domingo, 10 de novembro de 2013

Semana em Crítica - 31 de Outubro

Dá Tempo ao Tempo (2013), de Richard Curtis


Se os trailers deste filme tivessem coragem, teriam escondido o par romântico de Domhnall Gleeson. Tudo em nome de uma cena de coragem, um diálogo - magnífico e longe de único - de conquista romântica totalmente passado num daqueles restaurantes em que se come no escuro. Richard Curtis apagou a imagem por um momento para melhor deixar que a sua escrita se entranhe no público. Espera-se que o público reconheça que a escrita impecável é aquilo que faz valer os filmes de Curtis, que se arrisca a brincar com as viagens no tempo e se safa com isso sem prejudicar a história de amor que é o cerne de tudo. Claro que se pode ficar um pouco insatisfeito com a manipulação emocional final, mas pelo menos ficamos com o único flashback sobre a vida inteira do protagonista plenamente justificado. Curtis sabe, mais ou menos declaradamente, mexer com as emoções humanas comuns a todos os que se sentam na sala enquanto proporciona ao elenco, que encaixa perfeitamente nas personagens - como já acontecia no seu filme anterior, The Boat that Rocked -, diálogos que qualquer actor gostaria de proferir. Em paralelo consegue introduzir uma crítica ao mundo teatral inglês sem que tal pareça desajustado. A qualidade sólida a obra é um feito de um grande argumentista e cada vez melhor realizador. Não importa o sucesso deste filme, para um público generalista Richard Curtis continuará a ser conhecido como o autor - argumentista e realizador - de Love Actually. Mas a cada novo fillme ele tem dado passos claros em direcção a um filme perfeito (dentro do estilo que criou para si mesmo). O desejo de que ele lá chegue depressa ou que tenha ainda muitas tentativas pela frente equiparam-se. Entretanto verifica-se que About Time é o seu melhor filme, venha o próximo! Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes



Carrie (2013), de Kimberly Peirce


Os remakes são cada vez mais formas de vender uma mesma história às novas gerações que não conseguem assistir aos efeitos datados que um filme com quarenta anos. Gerações que não compreendem que existe uma História do Cinema e que, por isso, nunca julgarão este filme em comparação com o seu predecessor. Talvez essas gerações gostem desta segunda encenação da história de Stephen King, que mantem um controlo dramático durante o máximo tempo possível mas centrado nos terríveis limites da experiência de liceu, o que remete para segundo plano a influência da religiosidade materna. Essa tentativa de inserir o sobrenatural num realismo da "América profunda" vai funcionando porque não corre riscos. Kimberly Peirce não consegue fazer do filme uma progressão natural em direcção ao espectáculo de sangue final. Por isso, quando aí se chega, o efeito é de uma enorme falsidade, com Carrie a surgir em cisão com o que foi até aí, uma personagem de uma crueldade que só se equipara ao inesperado domínio dos seus poderes. Essa falsidade, que derruba o pouco que o filme tinha conseguido erguer até então, sai reforçada pelo CGI exagerado mas patético - por falta de qualidade para sustentar o que pretende representar - e pela estilização do sangue ao ponto de servir de maquilhagem. O original de Brian De Palma, sem ser um filme de excepção, era um espectáculo impositivo com duas excelentes interpretações. Esta nova versão, apesar de convocar as duas actrizes que logicamente poderiam substituir Sissy Spacek e Piper Laurie, não passa de um filme que não deixará memória depois de sair das salas. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes



