quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Coraline e a Porta Secreta (V.P. 3D Digital), por Tiago Ramos



Título original: Coraline (2009)
Realização: Henry Selick
Argumento: Henry Selick e Neil Gaiman
Vozes: Dakota Fanning, Teri Hatcher, Jennifer Saunders, Dawn French e Keith David
Versão portuguesa: Nuno Markl (tradução), Ana Bola, Carla Garcia, João Teixeira, José Neves, Maria Rueff, Nuno Lopes e Paula Fonseca (vozes).

Tem cuidado com o que desejas.


Depois de The Nightmare Before Christmas (1993), onde Henry Selick trabalhou com Tim Burton, utilizando a técnica stop-motion, dificilmente lhe surgiria outro projecto no campo da animação tão aliciante. Mas surgiu. Coraline e a Porta Secreta é uma adaptação do conto original de Neil Gaiman, que escreveu também a banda-desenhada Sandman. Seria um projecto quase megalómano, mas depois da antestreia ficamos com a ideia que Selick está de parabéns.

Coraline e a Porta Secreta não é necessariamente um filme de animação para crianças. É sim, um filme para toda a família e maioritariamente para crianças inteligentes. Logo no genérico inicial compreendemos que, tecnicamente Coraline é irrepreensível. Tudo está devidamente montado e criado, tudo está no lugar certo. O argumento não se infantilizou e manteve os elementos negros e sombrios, sem amenizar imagens para não assustar os mais pequenos, mantendo inalterado o conceito da obra original. A história é complexa, divertida, sombria e inteligente. E já há bastante tempo que não surgia algo assim.

Outro ponto positivo na obra é o facto de transportar uma moral, sem ser moralista. Coraline é um filme sobre relações entre pais e filhos e a necessidade de comunicação entre ambas as partes. De uma forma muito subtil, o argumento vai levando a mensagem a todos, de os pais ouvirem e compreenderem os filhos e de os filhos, também fazerem um esforço para compreender os pais. A porta secreta de Coraline é sobretudo um espaço de evasão, onde aparentemente, apesar de paralelo, tudo é melhor. Especialmente, porque à primeira vista, a atenção dos pais perante ela não é tanta como a desejada.



Os cenários do filme estão fantásticos, repletos de elementos mais coloridos, como também mais sombrios. A banda sonora, por seu lado, a cargo da banda They Might Be Giants, combina perfeitamente com o lado romântico do terror, onde o filme assenta, apesar de a dada altura me parecer repetitiva.

As personagens de Coraline e a Porta Secreta são também bastante interessantes e peculiares, de onde destaco essencialmente o Mr. Bobinsky, Miss Spink e Miss Forcible, sendo estas últimas um retrato genial de duas senhoras da outrora alta sociedade britânica.



A nível da tradução portuguesa, Nuno Markl fez mais uma vez um trabalho com uma mestria invejável. O facto de Coraline ser uma fábula, ajudou. Afinal as fábulas e os mitos são universais. Contudo, Markl não caiu na tentação de tornar o filme mais infantil, como algumas vezes caem no erro as equipas de tradução e dobragem. O elenco de vozes em português é também ele digno de um rigoroso aplauso. Especialmente as pronúncias, estão perfeitas. Nuno Lopes, no papel de Mr. Bobinsky é extremamente curioso, mas Ana Bola e Maria Rueff atingem o ponto alto da excelência na dobragem das divertidíssimas Miss Spink e Miss Forcible, que asseguram dos momentos mais divertidos da trama.

Coraline e a Porta Secreta é uma obra-prima da actualidade, repleta de componentes noir, mas que transportam um sentido familiar e de maior e inteligência e complexidade do que se julga à partida.
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