quinta-feira, 11 de junho de 2009

Tyson, por Carlos Antunes


Título original: Tyson
Realização: James Toback
Argumento: James Toback
Elenco: Mike Tyson, Trevor Berbick, William Cayton e Don King

Tyson é um longo solilóquio, a cada momento confessional, violento, terno ou patético.
E tal só é permitido a uma personagem que, mesmo que nada importe ao espectador, é reconhecível e importante o suficiente para justificar tal processo.


Mike Tyson ataca alguns dos que o rodearam, defende-se e enternece-se com a memória dos que perdeu pelo caminho.
Espelha-se como um herói patético, que se deixou levar e que errou, mas que também por isso se colocou sem sombra de dúvida na rota da memória colectiva.


Mas os momentos em que Tyson é mais frágil, em que se revela mais humano, são momentos à saída do ringue.
Momentos em que se penitencia com os seus fãs ou em que limpa o sangue da cara do adversário revelam mais da complexidade idiossincrásica deste herói típico dos filmes de Toback.
Esses pequenos momentos são mais intensos e directos do que todo o discurso do próprio boxer.
E é um verdadeiro erro que Toback não tenha conseguido ver isso.


Toback não consegue mais do que deixar correr a película como num documentário vulgar onde Tyson tudo domina.
Não há uma réplica à altura do realizador que se limita a montar excertos de época pelo meio do discurso.
Falta a discussão, mesmo que o documentário não queira ser nem um pouco objectivo, haveria outras vozes a escutar.
A do próprio Toback, sobretudo, desafiando em vez de permanecer rendido a Tyson.



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