génesis
Realização: Paco Plaza
Argumento: Paco Plaza, Luiso Berdejo e David Gallart
Elenco: Leticia Dolera, Javier Botet e Diego Martín
Quanto a mim aconteceu logo ao primeiro tomo mas agora creio que é definitivo e não argumentável: a saga [REC] está acabada.
O truque com que sustentavam os filmes esgotou-se de tal maneira que têm as próprias personagens de atirar ao chão a câmara com que o homem contratado para registar o casamento se propõe mostrar ao mundo o que ali está a acontecer.
Até esse ponto, em que a saga admite finalmente a sua limitação, temos de aturar uns desesperantes vinte minutos de filmagem em câmara subjectiva sobre um casamento desinteressante – para o que vem depois (e chega atrasado para manter o público interessado) e em geral.
Vinte minutos que parecem não ter outro objectivo senão afirmar a pertença deste filme ao conjunto mas que deverão levar a que se questione – mais uma vez para uns, finalmente para outros – o processo de composição do(s) filme(s) quer quer como found footage quer como live cam falham em sustentar a lógica do conceito aplicado – se é que algum conceito foi definido convenientemente.
Curioso neste período só a abordagem do argumento ao cinema vérité e à inspiração de Dziga Vertov ou Jean Renoir.
Colocados na boca do operador de câmara de serviço – armado de uma steadicam – as referências devem ter querido servir alguma ironia, embora pareça ter sido apontada aos críticos de [REC] mais do que ao próprio filme.
Isso torna a ideia num erro e, adicionando a isso a falta de tom com que as referências são usadas, leva a que a ironia soe a pomposa afirmação intelectual.
O filme acaba por fazer desses vinte minutos e da cinefilia ténue uma pobre forma de não dizer nada sobre si próprio ou sobre o que definia os filmes anteriores. O súbito desaparecimento desse cinema verité já faz pouca mossa ao público mas fá-lo ao próprio filme.
Sem os seus truques de sustos fáceis, o resto do filme não fará ninguém “pular na cadeira”, exibindo-se como um filme de zombies banal.
Ao lado do que o género já mostrou desde que George Romero lhe pegou, o filme não tem nada de novo ou interessante para mostrar ou afirmar.
Mesmo a possível escapatória em direcção ao humor nacionalista é desgraçada com uma clara falta de talento para o fazer funcionar. Isto se o humor potencial tiver sido intencional, o que as figuras de um Dom Quixote e um Sancho Pança atiçados contra os zombies parecem fazer crer que sim.
Visto que nem o humor nem o terror definem o tom do filme há que tentar encontrar algo que o filme proporcione – se não a todo o público, pelo menos aos fiéis da série.
Se era apenas para andar a brincar com um conceito de mulher forte definida pela perna ao léu e a motosserra na mão, então tivessem dedicado o filme à violência dessa personagem e a nada mais.
Desengane-se quem esperar que o Génesis do título significa que se dão indicações sobre a origem deste mal. A sequela em paralelo dos outros filmes pouco mais faz do que divertir-se em torno de um foco secundário do vírus cuja descoberta deverá ser consequência do que se encontrou no prédio que servia de cenário aos filmes anteriores.
Tirando a insistência nos motivos religiosos como causa – e talvez fim – do que se está a passar, o filme não contribui em nada para a criação de uma união interna.
Aliás, estou em crer que uma análise mais detalhada até acabaria por demonstrar uma coerência desboroada ao final de mais este filme.
Mas tal análise obrigaria a que houvesse interesse acrescido e levaria a reconhecer a Paco Plaza (e Jaume Balagueró) a formação de um corpo de obra que [REC] não é.
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