domingo, 8 de março de 2009

Homem no arame, por Carlos Antunes


Título Original: Man on Wire
Realização: James Marsh

É surpreendente que um documentário cuja base é da mais comum estrutura BBCiana - as entrevistas com os protagonistas e a reconstituição de estúdio agregada às imagens de época - seja também tão "fresco".
Na verdade há uma imensa dose de cinema neste que é, afinal de contas, um épico, uma aventura, um heist movie (não por acaso a travessia foi calendarizada como le coup)!
Do sonho de um homem, a única e injustificável razão para o feito de caminhar num fio entre as duas torres do WTC, cria-se um fascinante e sentido épico aventuroso que não procura um qualquer zeitgeist explicativo ou uma ponte reflexiva sobre a condição presente daquelas duas torres.


Usando das melhores ferramentas cinematográficas, guardando com oportunismo a montagem dos momentos-chave e adensando, com a música e com a inventividade da recriação dos eventos, a envolvência dos espectadores, o filme suga-nos para o seu interior.
Sim, nós sabemos o resultado final deste empreendimento, mas isso não impede que nos vejamos suspensos na sua concretização.
O ilícito, o perigo, as tensões e a eminente ameaça de fracasso mentêm-nos em suspenso.
De tal forma este documentário é intenso que mais me parecia estar a ver uma reinvenção do Film Noir ao invés de um documentário.
De tal forma que não hesitaria em colocá-lo lado a lado com The Killing ou The Asphalt Jungle!


Das entrevistas que se juntam, o destaque tem de ir, como não poderia deixar de ser, para Philippe Petit, não só por ser o aventureiro com um sonho, mas porque a energia, vivacidade e detalhe com que fala de tudo o que aconteceu acentua o sentido de abstracção do espectador naquela aventura.
Ele é quase um entertainer, um contista de excepção.
Ao lado da sua perspectiva, as dos que estiveram envolvidos com ele, acentuando o fascínio pela personagem de Philippe e pela participação no pequeno acto ilícito, em segredo, planeando e operando (lá está...) o golpe que havia de ficar na história.
Mas dos amigos que já o acompanhavam anteriormente há uma emoção em torrente que de certa forma ainda nos deixa uma pequena culpa.


Claro que fica muito por saber, muito por ser elucidado.
As entrevistas estão montadas mas não intersectadas, não se compreende o que verdadeiramente aconteceu àquelas amizades, o resultado prático que veio depois.
Mas de certa forma isso está para lá do objectivo de Man on Wire.
Afinal de contas o que importa é aquele momento, a concretização do sonho que surgiu a Philippe mal viu o anúncio da construção daquelas torres, ainda elas eram apenas um plano no papel!
E isso é magnífico!


1 comentário:

  1. assisti o filme hoje por inspiração....e fiquei curiosa o que aconteceu entre eles...acho que foi muito profundo...pois o companheiro dele se emociona no final e nada diz.....

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