Cadillac Records, por Carlos Antunes

Título original: Cadillac Records
Realização: Darnell Martin
Argumento: Darnell Martin
Elenco: Adrien Brody, Jeffrey Wright, Emmanuelle Chriqui, Mos Def e Eamonn Walker
Editora: Sony Pictures

Cadillac Records é sobre a música, sobre a paixão declarada de alguma da melhor música criada no século XX.
E isso nota-se, é um deleite seguir o percurso desta música e dos seus protagonistas, pela forma como as suas personalidades se expressam na música e como a música se repercute nas suas acções.

Claro que, por acréscimo, esta música fala da Era em que foi feita, da conturbação social e racial, dos vicíos fáceis que se apresentavam aos músicos, do sentido de família com que todos tinham de viver e das relações mais ou menos conturbadas que se geraram entre vários egos e várias paixões.
Mas não são momentos feitos para justificarem a música que se apresenta, são antes momentos que poderíamos intuir daquela música, uma música que nos conta algumas das histórias que depois vemos.

Darnell Martin, apesar de ter apenas experiência televisiva, tem uma sensibilidade que é quase perfeita.
É certo que é o seu material e que, por isso, ninguém saberia melhor como o tratar.
Mas a sua inteligência cinematográfica é impecável. Ele sabe perfeitamente como dosear cada necessidade do filme, como controlar as cenas e os seus actores até ao mínimo detalhe.

Claro que o excelente elenco ajuda.
Há muitos nomes que se distinguem, sobretudo Adrien Brody e Jeffrey Wright - que faz um Muddy Waters impecável.
Mas, pessoalmente, é Eamonn Walker que mais fica na memória, com o seu Howlin' Wolf, uma personagem secundária mas com uma personalidade extraordinária e uma voz absolutamente inesquecível.

Cadillac Records é um dos grandes biopics musicais dos últimos anos, sem rival na qualidade e variedade da música apresentada.
Infelizmente não chegou às salas, mas a boa edição em DVD compensa essa falha, até porque seria uma pena privar os portugueses desta bela memória da música dos anos 1950 e deste belo filme.

Extras

Comentário do realizador - É um autor a confessar-se, a falar sobre tudo aquilo que o filme que gerou é capaz, a analisar contra si próprio as suas opções e qualidades. Muito interessante.

Cenas eliminadas - Apesar da falta de contexto, são úteis e pode-se fazer uma interessante leitura das opções de montagem.

Playing Chess: The making of Cadillac Records - Longo e rico making of, repleto de informações e testemunhos bem equilibrados e interessados em discutir o filme e a música, não apenas em promover o filme.

Once upon a Blues: Cadillac Records by design - Extenso documentário sobre as complexas opções de design, dos tecidos aos padrões de fundo. Um trabalho riquíssimo que serviu a veracidade do filme, embora seja um trabalho quase invisível.