segunda-feira, 12 de abril de 2010

LOST: Happily Ever After (6.11)

Finalmente, foi explicada na série a ligação entre os dois mundos. Finalmente, foi explicado por que motivo houve tanto foco nos reflexos dos personagens que vivem no sideways, porque razão estes sentem que algo está estranho ou fora do lugar. Num brilhante episódio, escrito por Damon Lindelof e Carlton Cuse e realizado por Jack Bender, e em que os eventos de "Flashes Before Your Eyes" (3.08) são notavelmente reflectidos, Desmond descobre o seu verdadeiro propósito no universo.

Não foi necessário viajar entre realidades diferentes do mesmo universo: cada instância corporal e mental da mesma pessoa está ligada por uma única existência, um único espírito. Ao longo da temporada, foram mostrados os paralelismos entre versões de personagens com vidas completamente distintas. Apesar das circunstâncias, muitas vezes opostas, os personagens mantêm a mesma essência. Ben é propenso a manipular e controlar mas, no fundo, não é isso que o deixa realizado. James é um homem solitário e individualista, mas no seu interior procura alguém com quem estabeleça uma forte relação emocional. Desmond procura a afirmação pessoal, mas é o amor de Penny aquilo de que realmente necessita.

O teste

Desmond recupera os sentidos, depois de ter sido trazido para a Ilha por Widmore. Zoe está lá para cuidar dele. Charles aproxima-se, tentando explicar-se acerca das motivações superiores para o trazer até ao último lugar no mundo onde queria estar. Desmond agride-o, mas Charles repete-lhe as palavras de Eloise Hawking: "the Island isn't done with you yet". Jin, que assiste a tudo isto, está confuso e quer saber o que faz ali o Desmond, ao que Charles responde que será mais fácil mostrar do que contar, evocando a filosofia de Jacob ao fazer Hurley levar o Jack ao farol.

Charles quer apressar o teste ao Desmond. Numa cabana, foi montada uma câmara magnética onde irá circular uma grande quantidade de energia, simulando assim o efeito de libertação das bolsas electromagnéticas da Ilha. A primeira experiência corre mal, provocando a perda de um dos membros da equipa, mas Charles não pode esperar e apressa o grupo a colocá-lo na sala do teste. Desmond foi a única pessoa a sobreviver àquele tipo de exposição energética, a esperança de Widmore é que este consiga fazê-lo novamente.

Widmore espera que Desmond esteja posto a sacrificar-se, tal como o próprio sacrificou os seus filhos em nome da Ilha: o que está em jogo é a própria existência de tudo o que mais amam. Se o objectivo de Widmore envolve de alguma forma a energia da Ilha, Desmond pode muito bem ser a única pessoa capaz de o executar. É iniciado o teste, a energia colocada à máxima potência. Desmond cai, inconsciente.

Um homem vazio

Na nova realidade, Desmond observa o seu próprio reflexo após a chegada a LAX no Oceanic 815. Na recolha de bagagens, ajuda Claire, por quem sente alguma empatia. Pergunta-lhe se está grávida de um menino ou uma menina, mas Claire não sabe. Os seus caminhos separam-se, mas não sem Desmond lhe dizer que vai ser um menino. De alguma forma, Desmond sabe-o. Minkowski é o motorista contratado para o receber no aeroporto, homem que conheceu na realidade original no barco do Widmore.

Desmond esteve na Austrália para fechar um acordo para o seu patrão. É o seu braço-direito, o homem mais estimado por Charles Widmore. A nova missão de Desmond é inesperada: tirar um músico drogado da prisão e levá-lo ao evento que Eloise está a organizar, para actuar num concerto com Daniel. Charles saliente como a vida de Desmond é boa, sem família nem compromissos. No seu escritório, pode observar-se um quadro representativo de uma balança, com pedras pretas de um lado e brancas do outro. Desmond é-lhe indispensável, nem um copo do McCutcheon é suficientemente bom para este homem. Toda a história de Desmond é aqui completamente oposta à que viveu na realidade original. Talvez por isso mesmo o universo se tenha encarregado de o colocar em rota de colisão com Charlie: o homem cuja vida Desmond salvou 4 vezes é agora quem lhe vem mostrar o sentido da vida.

Charlie não está interessado no concerto do filho de Widmore. Aliás, não está interessado em nada nesta vida. Quando ia morrendo durante o voo 815, teve uma visão de um verdadeiro amor – sem saber que esta viajava no mesmo avião. Charlie confronta os valores de Desmond: será que este tem tudo na vida ou, pelo contrário, não tem nada do que realmente importa? Charlie conta-lhe da sua visão enquanto esteve no limbo, do amor que sentiu pela mulher que nunca conheceu mas que percebeu ser real. Desmond chama poesia a tudo isso, desdenha o amor ou as alucinações de alguém que teve uma experiência de quase morte.

