"You know that I'm greedy for love."
A adolescência é difícil. A puberdade manifesta-se, as hormonas tomam conta do físico e, sem que nada
possa ser feito, alteram para sempre o psicológico. Sim, o plano de existência superior, metafísico,
transcendente, aquele que atribuímos à personalidade, à cognição, ao zodíaco, enfim, a tudo menos às
hormonas, é inquestionavelmente moldado (também) por elas.
Mas e depois, quando se entra na idade adulta? Temos tudo resolvido ou a vida cada vez se complica mais?
Please Like Me aborda a vida de Josh, um jovem de 20 anos, que, pelo que se percebe, não estuda nem
trabalha, mantém uma relação com Claire, é o melhor amigo de Tom e não gosta da namorada deste, Niamh.
Abruptamente, Claire tem a epifania que Josh é gay, acaba com ele e destrói o seu pequeno mundo de
tudo simples.
Ancorada numa formula simples, mas (extremamente) eficaz de comédia moderna, sem faixas de riso e sem
situações inconcebíveis ao comum mortal, Please Like Me explora a redescoberta de Josh da sua vida,
do ambiente que o rodeia, dos seus sentimentos em relação ao divórcio dos pais e tentativas de suícidio
da mãe, e mais que tudo, das suas próprias necessidades de aceitação.
É uma insuportavelmente leve e adequada metáfora da condição humana mais elementar: a vida em grupo.
Josh revela-se um jovem emocionalmente fragilizado, infantil por vezes, e ingénuo ao efeito que a sua
frieza e distância criam nos que o rodeiam - insegurança e exclusão.
Assim, na sua busca pelo seu lugar, Josh acaba por forçar todos a repensarem os seus, desde Tom (que
não consegue terminar com Niamh), a Geoffrey (o "namorado" demasiado bem resolvido de Josh), até Rose
e Adam.
Apesar da sua orientação cómica, Please Like Me também lida com temas sensiveis, como a depressão
nos mais velhos, a redefinição da orientação sexual e o processo de coming out - uma das cenas mais
despretensiosas é a de Geoffrey a verbalizar que Josh é gay para a sua família, algo que o próprio
ainda não havia feito.
Assim, Please Like Me é mais uma série que lida com a descoberta do eu - em todas as vertentes - e da
sua influência no ambiente que o rodeia.
A expressão de liberdade em Please Like Me é audivelmente muda, pois os limites de cada um são
a cada momento manobrados para encaixar o outro, sem que seja necessário denotá-lo - assume-se
esse fenómeno como natural.
Please Like Me (2013)
ABC 2 / Netflix
Temporada 1