domingo, 28 de junho de 2009

Coco avant Chanel, por Tiago Ramos



Título Original: Coco avant Chanel (2009)
Realização: Anne Fontaine
Argumento: Edmonde Charles-Roux e Anne Fontaine
Elenco: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde , Alessandro Nivola e Marie Gillain

Se espera grande encanto, cenários portentosos e figurinos de assombro, Coco avant Chanel não é o filme para si. O título é, porém, o mais adequado. Gabrielle aka Coco antes de Chanel, que lhe deu o nome imortal. Denuncia, portanto, as intenções desta biopic, género sempre demasiado ingrato: condensar em duas horas uma vida mais que completa e intensa é uma tarefa de todo megalómana.



Coco avant Chanel revela-se cedo uma obra simples, despojada de detalhes portentosos, com uma elegância sucinta. Gabrielle Chanel é também assim revelada, com uma distância calculada do público, com algum despojo, sem grande emoção latente, de certa forma vulgar. Esta é a suposta verdadeira biografia, que Coco Chanel tentou ocultar a vida inteira, baseada no livro de Edmonde Charles-Roux, antiga editora da Vogue francesa. Acompanhamos assim a sua presença em cabarets, cantando para ganhar a vida, com intuito de singrar na carreira, de viver no luxo, uma certa atitude sem escrúpulos, mas inteligente. E se Coco avant Chanel acaba por se tornar é inteligente.

Não é uma obra perfeita e perante as expectativas que se criaram, não é nada. Tem até um ligeiro toque de desilusão. Mas talvez a própria Coco Chanel teria gostado deste tom cruel, frio, calculista e amoral do filme. Porque talvez seja esse tom que confere a esta biopic uma ponderada dose de ousadia e despojo, que não se veria se tivesse sido criada por terras de Hollywood. Percebemos o imenso sentido avant garde na estética de Coco e muitas das modas que por hoje temos, mas o maior problema e que pode afastar o público é precisamente o distanciamento que Anne Fontaine cria quando adaptou e realizou o filme. Não há, praticamente em nenhum momento, algo que nos una emocionalmente à personagem que dá nome à obra, não há a comoção que entoava numa canção de cabaret, não há nada por vezes, há vazio e isso penaliza-a.



Audrey Tatou para sempre ficará ligada a
Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (2001) e apesar de ter de lutar, a cada seu novo projecto, contra tal lembrança, este será com certeza o seu trabalho mais forte e bem conseguido. A actriz consegue segurar a firmeza e ousadia da personagem, convence na dureza do rosto que tão bem demonstra. Alessandro Nivola tem uma participação menor, mas também interessante. Pena que de facto, Anne Fontaine não tenha permitido, ao espectador, perceber em que medida os acontecimentos sentimentais entre "Boy" e Coco Chanel afectaram a vida posterior da protagonista, tendo o assunto sido tratado de uma forma bastante frívola.

Mas o maior ponto de destaque do filme vai para a excelente banda sonora da autoria de Alexandre Desplat, que imprime toda a energia e dramatismo que se esperava (e exigia) para esta biopic. Um trabalho exímio e sem defeitos. Pena que não se possa dizer o mesmo deste Coco avant Chanel, porque quando lhe começamos a sentir o gosto, o seu fim interpõe-se entre nós.

Classificação:



2 comentários:

  1. Puxa, que decepção, estava a esperar uma biopic investigando a fase mais intensa da vida dela... Então esse filme é como o DIARIOS DE MOTOCICLETA.

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  2. Gustavo,
    É isso mesmo. O próprio nome o indica. A fase mais intensa da sua vida só vemos um vislumbre no fim, porque a intenção desta biopic é revelar as suas origens.

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