sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Negros Hábitos, por Tiago Ramos



Título original: Entre tinieblas (1983)
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Cristina Sánchez Pascual, Julieta Serrano, Laura Cepeda, Carmen Maura e Cecilia Roth

Entre tinieblas convence menos do que à partida poderíamos supor. Num estilo extremamente sensacionalista, o espanhol Pedro Almodóvar traz uma comédia irreverente e provavelmente um dos argumentos mais non-sense já escritos por ele.



Sabida a sua pouca estima pela religião, especialmente a católica, o realizador dá a conhecer uma outra faceta de um grupo de freiras, com as suas vidas duplas e negros hábitos. Numa vida de convento, mostram-se outras dependências que não apenas as de Deus. Estreado no início da década de 80, o que teríamos sobretudo a destacar deste Negros Hábitos será a irreverência e originalidade do autor em retratar de uma forma assim tão descabida, mas ao mesmo tempo tão humana e realista a vida de um grupo de freiras, que antes de o serem, são mulheres com defeitos e fraquezas.

O estilo do realizador evidencia-se desde logo, com um contraste divertido entre a cor negra dos hábitos das freiras e as cores garridas dos seus costumes e dependências. Uma junção improvável de personagens exuberantes que surpreendem numa mistura de terços, rosários, drogas e livros eróticos. A estética de Pedro Almodóvar é a habitual: os tons vivos, os ângulos arriscados e exactos e o surrealismo espreitam entre cada cena do filme.



O problema é que no meio de tanto surrealismo e despropósitos, perde-se o sentido ao filme, colocando Negros Hábitos num capricho anti-Vaticano de Pedro Almodóvar. Essa noção penaliza o filme, fazendo-o perder o espírito de comédia irreverente. Consta uma reacção de conhecimento da precariedade humana e da noção de pecado sem remorsos que a dada altura cansa.

Mais uma vez o tema central do realizador são as mulheres. As suas musas. Com muito de auto-biográfico, com muito egocentrismo que faz de Pedro Almodóvar um realizador que se auto-cita frequentemente, mas também que o torna num dos mais bem sucedidos além fronteiras. Cristina Sánchez Pascual, Julieta Serrano, Cecilia Roth, Carmen Maura entre outras são constantes na filmografia do realizador. São referências das mulheres da sua vida, são excelentes actrizes que dão cor às suas obras.



Mas e infelizmente, no meio disto tudo, o que temos a dizer de Negros Hábitos é sobretudo um tiro ao lado do que era esperado, uma irreverência sem sentido, que faz deste filme um dos menos agradáveis do realizador.

Classificação:



2 comentários:

  1. Pois, estamos de acordo ;) Muita parra e pouca uva. Nada a ver com alguns dos seus últimos títulos...

    E hoje vi o MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS. Prenunciar-me-ei em breve ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  2. Roberto Simões,
    Eu ainda estou na fase das obras iniciais, mas este desiludiu-me bastante. Esse que visto também foi um deles.

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