Realização: Lars von Trier
Argumento: Lars von Trier
Elenco: Bryce Dallas Howard, Isaach De Bankolé, Danny Glover e Willem Dafoe
Segunda parte da trilogia EUA - Terra das Oportunidades, Manderlay cria novas questões da parábola que Lars von Trier começou com Dogville (2003). A voz de Deus é a mesma, a mesma narração omnisciente e omnipresente, mas a atitude de Grace mudou. Se em Dogville, víamos uma protagonista ingénua e apesar de tudo, crente na Humanidade; em Manderlay temos uma certa arrogância idealista.
Utilizando a mesma estética de ausência de cenários, o filme não causa tanta estranheza inicial como o seu antecessor. Contudo, assistimos a uma reinvenção da personagem Grace, de uma gélida Nicole Kidman, para uma mais calorosa Bryce Dallas Howard. Essa alteração é propositadamente feita para se notar a evolução da personagem, mas ao mesmo tempo como se torna vítima dos seus próprios ideais e como, de certo modo, ilude o espectador. Inicialmente, encontramo-la com uma doçura enigmática (como que ignorando os eventos anteriores), para depois a vermos crescer no autoritarismo, vaidade e prepotência.
Manderlay é muito mais ligeiro que Dogville. A crítica à sociedade continua, mas é desta vez mais directa no âmago do orgulho americano, usando a temática do racismo e do fim da escravidão. É uma crítica à liberdade superficial, nunca associada à melhoria das condições de vida e uma interessante recordação de passagens bíblicas, de quando os hebreus foram libertados da escravidão do Egipto, mas que se lamuriavam constantemente de falta de condições. É uma visão, ela própria racista, mas muito assente na escravidão cultural em que ainda se vive. É o ponto de vista de Lars von Trier, provavelmente muito mais gratuito que o seu antecessor, mas também mais ingénuo. Não deixa de ser uma visão de um outsider e portanto diferente do real, mas muito mais leve.
Em termos estéticos, a ausência de cenários sente-se de forma diferente. Existe um maior número de adereços e uma menor subtileza dos actores e da própria câmara, na forma como joga com a ausência de divisões, o que diminui (e muito) o filme em impacto emocional. O que o filme ganha em mainstream, perde em fôlego, prejudicando-se quando utiliza uma crítica mais gratuita, delegando a importância das personagens para segundo plano. Isso resulta em uma grande parte do elenco subaproveitado.
É nesse sentido que os maiores destaques são Bryce Dallas Howard, Isaach De Bankolé, Danny Glover. Todos suficientemente fortes para suportar quota parte do filme, mas simultaneamente frágeis para não o agarrarem por todo. Contudo, Lars von Trier sabe distanciar-se do status da figura do actor, conseguindo dar a mesma importância a estes três (se bem que como já foi dito, o restante elenco é acessório).
Manderlay é sobretudo difícil de classificar. Tendo tanto de mau, como de mau. É difícil de comparar com o seu antecessor, por demarcar-se tão fortemente do mesmo. É um filme claramente ambíguo, que não deixa de ser ingénuo, mas também provocador, deliberadamente. É contudo uma continuação da estética única que o realizador revelou ao mundo, deixando o espectador curioso por saber quais as paredes que ele irá derrubar, quando a terceira parte da trilogia vir a luz do dia.
Utilizando a mesma estética de ausência de cenários, o filme não causa tanta estranheza inicial como o seu antecessor. Contudo, assistimos a uma reinvenção da personagem Grace, de uma gélida Nicole Kidman, para uma mais calorosa Bryce Dallas Howard. Essa alteração é propositadamente feita para se notar a evolução da personagem, mas ao mesmo tempo como se torna vítima dos seus próprios ideais e como, de certo modo, ilude o espectador. Inicialmente, encontramo-la com uma doçura enigmática (como que ignorando os eventos anteriores), para depois a vermos crescer no autoritarismo, vaidade e prepotência.
Manderlay é muito mais ligeiro que Dogville. A crítica à sociedade continua, mas é desta vez mais directa no âmago do orgulho americano, usando a temática do racismo e do fim da escravidão. É uma crítica à liberdade superficial, nunca associada à melhoria das condições de vida e uma interessante recordação de passagens bíblicas, de quando os hebreus foram libertados da escravidão do Egipto, mas que se lamuriavam constantemente de falta de condições. É uma visão, ela própria racista, mas muito assente na escravidão cultural em que ainda se vive. É o ponto de vista de Lars von Trier, provavelmente muito mais gratuito que o seu antecessor, mas também mais ingénuo. Não deixa de ser uma visão de um outsider e portanto diferente do real, mas muito mais leve.
Em termos estéticos, a ausência de cenários sente-se de forma diferente. Existe um maior número de adereços e uma menor subtileza dos actores e da própria câmara, na forma como joga com a ausência de divisões, o que diminui (e muito) o filme em impacto emocional. O que o filme ganha em mainstream, perde em fôlego, prejudicando-se quando utiliza uma crítica mais gratuita, delegando a importância das personagens para segundo plano. Isso resulta em uma grande parte do elenco subaproveitado.
É nesse sentido que os maiores destaques são Bryce Dallas Howard, Isaach De Bankolé, Danny Glover. Todos suficientemente fortes para suportar quota parte do filme, mas simultaneamente frágeis para não o agarrarem por todo. Contudo, Lars von Trier sabe distanciar-se do status da figura do actor, conseguindo dar a mesma importância a estes três (se bem que como já foi dito, o restante elenco é acessório).
Manderlay é sobretudo difícil de classificar. Tendo tanto de mau, como de mau. É difícil de comparar com o seu antecessor, por demarcar-se tão fortemente do mesmo. É um filme claramente ambíguo, que não deixa de ser ingénuo, mas também provocador, deliberadamente. É contudo uma continuação da estética única que o realizador revelou ao mundo, deixando o espectador curioso por saber quais as paredes que ele irá derrubar, quando a terceira parte da trilogia vir a luz do dia.
A sensação com que fiquei de quando o vi foi parecida. Achei este um filme menor que o Dogville. Não me pareceu grande coisa apesar de continuarem lá os mesmos ingredientes do anterior, este capitulo resultou num filme fraco.
ResponderEliminarArmPauloFerreira,
ResponderEliminarConcordo contigo, mas também não é um filme tão fraco como dizem...