domingo, 14 de fevereiro de 2010

As Canções de Amor, por Tiago Ramos




Uma ode ao Amor. Amor na sua mais pura acepção, na espectacularidade do seu efeito, na intensidade do seu sentimento, na sua descoberta, na sua Partida, na sua Ausência e no seu Retorno. As Canções de Amor é tudo isso. É a sensibilidade de Christophe Honoré no seu auge, na sua visão classicista e que, dentro da nouvelle vague francesa, recupera uma certa tradição de musical francês.



«Todas as canções de amor contam a mesma história: "Há muitas pessoas que te amam...", "Não posso viver sem ti...", "Desculpa Anjo". As Canções de Amor conta também esta história.». Ismael representa a descoberta do Amor. Porque o Amor não tem uma única forma, não é objectivo, nem simples. O Amor de Ismael é repartido, bipartido, tripartido... Tem várias formas, mas simultaneamente é uno. Porque a viagem de Ismael é também a nossa. Não conhecemos o seu início, porque tanto entramos directamente na monotonia da sua relação, nas suas frustrações, no seu cansaço, nas suas discussões e na sua reconciliação. No Amor de Ismael existem duas pessoas: mais que uma divisão, funciona como uma união. O seu Amor é honesto. É invulgarmente genuíno e verdadeiro como nunca antes representado no Cinema.



O Amor de Ismael é livre de convenções, de padrões. Nunca é bizarro, mas sim maduro. Não escolhe géneros nem idades. O Amor de Ismael é livre. Ponto. E se as dúvidas lhe surgem, se sofre é porque também ele sente. E se as dúvidas lhe surgem, se afoga também as mágoas e se cai também em erros pontuais, nunca deixa de Amar. O Amor de Ismael é feliz. Mesmo que, pontualmente, melancólico e sofredor.

Christophe Honoré, depois da consagração alcançada em Dans Paris (2006), arrisca. O clima romântico-social de Paris ajuda a criar uma história real, nunca artificial e sempre sentida. Porque Ismael, Julie, Alice e Erwann somos todos nós. Sou eu e o leitor. São as nossas relações, as nossas descobertas e viagens, por mais duras que possam ser. O autor cria uma musical melancólico e sério e, raras vezes dentro do género, as músicas mais canções isoladas, têm também elas uma função narrativa, genialmente interpretadas por este fantástico elenco. As canções são nos sussurradas, em jeito de desabafo e nós sentimo-nos dentro daquela história. Porque eles somos nós.



Christophe Honoré, argumentista e realizador, constrói um filme coeso, bastante seguro das suas convicções. Nunca é ingénuo, é apenas realista. Genuíno porque não tem medo de quebrar tabus, sem parecer panfletário. Para esse realismo contribuem as talentosas interpretações de Louis Garrel (The Dreamers) Ludivine Sagnier (Swimming Pool), Chiara Mastroianni (Un conte de Noël), Clotilde Hesme (Les amants réguliers) e Grégoire Leprince-Ringuet (La belle personne). Ou as canções de Alex Beaupain (Dans Paris), a fotografia de Rémy Chevrin e a direcção artística de Emmanuelle Cuillery.

As Canções de Amor é a nossa vida contada em forma de canções. É um desabafo, é uma viagem pela descoberta do Amor. É um filme de uma vida, sentido, único, simultaneamente clássico e contemporâneo. Somos nós ali e cantamos o Amor.


"Aime-moi moins, mais aime-moi longtemps"

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4 comentários:

  1. Adorei esta critica! Já tinha feito a minha lá no meu sítio, mas ler esta fez-me voltar querer rever esta pérola... É, sem dúvida, uma excelente ode ao amor (e ao cinema).

    Parabéns mais uma vez!

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  2. Obrigada! É de facto um filme magnífico que me toca bastante, já o vi várias vezes e de vez em quando, gosto de voltar a ouvir as canções.

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  3. Belíssima crítica, Tiago. Das melhores que pude ler da tua autoria, sem sombra para qualquer dúvida. Concordo, pois, com tudo o que escreves. É um filme magistral, um relembrar à liberdade da nouvelle vague, conseguindo ser único e singular. O amor em estado puro. Enfim... o melhor musical que tive alguma vez oportunidade de ver.

    Abraço

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  4. Obrigado! Sabes muito bem como este filme me toca e portanto a escrita foi sentida. Foi também este filme que me fez dar uma segunda oportunidade ao género musical.

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