Em Ida, as personagens deambulam, falam e param nas extremidades da tela. (Quase) sempre cortadas pouco acima do pescoço, com muito espaço vazio acima do rosto, isoladas no plano, expressando o isolamento e a sua escala ínfima perante a paisagem ou as marcas do tempo de guerra. E o filme é muito sobre isso: a presença do ser humano (e especificamente daquelas duas belíssimas personagens femininas, tão contrastantes entre si), a sua busca por uma resposta, a vivência das memórias perante a História, por mais devastadora que ela seja. É um filme sobre a nostalgia, a perda e a dor de um passado que deixa marcas - aqui sobre os fantasmas de uma Polónia após a queda de Hitler.
Filmado em Academy ratio e num suave preto e branco, a direcção de fotografia nada deixa indiferente, nem nada está ali por acaso. É o registo de um período histórico, mas sobretudo de um grande peso emocional naquelas personagens complexas (soberbas interpretações de Agata Kulesza e Agata Trzebuchowska). É a história de duas visões tão opostas do mundo e o efeito que elas têm nas suas vidas: é o contraste entre a inocência e a paz e a dor e a inexistência de um propósito. É a história da libertação através das experiências da vida, um misto entre road movie e coming of age, no olhar da personagem homónima ao filme. Wanda tenta introduzir Ida ao mundo secular: «Como podes viver uma vida de sacríficio, se não sabes o que sacrificas?». A sua descoberta está dependente do seu confronto com o passado da sua família, explorando assim o esqueleto no armário do próprio realizador e da própria Polónia. Mas mais que essas dores históricas, o filme - um dos mais elegantes dos últimos tempos - traz a visão de um realizador, evocando por vezes um cinema de Béla Tarr, que opta por não dar respostas (elas existem, mas apenas nos múltiplos olhares do espectador), preferindo dar entoação e ênfase ao rosto e acções das suas personagens.
Aparentemente de narrativa simples, Ida traz a complexidade no olhar das actrizes, nas composições belíssimas que cria, na forma profundamente genuína e calma com que lida com um passado de terror. Um dos mais elegantes filmes dos últimos anos, Ida é um portento, um fantasma que teima em assombrar, mesmo dias depois.
Filmado em Academy ratio e num suave preto e branco, a direcção de fotografia nada deixa indiferente, nem nada está ali por acaso. É o registo de um período histórico, mas sobretudo de um grande peso emocional naquelas personagens complexas (soberbas interpretações de Agata Kulesza e Agata Trzebuchowska). É a história de duas visões tão opostas do mundo e o efeito que elas têm nas suas vidas: é o contraste entre a inocência e a paz e a dor e a inexistência de um propósito. É a história da libertação através das experiências da vida, um misto entre road movie e coming of age, no olhar da personagem homónima ao filme. Wanda tenta introduzir Ida ao mundo secular: «Como podes viver uma vida de sacríficio, se não sabes o que sacrificas?». A sua descoberta está dependente do seu confronto com o passado da sua família, explorando assim o esqueleto no armário do próprio realizador e da própria Polónia. Mas mais que essas dores históricas, o filme - um dos mais elegantes dos últimos tempos - traz a visão de um realizador, evocando por vezes um cinema de Béla Tarr, que opta por não dar respostas (elas existem, mas apenas nos múltiplos olhares do espectador), preferindo dar entoação e ênfase ao rosto e acções das suas personagens.
Aparentemente de narrativa simples, Ida traz a complexidade no olhar das actrizes, nas composições belíssimas que cria, na forma profundamente genuína e calma com que lida com um passado de terror. Um dos mais elegantes filmes dos últimos anos, Ida é um portento, um fantasma que teima em assombrar, mesmo dias depois.
Classificação:
Sem comentários:
Enviar um comentário