Título original: The Imaginarium of Doctor Parnassus (2009)
Realização: Terry Gilliam
Argumento: Terry Gilliam e Charles McKeown
Elenco: Johnny Depp, Jude Law, Heath Ledger, Colin Farrell, Christopher Plummer, Tom Waits e Lily Cole
Desde cedo que o mais recente filme de Terry Gilliam popularizou-se ganhando o estigma de “último filme de Heath Ledger”, que faleceu ainda durante as filmagens. E se, para muitos, perder o protagonista de uma produção pudesse ser o fim, para o cineasta – fundador dos Monty Python – foi apenas o início de uma viagem a um mundo complexo, genialmente construído através de um brilhante imaginário fantástico. De uma grande adversidade, o realizador soube trazer uma produção extremamente arriscada e ousada, mas que – inevitavelmente – teve dificuldades em ganhar uma distribuidora disposta a arriscar assim tanto. Ainda bem que houve quem o fizesse.
Dr. Parnassus é um contador de histórias imortal, com um espectáculo itinerante e com dificuldades em tornar-se apelativo perante as gerações contemporâneas. É este espectáculo físico e psicológico que dá mote a toda esta dualidade e ambiguidade que prevalece na obra de Terry Gilliam. Isto porque nos vemos confrontados entre a decadência externa de um espectáculo que não consegue se renovar perante o avançar das épocas e o ambiente mágico de um mundo imaginário que só podia existir na mente de cada um de nós. O nosso intelecto é o resultado das nossas ambições e receios, porque somos vítimas do imaginário que criamos, numa linha ténue entre o real e a ficção.
Isto não quer dizer que Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo seja um filme perfeito. Não o é porque às vezes perde profundidade narrativa com todo o exagero visual que o permeia. Contudo, é revigorante pelo afrontamento às normas da indústria cinematográfica actual e pelo visual potencialmente infantil e genuíno com que somos brindados a cada cena. É revigorante porque não conseguimos imaginar este argumento sem este lote de actores que substitui Heath Ledger, ou melhor, que o complementa, que fazem de alter-ego de Tony. Porque esta solução, encontrada sob pressão, parece tão natural, quase feita propositadamente. É uma divisão entre o mainstream e o indie, que resulta muito bem, mas que no fim de contas acaba por pesar na opinião final. E nem sempre a influencia positivamente, até porque não estamos habituados a este arrojo.
O elenco de actores está excelente. Christopher Plummer personifica a decadência e o anseio humano por mais e melhor, enquanto que Lily Cole brilha nesta prestação debutante em que representa a pureza e a perda da ingenuidade. Temas recorrentes na filmografia de Terry Gilliam. Depois temos ainda a inevitável prestação de Heath Ledger (já havia colaborado com o realizador em The Brothers Grimm), quase sempre improvisada, mas que tão bem encarna o papel que lhe foi concedido. O final anuncia-nos «um filme de Heath Leadger e amigos» e foram precisamente os seus amigos que deram um brilho maior a esta produção: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel. Deste trio destaco o último que surpreende num fantástico desempenho a que, sinceramente, não estou habituado da sua parte. E já que falamos em surpresas, Tom Waits parece talhado para este papel. O Diabo, o vilão, o apostador inconsequente, cheio de artimanhas, mas para quem, no fim de contas, tudo é um jogo. A sua vida e a dos outros, é um jogo., ou não fosse esta mais uma revisitação do mito de Fausto.
E se no argumento sentimos dúvidas, é precisamente a nível técnico que o filme se apresenta espectacular: a cinematografia de Nicola Pecorini (Tideland), a direcção artística nomeada para o Óscar, de Anastasia Masaro (Tideland) ou o guarda-roupa também nomeado ao Óscar na categoria correspondente, de Monique Prudhomme (Juno). São estes que contribuem para o espectáculo visual que é Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo. A meio, a ousadia delirante torna-o num espectáculo bizarro, que acaba por causar estranheza no espectador. Perde em complexidade e profundidade argumentativa, o que faz com que não seja o filme genial que poderia ser, mas acaba por ser uma obra surpreendentemente agradável. Especialmente para os fãs do género fantástico.
