quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Kika, por Carlos Antunes

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Título original: Kika
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Verónica Forqué, Peter Coyote, Victoria Abril, Àlex Casanovas e Rossy de Palma

Kika é kitsch, um kitsch cheio de fatos exuberantes como num circo sadomasoquista, cheio de loucura sexualmente explícita e cheio de um humor negro duro e violento.
Kika é tresloucado e sem limites e é isso que o torna bom.

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Há um actor pornográfico tornado violador que incomoda porque nunca mais acaba aquilo a que veio. Kika diz-lhe "Violação é uma coisa, mas isto está a levar o dia todo!".
Há uma produtora televisiva vestida nos mais bizarros preparos possíveis que procura crimes na sua motorizada para os filmar em directo com a câmara que usa à cabeça. Podia perfeitamente ser um dos membros favoritos da trupe de Ed Wood!
É tudo histérico ao ponto do ridículo, mas nem por isso deixa de ser tão duro como a vida.
O humor negro no ponto certo, a vulgaridade pessoal tornada pública perante a inocência de Kika.

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Subitamente a comédia radical transforma-se num policial acelerado, explosivo e rapidíssimo.
Parece a violenta rebentação do que ficou para trás, preparada para nos enrodilhar e afogar nos acontecimentos. Algo menos do que isso e seríamos injustiçados pelo filme.
O filme só podia erguer-se a tais píncaros, depois de tanta energia que ficara para trás. Abrandar seria destruí-lo.
Com tudo isto, se há filme que Kika me faz lembrar é Faster, Pussycat! Kill! Kill!, até pelo conjunto de mulheres à beira da explosão.

http://history.sffs.org/i/films/1994/Kika.jpg

Há um ponto em que Kika arrisca não fazer sentido, em que os saltos de lógica parecem querer dizer que não interessa história completa, antes interessa o efeito de libertação e de energia com que o filme leva tudo à frente.
É um risco grande de que Almodóvar sai vitorioso. A loucura de Kika é, afinal, suficiente para dar sentido à loucura de que acabámos de rir, se a tal estivermos dispostos.



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6 comentários:

  1. Não vi o filme. É um dos poucos que me faltou ver.
    Pelos viste gostaste ;)

    P.S. - O que significa "I'm gay" no meio da crítica?

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  2. Respondendo ao teu PS, parece que uma das imagens descambou nisto...

    Quanto ao Almodóvar, é 50-50.
    Por cada filme bom tem um mau (contas por alto).
    Há gajos muito mais interessantes a filmar em Espanha, mas a este calhou a taluda.

    Abraço!

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  3. Ainda há uns dias falava com dois amigos precisamente deste filme, que levantou alguma polémica na altura... Eu ainda não vi, mas quando vir também não será a tempo desta iniciativa.
    Mas concordo quando o Carlos fala nos 50-50. Pedro Almodóvar é um realizador que tem tanto de bom como de mau.

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  4. Ainda não vi ABRAÇOS DESFEITOS, mas creio poder afimar que desde EM CARNE VIVA a carreira e qualidade de Almodóvar sofreu uma reviravolta. Amadureceu e está um grande artista do cinema.

    Roberto Simões
    CINEROAD

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  5. Roberto, descordo profundamente.
    Continua a ser um autor de altos e baixos.
    Desde Fala com Ela que o seu cinema não me anima nem me desafia.

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  6. Errata: Onde se lês dfescordo deve ler-se discordo, obviamente!

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