Realização: Andrea Arnold
Argumento: Andrea Arnold
Andrea Arnold vem, a bom tempo, confirmar o estado de graça em que se encontra o cinema britânico. O seu Fish Tank, logo no início do ano, deixou o Júri do Festival de Cannes rendido, acabando por lhe atribuir o seu galardão. O mesmo aconteceu recentemente nos BAFTA, em que vence o prémio de Melhor Filme Britânico ou ainda no Fantasporto 2010 em que acabou por vencer o prémio de Melhor Filme na Semana dos Realizadores.
A vida urbana que a realizadora nos mostra com um realismo desarmante é claustrofóbica. É um aquário figurativo. É filmado no formato 4:3, antigo formato televisivo, para transmitir a ideia de sufoco. Os aquários simbólicos estão lá, a justificar o título – como se fosse necessário – no formato, no cubículo em que Mia treina o seu break-dance, nos videoclips dos anos 90 que passam a todo o instante nas televisões. O estilo de Andrea Arnold é flagrante no retrato da cultura underground inglesa, com alguma handycam à mistura que de forma tão exímia converge imagens características de um bairro social ou de uma paisagem mais suburbana e rural. E essa estética deixa-nos desconfortáveis durante todo o filme. Porque a dureza das imagens e das situações é tamanha, mas tão real.
Fish Tank é precisamente muito simples, mas extremamente forte na forma como transmite a sua mensagem. É uma visão realista da educação e em como o meio social tem muita influência nesse processo de formação. É a aproximação de uma adolescente ao mundo adulto e todas as desilusões como consequência directa. Mas nada disso nos é atirado à cara de modo panfletário. Embora competente, na verdade o impacto não seria o mesmo não fossem as interpretações fantásticas dos actores principais.
A construção das personagens não se faz por entrelinhas, dando origem a uma profunda questão social, escrita de uma forma exímia. Katie Jarvis é a maior surpresa e o filme vive do seu desempenho. A sua interpretação é promissora mas não deixa de levantar a questão se terá ela futuro no meio cinematográfico ou se acabará ela por fazer dela mesma no filme (afinal foi descoberta por mero acaso, no meio de uma discussão com o namorado). Suposições à parte, a jovem respira o meio onde Andrea Arnold aproveita para realizar uma crítica e um desmascaramento social. Do outro lado do espectro temos Michael Fassbender no consolidar de uma carreira, que já o revelou com uma das mais promissoras estrelas britânicas dos últimos anos (Hunger, confirmou-o). Ambos são os protagonistas da história claustrofóbica e que actuam de uma forma fantástica, com uma dinâmica que resulta em valentes “murros no estômago”.
E por falar em dinâmica, a nível de argumento também Andrea Arnold está de parabéns. Fish Tank cruza momentos dramaticamente divertidos, com cenas mais introspectivas, mas nunca maça o espectador. De facto, a ironia ajuda a manter o interesse do espectador – nunca deixando de inspirar a crítica social – de onde se destacam os diálogos entre mãe e filhas. O espectador não deixa de esboçar sorrisos, mas acaba por ficar chocado com o assustador realismo com que eles são usados. E daqui poderemos até destacar a participação de Charlotte Collins, promissora com certeza. E daqui até ao final, a história desarma-nos por completo. Reunindo momentos bizarros e um realismo incomum, não deixamos de nos sentir espectadores de algo que ajudámos a criar. O seu conceito desarmante mantém-se até à última cena, tão simples e tão única, tão real. Fish Tank deixa-nos sufocados. E nós gostamos.
A vida urbana que a realizadora nos mostra com um realismo desarmante é claustrofóbica. É um aquário figurativo. É filmado no formato 4:3, antigo formato televisivo, para transmitir a ideia de sufoco. Os aquários simbólicos estão lá, a justificar o título – como se fosse necessário – no formato, no cubículo em que Mia treina o seu break-dance, nos videoclips dos anos 90 que passam a todo o instante nas televisões. O estilo de Andrea Arnold é flagrante no retrato da cultura underground inglesa, com alguma handycam à mistura que de forma tão exímia converge imagens características de um bairro social ou de uma paisagem mais suburbana e rural. E essa estética deixa-nos desconfortáveis durante todo o filme. Porque a dureza das imagens e das situações é tamanha, mas tão real.
Fish Tank é precisamente muito simples, mas extremamente forte na forma como transmite a sua mensagem. É uma visão realista da educação e em como o meio social tem muita influência nesse processo de formação. É a aproximação de uma adolescente ao mundo adulto e todas as desilusões como consequência directa. Mas nada disso nos é atirado à cara de modo panfletário. Embora competente, na verdade o impacto não seria o mesmo não fossem as interpretações fantásticas dos actores principais.
A construção das personagens não se faz por entrelinhas, dando origem a uma profunda questão social, escrita de uma forma exímia. Katie Jarvis é a maior surpresa e o filme vive do seu desempenho. A sua interpretação é promissora mas não deixa de levantar a questão se terá ela futuro no meio cinematográfico ou se acabará ela por fazer dela mesma no filme (afinal foi descoberta por mero acaso, no meio de uma discussão com o namorado). Suposições à parte, a jovem respira o meio onde Andrea Arnold aproveita para realizar uma crítica e um desmascaramento social. Do outro lado do espectro temos Michael Fassbender no consolidar de uma carreira, que já o revelou com uma das mais promissoras estrelas britânicas dos últimos anos (Hunger, confirmou-o). Ambos são os protagonistas da história claustrofóbica e que actuam de uma forma fantástica, com uma dinâmica que resulta em valentes “murros no estômago”.
E por falar em dinâmica, a nível de argumento também Andrea Arnold está de parabéns. Fish Tank cruza momentos dramaticamente divertidos, com cenas mais introspectivas, mas nunca maça o espectador. De facto, a ironia ajuda a manter o interesse do espectador – nunca deixando de inspirar a crítica social – de onde se destacam os diálogos entre mãe e filhas. O espectador não deixa de esboçar sorrisos, mas acaba por ficar chocado com o assustador realismo com que eles são usados. E daqui poderemos até destacar a participação de Charlotte Collins, promissora com certeza. E daqui até ao final, a história desarma-nos por completo. Reunindo momentos bizarros e um realismo incomum, não deixamos de nos sentir espectadores de algo que ajudámos a criar. O seu conceito desarmante mantém-se até à última cena, tão simples e tão única, tão real. Fish Tank deixa-nos sufocados. E nós gostamos.
Classificação:
Um excelente filme! De um realismo tão desconfortável como apelativo! E as interpretações de Katie Jarvis e Michael Fassbender são brilhantes!
ResponderEliminarhttp://avidaemcenas.blogspot.com
Foi um dos que mais gostei de descobrir no Fantasporto. Excelente filme mesmo e óptimos desempenhos.
ResponderEliminarNão o pude ver no Fantas, mas era uma das maiores curiosidades de lá para mim!
ResponderEliminarParece que chega aos cinemas a 6 de Maio. Logo poderás ver! ;)
ResponderEliminarO que esperava - Uma boa crítica a acompanhar um bom filme!
ResponderEliminarAbraço
Cinema as my World
Obrigada! :) E sim, o filme vale bem a pena!
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