Longe da Terra Queimada, por Carlos Antunes

Título original: The Burning Plain
Realização: Guillermo Arriaga
Argumento: Guillermo Arriaga

Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger e Joaquim de Almeida

Antes Guillermo Arriaga escrevia mosaicos que eram retratos de uma vila chamada Terra, de como nenhum de nós é verdadeiramente independente do mais distante ser humano.
Agora Guillermo Arriaga escreve mosaicos fechados sobre si próprios, espirais de tempo reduzidas a uma mão cheia de personagens.

Guillermo Arriaga circunscreveu as suas personagens a uma redoma onde os seus dramas e falhas vão rachando o pequeníssimo universo em que se inserem.
As personagens parecem herdar os pecados e os sofrimentos das próprias famílias e retomá-los, repeti-los como um castigo auto-infligido, uma purga do sofrimento que lhes sobrou do passado.

Apesar do eventual final expectante, das possibilidades que Guillermo Arriaga quis sugerir para as suas personagens - que podem finalmente abrir-se ao mundo e obterem a redenção ou que, por outro lado, estarão tão desesperados agora como em todos os momentos em que tiveram de tomar decisões reais - a redoma em que as colocou acaba por reduzir tudo ao melodrama televisivo, de noveleta.
Personagens comandadas por um destino que tende a repetir-se de geração em geração e que tende a reduzi-los a executores dramáticos da teia previsível.

A primeira longa-metragem de Guillermo Arriaga tomou um universo mais pequeno, certamente mais fácil de dominar, mas também por isso menos interessante e menos rico.
A realização seca, descarnada, pouco mais que ilustrativa também não ajuda.
É um esforço capaz mas, infelizmente, falhado, a que certamente acorreu um elenco tão rico pela repercussão que o nome do autor ainda tinha como argumentista de Iñárritu e Tommy Lee Jones.