segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Aguenta-te aos 40!, por Tiago Ramos


Título original: This is 40 (2012)
Realização: Judd Apatow
Argumento: Judd Apatow
Elenco: Paul Rudd, Leslie Mann, Maude Apatow, Iris Apatow, Jason Segel, Megan Fox, Charlyne Yi, Tim Bagley, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Lena Dunham, Albert Brooks e John Lithgow

A presença de Judd Apatow no mundo do cinema (quem diz cinema, diz também televisão) e a sua influência a nível da comédia contemporânea está longe de ser consensual. Não obstante a sua aclamação e a sua notória presença como produtor, argumentista e realização em produções de comédia que se tornam sucessos de bilheteira (algumas até da crítica), chega até a ser compreensível a rápida precipitação para o juízo de valor contra os seus reais méritos. Mas a verdade é que parte do seu sucesso é consequência da sua capacidade em aproximar a sua escrita do espectador: atende às suas expectativas e tenta subvertê-las simultaneamente, mas acima de tudo, tem como objectivo aproximar as histórias da realidade. Ou seja, fazer com que o espectador se identifique com aquilo que vê, mesmo que em ambientes aparentemente exagerados. Aquilo que Judd Apatow faz com Aguenta-te aos 40! é precisamente isso. A família que vemos ali retratada (a mesma que tinha uma fugaz aparição em outro dos seus competentes trabalhos, Knocked Up) é a família Apatow, mas com Paul Rudd no seu papel. Leslie Mann, a sua mulher e Iris e Maude Apatow, as suas filhas. Ou seja, uma família real. No seus quarenta e seis anos de idade, ele sabe o que é virar os quarenta. E aquilo que escreve sente-se no espectador como real.

Claro que o sucesso de uma comédia tem que ver também com a forma como se atendem às expectativas do seu público e ir de encontro aos seus habituais gostos. Daí que existe a habitual dose de exagero (irrealista ou não, já é outra questão), o humor por vezes brejeiro, a comédia física e sexual. Faz parte. (E ao fazê-lo, convenhamos, fá-lo como ninguém). E tem também a habitual presença dos seus amigos de outros projectos como Jason Segel, Chris O'Dowd, Lena Dunham e Melissa McCarthy. São pequenos detalhes que fazem parte de manter a máquina da propaganda bem oleada, mas cuja presença também não afecta o filme como um todo. Não deixa de ser curioso, no entanto, que apesar de ser essa comédia que o faz ser notado, é precisamente nos domínios mais ambíguos, onde entra o verdadeiro drama - a tal realidade - que este Aguenta-te aos 40! mais beneficia. Daí também que estamos perante um objecto mais maduro em comparação com o seu cinema, com momentos extremamente realistas e verdadeiramente comoventes, a assemelhar-se a uma verdadeira família, à nossa família, enquanto espectadores. Leslie Mann encarna esses momentos dramáticos como ninguém: agarra a comédia de uma forma notável, mas os seus momentos de dúvida fazem-nos acreditar e comover. Uma interpretação notável e que, sem quaisquer pudores, afirmo que é uma das melhores do ano.

A escrita de Judd Apatow raras vezes esteve assim tão aguçada, quase instintiva, aproximada da realidade, mas também habilmente generosa e perceptiva do que é o casamento ou a vida a dois (ou a quatro). Sabe o que são conflitos entre irmãos, conhece a angústia adolescente, a perspicácia infantil, as dúvidas e problemas dos adultos. Conhece as relações familiares e retrata-as de forma genuína. Frequentemente divertido, mas também emocionalmente preciso, o que faz dele um filme cheio de coração e consciência. A apontar-lhe defeitos sobretudo a longa duração, que resulta numa dose de auto-indulgência elevada, numa repetição por vezes cansativa dos mesmos temas e conflitos ou a existência de cenas ou personagens facilmente dispensáveis. Talvez até por vezes uma noção desajustada da nossa realidade, com uma família a queixar-se dos problemas económicos, a viver numa mansão e com dois carros. Mas depois a recompensa é grande e a surpresa maior, porque um filme como Aguenta-te aos 40! pode ser facilmente esquecido ou menosprezado dentre os títulos que chegam semanalmente em catadupa aos nossos cinemas. E apesar do preconceito de muitos, é um filme que merece mais atenção do que poderiam prever.


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