Mas tudo muda na marina. O mesmo local onde, numa outra realidade, os Oceanic 6 se reuniram e Desmond foi alvejado por Ben. Charlie quer mostrar a Desmond que existe algo para além deste mundo e provoca um acidente, projectando o carro para a água, onde se afunda. Debaixo de água, Desmond tenta ajudar Charlie a sair do carro, sem sucesso. Vem à superfície respirar e volta a mergulhar para tentar abrir a porta quando, do outro lado, Charlie abre os olhos e coloca a mão no vidro. Silêncio. Desmond já viveu esta situação. Não sente um dejá-vu, vê nitidamente na mão de Charlie escrito "not Penny's boat". Mas, desta vez, consegue resgatá-lo e Charlie sobrevive.

A colisão de locais e eventos paralelos nas vidas de Desmond provocou-lhe a percepção de coisas impossíveis. Memórias que a mente não conhece de um evento que, cronologicamente, ainda está para acontecer. No hospital, é submetido a uma ressonância magnética, mais um paralelismo ao homem que foi exposto a uma catástrofe electromagnética. A sua consciência traz-lhe novamente imagens que não poderia conhecer da morte de Charlie Pace, imagens da Penny, mulher da sua vida, e Charlie Hume, o filho nascido deste amor que atravessou oceanos, tempos e realidades. Desmond desperta em pânico, não sabe o que fazer destas imagens.

À procura de Charlie, cruza-se com Jack, que repara na estranha coincidência de 3 pessoas que foram no mesmo avião também estarem agora no mesmo hospital. Após uma pequena perseguição, Charlie explica que só provocou o acidente para mostrar ao Desmond o mesmo que viu quando esteve às portas da morte. Pela sua reacção, apercebe-se que ele também viu algo, também sentiu aquele mundo. Charlie deixa-o com a dúvida na mente – quem será esta Penny? Desmond liga a Widmore para o informar que não foi capaz de levar o Charlie para o concerto. Charles teme as consequências dos planos da sua esposa não correrem como planeado e envia Desmond para a informar pessoalmente do seu fracasso.

Eloise
Eloise Hawking viveu aprisionada num ciclo infinito. No seu peito, carrega um alfinete alusivo à Ouroboros, uma serpente que morde a sua própria cauda: símbolo da eternidade, da continuidade, e do conceito do eterno retorno – uma vida que se repete vezes sem conta, sempre da mesma maneira. Eloise está grávida de Daniel quando o atinge mortalmente com um tiro, em 1977. A descoberta de que este homem seria o seu filho, 30 anos mais velho e deslocado no tempo, é algo que a choca profundamente. Determinada a impedir este trágico final para o filho que ainda nem viu nascer, ajuda Jack a cumprir o plano de Daniel em detonar a bomba de hidrogénio. Mas o destino estava traçado, nada mudou e desapareceram todos os que se encontravam no local da explosão. O sonho de Daniel Faraday é ser músico, mas a mãe força-o a aplicar-se à ciência, por muito que isso lhe possa custar: Daniel tem de regressar à Ilha e cumprir o seu destino, garantindo assim que tudo acontece da forma que já tinha acontecido. Mas o alfinete de Eloise não morde a própria cauda: após um ciclo completo, a linha segue um novo caminho. Após o grande sacrifício de enviar o filho para que o destino seja cumprido, Eloise sente um amargo alívio que exprime ao dizer que, pela primeira vez em muito tempo, não sabe o que irá acontecer a seguir.

Eloise Widmore é assombrada por uma imagem traumática: ter morto o seu próprio filho, um grande cientista que viajou no tempo com o objectivo de mudar o próprio passado. Convencida que seria capaz de cumprir o plano de Daniel Faraday, Eloise ajuda Jack a detonar a bomba de hidrogénio. O plano resultou, algo que poderia bem constatar pelas diferenças entre os apontamentos do filho e a realidade que observava. Eloise casou-se com Charles e deu ao filho o nome Daniel Widmore, um pequeno génio com talento para a música. No peito, ostenta duas linhas paralelas, símbolo das duas realidades que conhece. Não se sabe até que ponto vai a compreensão de Eloise em relação a estas duas linhas temporais, mas a sua posição é clara no que diz respeito a evitar qualquer contacto entre as duas. Eloise não está disposta a arriscar a perda do seu filho, depois de tudo o que este passou para mudar o próprio destino.

Desmond encontra Eloise enquanto esta organiza o grande evento e coordena a equipa de catering. Nada pode falhar, tudo deve correr como planeado, o que faz Desmond recear trazer-lhe a notícia da ausência de Charlie para a actuação. A expressão imediata de Eloise é de alguém assustado, mas rapidamente a disfarça com toda a cordialidade para o empregado do marido. Não há nenhum problema com a mudança de planos, "o que aconteceu, aconteceu" e Eloise dá a entender nem gostar muito da ideia de trazer uma estrela rock para um evento de caridade. O importante é que Desmond se afaste rapidamente. E tudo está a correr bem, até que Desmond ouve falar em "Penny Milton" na lista de convidados.

