quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um Lugar Para Viver, por Tiago Ramos



Título original: Away We Go (2009)
Realização: Sam Mendes
Argumento:
Dave Eggers e Vendela Vida

Por Sam Mendes não conseguimos sentir menos que uma profunda admiração. No mesmo ano em que se aventura num drama suburbano dos anos 50 (Revolutionary Road), rapidamente realiza uma comédia indie tipicamente americana. É esta versatilidade que o faz o cineasta interessante que é, além do seu óbvio talento e génio.



Away We Go assenta na fórmula típica do cinema de género indie, como é imediatamente visível pelo poster e todo o trabalho gráfico, que rapidamente nos remete para filmes como Juno (2007). É um road movie recheado de acontecimentos peculiares e personagens-tipo indicadoras de disfunções sociais, bem como da visão do marginal à sociedade, com a única diferença que em Away We Go, o marginal é precisamente aquele que se integra perfeitamente na sociedade. Aqui um casal à espera do primeiro filho procura assentar. Viver uma vida dita normal, comum e em sociedade. Inicia-se assim o tal road movie em meio a casais desconcertantes, em cidades distintas, afastando-se do histerismo patológico e procurando uma visão idílica e romântica do matrimónio e do lar.

Sam Mendes
distancia-se assim da sua visão pessimista da sociedade americana e ocupa-se de uma opinião mais esperançosa acerca das famílias americanas. O problema nesta nova visão prende-se com o distanciamento daquilo que conhecíamos como do autor Sam Mendes. Abandonada a sua estética formal habitual, a sua temática, resulta uma obra singular e única, mas simultaneamente tão comum que poderia ter sido realizada por qualquer outro cineasta. É isso mau? Dificilmente o será. Mas para quem se habituou a uma carga dramática constante, o quotidiano de Away We Go sabe a incompleto. Por outro lado, o rumo que o filme toma - mais sensível - permite observar que Sam Mendes amadureceu a sua forma de ver o mundo e tomou novos caminhos. Tal como as personagens do filme.



Precisamente tais personagens são inteligentemente bem representadas. A escolha do elenco menos óbvia contribui para se sentir a competência do filme. Encontramos actores habitualmente considerados cómicos como protagonistas dramáticos, enquanto que os papéis cómicos secundários ficam para actores que costumam trabalhar com drama. De tal elenco destaca-se Maya Rudolph e John Krasinski, não inexperientes na área, mas desconhecidos. Uma boa surpresa na forma despudorada de abordar o sexo, mas também na química do par improvável, que oscilam entre representações mais dramáticas como tiradas cómicas mais subtis, críticas da forma comodista de viver a vida.

A equipa técnica é diferente da habitual, mas garante uma nova frescura à filmografia do cineasta. Alexi Murdoch com uma banda sonora folk indie, Ellen Kuras (Eternal Sunshine of the Spotless Mind) como director de uma fotografia simples e colorida e Sarah Flack (Dan in Real Life) com uma montagem inteligente, mas despreocupada.



Away We Go é o filme mais singular da filmografia do multifacetado Sam Mendes, deixando-nos na dúvida sobre o rumo que pretende tomar nas próximas obras. Na verdade, este tom despreocupado e sensível acaba por fazer o espectador sentir-se bem, mas se não nos dissessem nunca o saberíamos realizado por Sam Mendes.

Classificação:

Crítica originalmente publicada a 03 de Janeiro de 2010.

4 comentários:

  1. Estou muito curiosa em relação a este filme ;)

    [como sempre, gosto muito de ler as tuas criticas...]

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  2. BLACKBERRY,
    Não é propriamente uma surpresa, mas é uma forma de fugir ao habitual pessimismo do cineasta. E muito obrigada por gostares :)

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  3. BLACKBERRY,
    Não é propriamente uma surpresa, mas é uma forma de fugir ao habitual pessimismo do cineasta. E muito obrigada por gostares :)

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  4. Não é propriamente uma surpresa, mas é uma forma de fugir ao habitual pessimismo do cineasta. E muito obrigada por gostares :)

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