quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Last Days - Últimos Dias, por Tiago Ramos



Título original: Last Days (2005)
Realização: Gus Van Sant
Argumento: Gus Van Sant
Elenco: Michael Pitt, Lukas Haas, Asia Argento, Scott Patrick Green e Nicole Vicius

O último filme da Trilogia da Morte de Gus Van Sant é o que mais se distancia do estilo original do cineasta. A unir a Gerry (2002) e Elephant (2003), tem apenas o factor diversidade e o fim das personagens ou até o mergulho completo na conceptualidade.



Enquanto que em Elephant, a câmara aproximava-se das acções de forma adiantada, em Last Days - Últimos Dias a câmara chega atrasada. Quando chegamos a Blake, o que tínhamos para ver já passou. Já não há mais acções, já não há mais diálogos ou monólogos, só existe um olhar complacente e passivo.

Gus Van Sant tenta reeinventar a figura grunge de Kurt Cobain, através de Blake, um artista multi-facetado, mas a viver os seus últimos dias. Aquilo que vemos não é propaganda contra os efeitos nefastos das drogas, do álcool ou de um estilo de vida desregrado. Aquilo que vemos não são as suas origens, o que se passou que o conduziu àquele estado. Não, o que vemos já é um ponto sem retorno, limitamo-nos a assistir à figura neurótica e marginalizada de um homem. O que vemos é a depressão, é a inevitável aceitação da morte.



Last Days - Últimos Dias é um retrato marginal de uma grande figura do rock. Segue um personagem perdido, seguido ao pormenor, colando-se à sua intimidade, mesmo quando não há nada a acontecer. Mas essa aproximação ao interior do personagem não é feito como normalmente, mas sim aos recuos. Aqui a câmara de Gus Van Sant distancia-se, os planos recuam e saem em retirada - veja-se o demorado plano long dolly - dando a noção de uma personagem inatingível.

Michael Pitt é o elemento mais importante de toda a película. Depois de uma grande prestação em The Dreamers (2003), de Bernardo Bertolucci, nota-se a evolução no trabalho do actor. Um papel difícil, abstracto, conceptual e profundo, ricamente trabalhado pelo jovem.



Esta não é uma biografia. É simplesmente um poema conceptual. O que se torna interessante é que num retrato exterior de Blake se chega como nunca antes ao âmago e ao interior de uma personagem do cineasta. Chegamos a compartilhar o tédio e a letargia com Blake, num lirismo fascinante para uma película. Gus Van Sant oferece um filme único, sobre a efemeridade e despojo.

Classificação:



4 comentários:

  1. Belo e espontâneo poema de sons e de imagens, Last Days - Últimos Dias canta a alienação do indivíduo sobre o fundo imaculado da Natureza. Canta a solidão do ser humano, decorrente da sua perdição existencial.

    Que obra de arte sublime.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  2. Ainda não consegui ver este filme até ao fim, vou dar-lhe uma nova oportunidade. Gostava que falassem sobre o Fight Club de 1999, se for possivel.
    Obrigado

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  3. Não consegui gostar deste filme, Tiago.
    Achei extremamente arrastado e sem muito atrativo.
    Gerry eu não, mas vou pôr na lista e Elefante é dos meus filmes favoritos dessa década.

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  4. Roberto F. A. Simões,
    É o processo inverso ao da busca do sentido da vida. É aceitar a morte, é a alienação total. Um dos filmes de Gus Van Sant que mais gostei.

    RBranco,
    Eu já tinha visto há uns tempos na RTP2, mas revi agora e gostei bastante. Quanto ao pedido vai certamente ser feita uma crítica. Aliás, comprei recentemente uma edição especial do Fight Club precisamente para o rever.

    Anónimo,
    Achei Gerry muito mais arrastado que Last Days. Também gostei bastante de Elephant, mas prefiro Paranoid Park e Milk.

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