sábado, 29 de agosto de 2009

Duplo Amor, por Carlos Antunes



Título original: Two Lovers
Realização: James Gray
Argumento: James Gray e Ric Menello
Elenco: Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw

Leonard é uma personagem um pouco triste e um pouco cómica.
Um suicida falhado de regresso à casa dos pais que não consegue aprender a ser independente ou a desistir por completo.
Mas Leonard parece subitamente transformar-se numa outra pessoa, num homem ainda dividido e inseguro mas que parece ter um talento para manter um jogo de duplicidade com a mulher que o quer ajudar e que parece certa para ele e com a mulher por quem ele se sente atraído mas que é um caso tão complicado como ele próprio.



Com tal enredo, Two Lovers podia cair para o lado da comédia romântica ou para o lado do verdadeiro melodrama.
Mas o filme insiste em permanecer em indefinição, procurando seguir as suas personagens, enquadrá-las sem as obrigar a escolher um caminho.
Não fosse o tom, certamente perfeito, de Joaquin Phoenix e o filme cairia no puro desinteresse à medida que esse efeito tentado cai na redundância.
Mas Phoenix consegue equilibrar a ténue história que o mantém como uma figura dúbia, ora triste, ora cómica, ora desprezível.



O realizador, acentuando essa ideia de seguir as suas personagens, filmá-las quase em liberdade, tenta alguns artifícios de mise en scène.
Mas esses artifícios parecem eles próprios resquícios de uma ideia inconcretizável, como se filmar as personagens como ele filma fosse, afinal, falta de sabedoria para fazer com elas um filme perfeitamente definido.


E logo Two Lovers se encaminha depois para um previsível final, um final que parece ser a única saída possível.
Uma saída que é como um contentamento descontente, a escapatória possível para uma solidão que não se desvanece.
Nessa previsibilidade, Two Lovers acaba por se render um pouco a um certo dramatismo de noveleta, um destino previamente escrito a que não se poderia fugir.
Esse é o desfecho errado, que rende o filme à sua condição inicial, um pequeno triângulo amoroso que fica a meio caminho de uma verdadeira concretização.


1 comentário:

  1. «Mas esses artifícios parecem eles próprios resquícios de uma ideia inconcretizável, como se filmar as personagens como ele filma fosse, afinal, falta de sabedoria para fazer com elas um filme perfeitamente definido.»

    Esta frase diz tudo.

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