sábado, 23 de março de 2013

Um Caso Real, por Tiago Ramos


Título original: En kongelig affære (2012)
Realização: Nikolaj Arcel
Argumento: Rasmus Heisterberg e Nikolaj Arcel
Elenco: Alicia Vikander, Mads Mikkelsen e Mikkel Boe Følsgaard

A apreciação específica de um filme está muitas vezes relacionada com a do género global em que se insere. No meu caso pessoal, devo admitir que o vulgarmente conhecido como drama histórico ou de época, vem para mim associado de imediato com uma conotação negativa, fruto de talvez um desinteresse generalizado, mas também um cansaço da formatação em que o género se acabou por desenvolver. Daí que a minha surpresa perante este Um Caso Real seja grande, mesmo que, curiosamente, o filme não fuja particularmente à tendência do género e assente o seu argumento num grau elevado de previsibilidade. O que há a destacar aqui então? Um dos maiores factores é a sua reconstituição de época impecável, tecnicamente magistral: rodeia-se de um incrível design de produção e uma magnífica direcção de fotografia, a envergonhar muitas outras grandes produções. Algo comum no género, mas que aqui torna-se absolutamente inegável.

Mas mais que isso há um trio de protagonistas que são o tour de force da história. O de maior impacto é Mikkel Boe Følsgaard, num papel de rei louco, motivo principal para toda a sequência narrativa, que consegue convencer numa interpretação intensa e seguramente uma das melhores do ano. Já Alicia Vikander (que revelou os seus ares de graça e talento em Anna Karenina) comprova que é seguramente uma das jovens actrizes da sua geração a mais ter em conta, enquanto que a sua química com (o sempre magnífico) Mads Mikkelsen é também notada. Depois o argumento, mesmo que previsível, consegue lidar bem com a factualidade e ficção, sendo portanto impecável nessa recriação dos primórdios da Dinamarca como uma sociedade pioneira e avançada a nível científico e cultural, mas não negando também a existência de um melodrama de meandros políticos e revolucionários. Nem é particularmente arrojado, ousado ou inventivo, mas Um Caso Real não deixa de ser um fantástico filme, de uma grande produção que não menospreza os efeitos positivos da escolha de um elenco que consiga suportar a narrativa durante todo o tempo da acção. E mesmo que numa fase inicial, perca bastante tempo nessa recriação de época e que para muitos possa parecer excessiva (como é muitas vezes para mim), torna-se facilmente um delicado e intenso romance proibido de contornos políticos, que merece o mérito que lhe é apresentado, pela envolvência que permite.


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