Não era suposto Desmond sequer conhecer aquele nome. Eloise afasta-o de ouvidos alheios e diz-lhe que pare: a forma como vê as coisas foi afectada por alguém, o que é um problema sério. É uma violação das regras e Desmond precisa de parar a sua busca. Se Desmond já tem aquilo que mais desejava na vida (a aprovação de Charles Widmore), que mais poderia ele procurar? É claro na mente de Eloise que qualquer tentativa de aproximação das duas realidades poderá levar à perda do seu filho. São as regras, é o funcionamento deste mundo que está em causa. Eloise deixa-o, dizendo-lhe apenas que ainda não está preparado.

O (re)encontro
Desanimado, Desmond prepara-se para abandonar o local quando é abordado por Daniel Widmore, que observou à distância a conversa com Eloise. Daniel pergunta-lhe se acredita no amor à primeira vista e conta a história da mulher que abalou o seu mundo. Na primeira vez que a viu, tinha saído para a pausa do almoço do museu onde trabalha e comia uma barra de chocolate – descrição que seria suficiente para se perceber que fala de Charlotte. A sensação de que já a amava, mesmo vendo-a pela primeira vez, foi apenas a primeira de uma série coisas estranhas.

Nessa noite, Daniel acordou e escreveu coisas que não poderia compreender sobre tempo e espaço aparentes e reais, física quântica e matemática avançada. Equações que só alguém que tivesse dedicado a vida inteira a estudar poderia descobrir, a forma como um evento catastrófico poderia ser evitado com a detonação de uma bomba nuclear. Daniel formula assim a possibilidade de esta poder não ser a vida que lhes estava originalmente destinada, mas o resultado de uma mudança provocada por eles próprios. Daniel decidiu falar com Desmond por este ter perguntado por alguém que não conhece, percebeu que ele "também sentiu" e decide ajudá-lo a encontrar quem procura – a sua meia-irmã Penny.

Numa inversão da cena em que Penny procura Desmond no estádio em "Live Together, Die Alone" (2.23), é Penelope quem faz o tour de stade quando Desmond a encontra. Quem é este homem? Penny estranha a abordagem, mas estende-lhe a mão e cumprimenta-o. Desmond cai, inconsciente.

Desmond acorda
Não há som de transição dos flash-sideways para o Desmond que acorda na Ilha e observa a mão com que acabou de cumprimentar a sua amada numa outra realidade. A energia a que foi exposto colocou-o por breves segundos num plano de consciência que lhe permitiu ver e sentir não só um outro mundo, mas percepcionar a sua própria existência. Desmond foi iluminado, é um homem diferente do que caiu inconsciente alguns segundos atrás.

Charles ajuda-o a levantar-se e tenta explicar o que acabou de fazer, mas Desmond interrompe-o. Não é preciso que Widmore lhe explique, pois compreende que tem uma missão a cumprir. Está, aliás, bastante empenhado em começar. A caminho da Hydra, é interceptado por Sayid que, sem hesitar, mata dois dos homens do Widmore e deixa Zoe fugir sob ameaça de morte. Sayid diz (ironicamente) que esses homens são perigosos e pede a Desmond que o acompanhe. O escocês segue, com um ar confiante, o homem que se perdeu para a infecção.

Desmond X recupera os sentidos alguns segundos depois de cumprimentar Penny, que faz até uma piada sobre o efeito que produz sobre ele. Penny sente também um dejá-vu, pergunta-lhe se já se tinham conhecido. Quase despropositadamente, Desmond convida-a para um café, mas esta acaba por aceitar. Penny também sentiu algo, é visível no seu olhar, no seu sorriso. Desmond respira fundo e regressa ao carro também com um sorriso de felicidade.

Minkowski pergunta-lhe se encontrou o que procurava. Desmond responde que sim e pede-lhe um único favor: que lhe obtenha a lista de passageiros do voo Oceanic 815. Desmond é um homem iluminado, e não só pelo amor que descobriu já sentir por Penelope: todos os que conheceu numa outra vida precisam de ver o mesmo que ele viu, sentir a vida que a sua outra parte viveu. Tal como Charlie mudou a sua visão do mundo, Desmond tem a necessidade de mostrar a todos os que viu na Ilha qual a razão da sua própria existência.

2 comentários:

  1. Massivo post! Impressionante mesmo a quantidade de detalhes que o caro Telmo Couto consegue dar luz. Os alfinetes de Eloise foi de génio pois nem sequer reparei no episódio.
    Boa escrita sobre Lost, numa regularidade impressionante.
    Well done!!!

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