quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um Homem Singular, por Carlos Antunes

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Título original:
A Single Man
Realização: Tom Ford
Argumento: Tom Ford
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult e Matthew Goode

O olhar de Tom Ford é de uma beleza absoluta, mas o seu direito a ela é inegável, pois o seu olhar riqueza com que se posiciona para dar ao público toda a informação essencial sem precisar de sobrepôr longos trechos para se fazer entender.
Tom Ford alonga-se em pormenores que são tão belos quanto definidores do que está à nossa frente e o prazer que isso acrescenta ao filme torna-nos indulgentes com o que de outra forma consideraríamos uma irritante vaidade de um executante com pretensões a artista.

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Para que olha Tom Ford?
Primeiro que tudo, para um brilhante Colin Firth, um executante que tem de se expôr e superar pela minimalidade das suas expressões e movimentos, das suas pausas.
Durante muito tempo ele não contracena senão com as memórias da sua personagem mas fá-lo com o que só pode ser um mergulho completo na psique da sua personagem.
Se alguém lhe tocasse no momento em que ele se encontra tão a sós com a sua vivência da personagem, quebraria o delicado trabalho a que ele dá corpo.

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Olha também para o peso do Tempo, para a inevitabilidade da sua passagem, mesmo que essa passagem não traduza nada de absoluto.
Se a inocentemente louca juventude salva quase tudo, não impede a inexorável caminhada para o destino comum.
Se a idade traz experiência, não evita o desabrigo emocional que se considera tão próprio da juventude.

http://www.parentpreviews.com/legacy-pics/single-man.jpg

Assim, um homem a viver impecavelmente a convenção estabelecida, escondendo a sua homossexualidade e a dor da sua privação, prepara meticulosamente o seu suicídio enquanto ao mesmo tempo é o último amparo de uma mulher demasido só e é inspiração e paixão para um jovem aluno.
A sua história é a história de Amor que todos experimentamos, mas provavelmente vivida mais fora de tempo do que se possa julgar.
Por isso é que a juventude do seu aluno o liberta quando a idade da relação com a sua amiga não o consegue.
Por isso é que a juventude do seu aluno o faz de novo encarar o Presente quando a sua própria idade já não o permite.

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Assim se estreou Tom Ford, com um filme inesquecível e que revela uma entrega pessoal e sentida dos seus intervenientes.
Singular é, verdadeiramente, este olhar, delicado e dedicado, consciente da força do que está à sua frente e, por isso mesmo, confiante naquilo a que se pode render e aquilo que deve evitar.
Um olhar que temos mesmo de partilhar com ele para não perdermos um olhar imprescindível.



http://thecia.com.au/reviews/s/images/single-man-4.jpg

2 comentários:

  1. Concordo muito com a crítica! Filme tocante e com uma estética magnífica! Venham mais filmes de Tom Ford, quero ver do que é ele capaz!

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  2. Ana Isabel Ferreira18 de maio de 2010 às 20:51

    Este filme tocou-me particularmente. O sentimento de vazio, de perda é magnificamente expresso, sem palavras.

    Foi uma surpresa inesperada de Tom Ford. Uma descoberta de um Colin Firth que desconhecia.

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