Thor: O Mundo das Trevas (2013), de Alan Taylor


Depois de um confrangedor início de mais uma franchise Marvel, a sequela começa a encontrar um estilo próprio que poderá ser o adequado à personagem, mesmo se ainda tem de se livrar de uma série de vícios de produção que minam o potencial que o filme tem. Parte fantasia heróica e parte Space OperaThor: The Dark World atinge o seu maior potencial sempre que o Deus do Trovão é deixado entre iguais - sejam os seus pares de Asgard ou os seus inimigos de potencial equiparável. Nesses momentos, temos direito a ver todo o potencial da figura super-heróica em causa ou a presenciar o único conjunto de interpretações verdadeiramente preocupadas com as suas personagens: Tom Hiddleston, Anthony Hopkins e Rene Russo. O tempo passado na Terra implica um tipo de acção mais banal entre os filmes de super-heróis, o de um grande cenário arrasado; um dos tais vícios da produção que impedem que a cena - cheia de portais interdimensionais - se distinga por completo do terceiro acto de uns The Avengers ou Iron Man. O tempo passado na Terra também implica a insistência num alívio cómico sempre forçado e fora de tempo, do qual bastará referir a cena do Metropolitano a meio da batalha para demonstrar o argumento. Pior só mesmo o facto da ligação terrena de Thor implicar a permanência da parte falhada do elenco para a qual os papéis escritos estão ao nível do ridículo: Natalie Portman e Kat Dennings dão prestações de bradar ao céus e é só por um enorme talento e uma impressionante dignidade que Stellan Skarsgård escapa ao mesmo destino. Infelizmente o prosseguimento da saga implica a dependência da personagem de Natalie Portman, o que balizará Thor ainda mais ao nível das outras sagas do mesmo estúdio, o que é uma pena quando neste filme a Marvel parecia ter começado a saber rir de si mesma naquela breve aparição do Capitão América. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes



Dragão (2011), de Peter Chan


Algumas das particularidades do universo ficcional de Wu xia não se traduzem de forma ideal para o público ocidental, mas esta combinação de WuxiaNoir e filme de detectives tem uma modulação do seu ritmo que lhe permite saltar entre géneros sem deixar o espectador pelo caminho. Os muitos géneros, mesmo dramáticos, mantém-se coesos numa desmultiplicação que levaria a classificar o filme como incerto no seu foco. O caos é contido e direccionado de tal maneira que as cenas de acção, sendo o elemento mais expressivo do filme, deixam espaços para um confronto quase íntimo entre as personagens de Donnie Yen e Takeshi Kaneshiro, em interpretações de enorme domínio sem que isso diminua a expressividade implicada nelas. Mais um exemplo de como há mercados melhores por explorar no momento de "preencher um ecrã", ainda capazes de proporcionar surpresas de qualidade. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Carlos Antunes

No seu título original recebeu o nome do género (histórias sobre artes marciais), mas não pode estar limitado a isso, até porque na verdade não é o melhor espécimen do tipo. Mas ainda assim é uma agradável surpresa, sempre diluída em géneros, sendo o mais interessante, o policial: logo na sequência inicial, o filme incrementa o mistério e o interesse do espectador (até porque aquela personagem do detective perceptivo é bastante cativante, apesar de alguma colagem ao tipo de detective que inunda as séries televisivas actuais). Se o desempenho de Takeshi Kaneshiro é por isso bastante notável, o do seu co-protagonista, Donnie Yen, não é o menos, já que traz em si a capacidade de, com poucas palavras, carregar muito significado com as suas expressões faciais. As cenas de acção são bem coreografadas, se bem que não as mais elaboradas dos muitos filmes wuxia que por aí aparecem, mas acima de tudo, bastante credíveis e mais aproximadas daquilo que consideramos o limite humano. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos


O Super Coala (2012), de Kyung Ho Lee


Sempre que estreia um filme fora do tradicional eixo da animação internacional (habitualmente dominado pelas grandes produtoras norte-americanas), parece-me a mim um sinal positivo para a indústria da animação e do seu curioso desenvolvimento. Embora tenhamos que admitir, e este é só um aparte, que muitas destas estreias que nos chegam por parte das distribuidoras nacionais, vêm de uma vontade de fazer um dinheiro fácil, até porque mesmo alguns dos mais limitados filmes de animação, costumam ter receitas de bilheteira bastante rentáveis. Contudo, não deixa de ser curiosa esta descentralização do mundo da animação e aquilo que no início do ano nos chegava da improvável África do Sul (com Zambezia), chega-nos agora da Coreia do Sul, com este O Super Coala. A animação é bastante competente, se bem que lhe falta aquele nível de detalhe mais próximo da excelência, como outros filmes com maiores orçamentos conseguem.  O filme é uma daquelas simpáticas histórias de aventuras, com um herói improvável, marginal e gerado a partir de um equívoco, que tem no final uma oportunidade de redenção. A típica mensagem de valores e por isso apto para toda a família, mas que interessará mais um público mais novo. Uma estrelaUma estrela Tiago Ramos

1 comentário:

  1. "Carrie" (2013): 4*

    "Carrie" é um filme bastante bom e ofereceu-nos um desempenho bastante bom de Chloë Grace Moretz.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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