sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Semana em Crítica - 12 de Setembro

Blue Jasmine (2013), de Woody Allen


Um regresso glorioso aos Estados Unidos, Woody Allen abdica da estrutura de cartão-postal para trazer um dos seus filmes mais actuais de sempre. Escândalos financeiros, crise, depressão e o mundo real, numa narrativa que apenas sai ligeiramente prejudicada pelo uso dos flashbacks, que originam uma quebra de ritmo. Mas se Blue Jasmine é um dos mais interessantes (melhores, talvez) filmes de Woody Allen dos últimos anos isso deve-se sobretudo à interpretação de Cate Blanchett. O filme é ela. Uma composição soberba, única e impressionante, naquela que poderá ser a personagem mais complexa do cinema de Allen. Jasmine não é um seu alter-ego, não é uma neurótica. É uma mulher real, profundamente doente, com um esgotamento, uma depressão, uma profunda crise. O seu desempenho suga o espectador e centraliza em si toda a história e personagens (destacando-se também em essencial a performance de Sally Hawkins), com uma intensidade esmagadora. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos

Woody Allen vai dando filmes ao seu público com uma regularidade impressionante - e, provavelmente, excessiva - que faz com que este se abrace a qualquer amostra de um pouco mais de valor para tentar uma nova aclamação. Blue Jasmine aparece libertando o público dessa necessidade, um filme para o cânone que pacifica expectativas e torna mais fácil a década de filmes europeus e insatisfatórios do realizador. Um filme que é transversal a uma visão da sociedade que toca os seus altos e baixos modernos, mas também une as linhas do sucesso passado americano com a derrocada moderna. Um jogo de máscaras e percepções - o que é tema estranho ao realizador - através do retrato de uma mulher a braços com os problemas do estatuto social que revelam a problemática da identidade mal resolvida (sobretudo à base de medicação e cocktails): "O que quero fazer da minha vida?". Todos sabemos o quão bem Allen escreve e dirige as mulheres nos seus filmes, mesmo se Cate Blanchett parece não precisar de indicações algumas para construir um papel absolutamente imaculado e comandar um elenco para um estado de graça uno que há muito não se fazia sentir. Perante isso, uma ou outra entrada mais previsível do argumento torna-se apenas caso para apreciar que não estamos perante algo perfeito e que podemos continuar a exigir um pouco mais de Woody Allen, já para o ano que vem. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela½ Carlos Antunes



Kon-Tiki - A Viagem Impossível (2012), de Joachim Rønning e Espen Sandberg


De surpreendentes valores de produção para uma longa-metragem europeia, Kon-Tiki segue o mesmo tipo de padrão dos blockbusters de Hollywood (compreendendo-se facilmente a sua excelente receptividade no mercado norte-americano). De elevado cuidado técnico e com uma história coerente e cativante, não deixa de ser também ligeiramente simplista na história e na forma como a conta. Não é também menos por isso que deixa de ser um bom entretenimento, com a tensão adequada, trazendo de volta ao cinema a velha história do Homem versus Natureza. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos



O Império do Amor (2013), de Michael Winterbottom


Há um extraordinário sentido de intimidade em torno de uma figura que poderia prometer uma exploração dos excessos mais picantes da mistura constante dos seus negócios e da sua vida privada. Há uma noção de espectáculo que é um convite à partilha de emoções pessoais que, no caso de Paul Raymond, deixam de ser simuladas para serem demasiado reais. Um trabalho que lembrará, certamente, o que primeiro chamou a atenção para o realizaror, 24 Hour Party People, não sendo indiferente que ambos façam uma caracterização dos universos britânicos periféricos à medida que chegam à ribalta; e que tenham no seu centro uma figura que vem revolucionar os costumes britânicos, a cargo de um excepcional Steve Coogan. Mas este The Look of Love (título da música, o que constituía uma boa oportunidade para, como se tem tornado mais habitual, não traduzirem o título) tem uma maturidade e um equilíbiro que faltava àquele e, perante o que tem sido o percurso do realizador, não me sobram dúvidas de que estamos perante o melhor filme de Michael Winterbottom. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes

Não é o biopic perfeito para um homem tão característico e controverso como Paul Raymond (fica mesmo longe disso). Mas a verdade é que o trabalho de Winterbottom consegue, pelo menos, captar de uma forma interessante o ambiente londrino dos anos 60 e beneficiar-se em muito de uma excelente composição de Steve Coogan. É bom entretenimento, mas deixa-nos um sentimento de desilusão quando nos lembramos do início auspicioso, filmado a preto e branco e em estilo documental. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



A Lista dos... Prazeres! (2013), de Maggie Carey


Regresso às comédias adolescentes sobre sexo, ambientado inclusive nos anos 90, A Lista dos... Prazeres! tem a vantagem de pelo menos focar-se num ponto de vista feminino, ao invés do habitual domínio do olhar masculino (e frequentemente machista). Inconveniente e por vezes até incómodo, nem sempre consegue acertar no tom certo da comédia (mesmo para o género), mas a realização segura de Maggie Carey, assim como a divertida presença de Aubrey Plaza, garantem pelo menos entretenimento satisfatório. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



Ataque ao Poder (2013), de Roland Emmerich


Enquanto se leva com alguma ironia, Roland Emmerich safa um filme de acção que, até ou sobretudo por vir na sequência de um filme quase igual, dá uma sensação de repetição de fórmulas já demasiado conhecidas. O filme dá mesmo a sensação de se dever chamar Die Hard in the White House tentando fazer lembrar o original de John McTiernan mas acabando do lado das sequelas medíocres já deste século. Sobretudo no momento em que o terceiro acto se inicia e o argumento se transforma num chorrilho de exageros, asneiras e absurdos que só estão a tentar despachar as coisas antes que se passe o limite máximo de uma hora e quarenta e cinco minutos. Nunca poderia ser tão mau quanto os três filmes anteriores de Emmerich, mas não é muito melhor. Realmente curioso só o facto de Channing Tatum estar cada vez mais capaz de sustentar um filme e de Jamie Foxx parecer ridículo demais. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes





Deve-se apresentar como nota que Ronaldo, o Bárbaro - apesar de ser animação - é também um filme para adultos, de teor sexual, e deve por isso ser visto como tal (e sobretudo longe dos olhares moralistas que falam em mau-gosto na sua divulgação promocional). Atendendo ao público-alvo, o filme é na verdade (e surpreendentemente) bem-sucedido nas suas intenções. Permite alguma diversão, com algumas boas piadas e bem integradas no folclore nórdico. Está repleto de conotações sexuais frequentes, é verdade, mas também não são piores que muitas das presentes em dezenas de comédias norte-americanas (supostamente mais familiares) que nos chegam aos cinemas com grande frequência. Estrutura clássica narrativa, o filme segue o arco habitual de superação do protagonista, com uma animação de relativa qualidade, se bem que abaixo dos padrões que as grandes produções animadas nos habituaram. Uma estrelaUma estrela Tiago Ramos





Um thriller sobre espionagem industrial entre empresas de tecnologia de ponta que além de uns rodriguinhos habituais faz pouco mais para usar a seu favor as possibilidades ainda apenas imaginadas das novas gerações de telemóveis. Ou para explorar o confronto entre Gary Oldman e Harrison Ford, que quase não têm cenas juntos. Tudo se resume a um filme sem chama, feito por obrigação e funcionalismo, que mais dia menos dia vai parar ao caixote de filmes usados vezes sem conta para tapar buracos nos horários das televisões. Nem veículo para Liam Hemsworth consegue ser. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes

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