Dr. Parnassus é um contador de histórias imortal, com um espectáculo itinerante e com dificuldades em tornar-se apelativo perante as gerações contemporâneas. É este espectáculo físico e psicológico que dá mote a toda esta dualidade e ambiguidade que prevalece na obra de Terry Gilliam. Isto porque nos vemos confrontados entre a decadência externa de um espectáculo que não consegue se renovar perante o avançar das épocas e o ambiente mágico de um mundo imaginário que só podia existir na mente de cada um de nós. O nosso intelecto é o resultado das nossas ambições e receios, porque somos vítimas do imaginário que criamos, numa linha ténue entre o real e a ficção.
Isto não quer dizer que Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo seja um filme perfeito. Não o é porque às vezes perde profundidade narrativa com todo o exagero visual que o permeia. Contudo, é revigorante pelo afrontamento às normas da indústria cinematográfica actual e pelo visual potencialmente infantil e genuíno com que somos brindados a cada cena. É revigorante porque não conseguimos imaginar este argumento sem este lote de actores que substitui Heath Ledger, ou melhor, que o complementa, que fazem de alter-ego de Tony. Porque esta solução, encontrada sob pressão, parece tão natural, quase feita propositadamente. É uma divisão entre o mainstream e o indie, que resulta muito bem, mas que no fim de contas acaba por pesar na opinião final. E nem sempre a influencia positivamente, até porque não estamos habituados a este arrojo.
O elenco de actores está excelente. Christopher Plummer personifica a decadência e o anseio humano por mais e melhor, enquanto que Lily Cole brilha nesta prestação debutante em que representa a pureza e a perda da ingenuidade. Temas recorrentes na filmografia de Terry Gilliam. Depois temos ainda a inevitável prestação de Heath Ledger (já havia colaborado com o realizador em The Brothers Grimm), quase sempre improvisada, mas que tão bem encarna o papel que lhe foi concedido. O final anuncia-nos «um filme de Heath Leadger e amigos» e foram precisamente os seus amigos que deram um brilho maior a esta produção: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel. Deste trio destaco o último que surpreende num fantástico desempenho a que, sinceramente, não estou habituado da sua parte. E já que falamos em surpresas, Tom Waits parece talhado para este papel. O Diabo, o vilão, o apostador inconsequente, cheio de artimanhas, mas para quem, no fim de contas, tudo é um jogo. A sua vida e a dos outros, é um jogo., ou não fosse esta mais uma revisitação do mito de Fausto.
E se no argumento sentimos dúvidas, é precisamente a nível técnico que o filme se apresenta espectacular: a cinematografia de Nicola Pecorini (Tideland), a direcção artística nomeada para o Óscar, de Anastasia Masaro (Tideland) ou o guarda-roupa também nomeado ao Óscar na categoria correspondente, de Monique Prudhomme (Juno). São estes que contribuem para o espectáculo visual que é Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo. A meio, a ousadia delirante torna-o num espectáculo bizarro, que acaba por causar estranheza no espectador. Perde em complexidade e profundidade argumentativa, o que faz com que não seja o filme genial que poderia ser, mas acaba por ser uma obra surpreendentemente agradável. Especialmente para os fãs do género fantástico.
Li a tua crítica, bem escrita.
ResponderEliminarComo sabes estou com expectativas em relação a este filme, aliás, fiz a antevisão dele num dos primeiros posts do meu filme mas tenho a sensação e como tu escreveste que este filme seja apenas conhecido como "o último filme de Ledger" e não pela qualidade em si...
Gilliam é um lunático e visionário, amanhã verei!
Abraço
Cinema as my World
O filme será conhecido por aquilo que cada um dos espectadores quiser e tudo dependerá da forma como o sente. É um bom filme, surpreendente, mas com os seus defeitos. Esperarei a tua opinião.
ResponderEliminarNota igual à do Ante-Cinema. :P Mais propriamente à crítica do Pedro. Eu pessoalmente também gostei do filme mas dava menos meia estrela.
ResponderEliminarGostei especialmente do elenco de actores, conforme também referes aqui na crítica. De resto, apesar dos efeitos especiais não serem muito arrojados (não era preciso serem para o tipo de filme que se queria contar), este é sem dúvida um bom regresso de Terry Gilliam.
É verdade, também já tinha reparado. :)
ResponderEliminarEu falo do arrojo visual porque é bizarro a ponto de quebrar com uma certa tendência mais realista de Hollywood... Aqui existe uma certa ingenuidade associada aos efeitos especiais, propositada parece-me.
Parece que estamos mesmo de acordo em relação ao filme e à sua apreciação final. Poderia ser bem melhor, mas aproveita-se um cast luxuoso e um espectáculo visual como não há.
ResponderEliminarAbraço
Sim, de facto. Concordo.
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