quinta-feira, 19 de março de 2009

Gran Torino, por Tiago Ramos

Título Original: Gran Torino (2008)
Realização: Clint Eastwood
Argumento: Nick Schenk e Dave Johannson
Elenco: Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Geraldine Hughes e John Carroll Lynch

Clint Eastwood é Mr. Kowalski. Clint Eastwood é aquele homem pertencente à velha guarda dos costumes. Do Cinema. Do verdadeiro Cinema que já pouco se faz por Hollywood. Inegavelmente, o realizador e actor é dos poucos capazes de criar um clássico moderno, como ninguém.



Gran Torino é desses clássicos modernos. Nunca fui grande seguidor do realizador, apesar de reconhecer o seu bom trabalho na área do Cinema. Mas este filme, é uma pequena obra-prima, que não se compreende como foi afastada dos Óscares deste ano.

A fórmula de Eastwood mantém-se a mesma. A austeridade, a simplicidade, as temáticas dramáticas, os dramas humanos, os contrastes sociais, a crítica às grandes instituições. E sempre a figura central, de contornos inconfundíveis, postura firme, visão semicerrada tal como a personagem Christine Collins, em Changeling. Gran Torino é mais que uma reflexão sobre a velhice. É o retrato de uma raiva incontida, de um senso de humor despretensioso, do significado da vida e da morte. O filme vive à base dos enquadramentos simples, da exibição perfeccionista dos pormenores onde nada surge por acaso.

Além do argumento e dos diálogos com a temática do revivalismo do passado da Guerra na Coreia, dos sentimentos racistas e xenófobos, Gran Torino vive com um soberbo trabalho fotográfico, com um excelente jogo de luz e sombra (evidenciado pelos posters do filme) corrosivo e marcante.



A história respira Clint Eastwood. Atrás e à frente da câmara, com a cartilha de normas rígidas a que já nos habituou. Sobretudo é uma história de uma amizade improvável entre duas personagens opostas e que, aparentemente, seriam inconciliáveis. Mesmo quando Mr. Kowalski rosna a quem odeia, mesmo quando abomina a decadência da juventude actual, nota-se que redescobre o significado da vida e da tolerância.

Pecado seria também não falar da banda sonora do filme, que apesar de ser reduzida ao máximo, como é habitual nos filmes do realizador, surge em momentos chave de Gran Torino, contribuindo para exponenciar a beleza da película. Destaque ainda para a sequência final, onde Clint Eastwood nos brinda como uma composição escrita e cantada por ele.

A interpretação de Clint Eastwood não vale um Óscar, mas é denotadora de como um actor deve trabalhar uma personagem. Mas o maior defeito de Gran Torino e que lhe impossibilita atingir um estatuto maior tem que ver com o erro de casting. O elenco secundário tem más interpretações ou abaixo do desejado. Bee Vang, enquanto Thao tem um péssimo desempenho: inconsistente, incoerente e inexpressivo. Já Ahney Her tem uma personagem interessante e mordaz, mas cuja interpretação poderia ser muito melhor.



Apesar desse pequeno erro, Gran Torino é um clássico contemporâneo, que merece acima de tudo um reconhecimento maior, que não chegou a obter.

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