quarta-feira, 8 de abril de 2015

Coração de Leão, por Carlos Antunes



Título original: Leijonasydän
Realização: 
Argumento: 
Elenco: 


Não é apenas o inferno que está preenchido com boas intenções. Coração de Leão vem encher o cinema com mais um pouco delas.
Aqui a de demonstrar que o amor pode tudo, até converter o mais convicto dos nacionalistas Finlandeses, líder de um grupo neo-nazi violento.
Trata-se de parolismo e não de ingenuidade aquilo que guia o filme e que exige que se acredite não só no pressuposto acima mas que uma mulher com um filho mulato dá uma ansiosa segunda oportunidade a um racista por conta de um amor à primeira vista.
Se ela estava crente em que o conseguiria moldar para ser o pai ideal para o seu filho não sabemos pois a caracterização dela termina em "bela mãe solteira a lutar como empregada de mesa para sustentar um filho".
Que o pai do miúdo tenha dinheiro suficiente para um carro topo de gama parece não ter qualquer ligação à construção desta personagem. Não que isso interesse, pois ela vai permanecer desaparecida durante a maioria do que se segue...
O que se segue é Teppo a passar o tempo a tomar conta do filho da mulher que ama enquanto o tenta esconder do grupo que lidera.
Rhamadhani vai tentar provocá-lo primeiro e matá-lo depois. Quando essa estratégia coloca em risco a própria mãe, entretanto grávida, uma trégua é estabelecida entre ambos e a relação torna-se mesmo de confiança quando Teppo defende Rhamadhani de uns bullies.
Antes que o filme se possa transformar no espectro de como se desenvolve uma relação entre dois "inimigos" agora dispostos a encontrarem terreno comum devido aos laços que os unem a uma mesma mulher eis que, qual telenovela a precisar de ser apimentada, o irmão de Teppo e o pai de Rhamadhani se cruzam.
O primeiro é um racista ainda mais convicto do que o irmão que desertou porque o exército não se manteve puro. O segundo é um bem sucedido empresário de ascendência africana que alcançou um posto de relevo no exército antes de se mudar para a Suécia.
A cena serve para demonstrar - em resumo acelerado - a inversão do lugar-comum no confronto entre estratos sociais, graus de inteligência e capacidades para o sucesso, todas elas com resultados desfavoráveis para o racista.
Interpretado por Jasper Pääkkönen que deixa boas impressões apesar - ou por causa?- de um papel demasiado esquemático, esse racista tem um diálogo que deixa a ideia de ser o seu ódio um mecanismo de defesa contra a própria filiação não totalmente ariana, o que o tornaria num tema mais interessante do que o próprio irmão.
Só que esse é mais um elemento lançado para o molho da confusão moralista do filme e que é logo resolvido à lei da bomba para não ter de ser desenvolvido mais.
Se as restantes interpretações fossem mais do que aceitáveis - e não são! - poderia ser que o filme assomasse com alguma dignidade entre tantos lugares-comuns mal desenvolvidos.
Pelo contrário, o filme termina com um acto final de boa vontade para com Teppo da parte do gangue que pouco antes rejeitara o líder.
Num final acto de fraternidade eles usam uma lixa eléctrica para lhe proporcionar uma vida sem o peso dos seus antigos pecados, arrancando-lhe do peito a tatuagem do Leão da Finlândia.
O final exactamente contrário ao de Inglourious Basterds, que é ainda mais difícil de engolir do que tudo o resto até aí impingido.
Fosse este filme uma produção televisiva portuguesa ou americana e não haveria pejo em classificá-lo como risível. Como se trata de uma produção Finlandesa com honras de estreia em sala talvez houvesse hesitação em condená-lo com a severidade que merece.
Não deve o público deixar-se enganar por um produto tão medíocre que nem mostra esforço mínimo para ter um momento de originalidade, um traço de desafio moral ou sequer um foco.




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