quarta-feira, 5 de maio de 2010

Chéri, por Carlos Antunes


Título original: Chéri
Realização: Stephen Frears
Argumento: Christopher Hampton
Elenco: Michelle Pfeiffer, Rupert Friend e Kathy Bates
Editora: Castello Lopes Multimédia

Chéri é uma comédia em busca do drama. A leveza que os tempos de ouro das cortesãs e dos prazeres variados mantinham prenunciam terrores.
A vida desregrada encaminha a sociedade para um queda assombrosa, da economia e dos costumes.
Só que essa queda é sempre melhor simbolizada pelo drama pessoal, um drama nascido precisamente das mesmas condições que a sociedade elevava e que ao indivíduo podem ser tão nocivas.


A mais extraordinária cortesã do seu tempo provoca um amor total num jovem que se fartou de repetir toda a sorte de prazeres que podia ter.
Só que ele provoca-lhe o mesmo sentimento e, de forma súbita para uma mulher que nunca se rendeu, vivem juntos e felizes.
Nenhum deles espera que a situação dure, obrigados que estão a outras convenções, mas quando termina ambos sentem a falta do que tinham juntos.


A sua luta enquanto estão separados é por recuperarem os seus momentos juntos, usando a mais tenebrosa arma que têm, os ciúmes que conseguem causar ao outro, assim o iludindo sobre as suas verdadeiras intenções.
Fazer sofrer o outro como forma de o fazer sentir todo o arrependimento
Até que, finalmente, o inevitável reencontro se dá e ambos ficam elucidados sobre a verdade do Tempo.
O Tempo passa e muda tudo. Aquela não é uma época para o Amor Eterno.
A cortesã perdeu a sua glória, o seu Tempo passou e nada o fará voltar.
O jovem perdeu a sua irreverência, o seu Tempo na sociedade está a começar e não pode mais deixar-se arrebatar.


A frescura de uma belle époque com que o filme brinca e cujo poder de sedução parece querer recrear com um descomprometido sorriso, desemboca nesta terrível verdade.
Uma composição brilhante - do romance, certamente, mas também do argumento - que tem excelentes executantes para tão deliciosos diálogos e situações.


Frears é o realizador para compor estes ambientes, eximiamente, mas com um espírito de liberdade.
Pfeiffer é perfeita, luminosa, uma estrela. A sua presença é encandescente, o seu talento arrebatador!
Bates é uma actriz que com a linha certa de diálogo constrói uma personagem, rouba a cena e ainda eleva o trabalho dos restantes à sua volta.
Friend está a crescer como talento a ter em conta. "Contra" duas actrizes de peso, não se nota que o seu trabalho ainda seja imberbe.


Este é um filme sobre a emoção, com as emoções elas próprias perfeitamente reflectidas pelos seus actores.
Mas igualmente os cenários e o guarda-roupa o reflectem, atraentes ao esconderem a decadência na extravagância.
Chéri é emoção, extraordinária quase sempre.



Extras

Making Of - Breve mas elucidativo e relaxado.

Cenas cortadas - Cerca de dois minutos de cenas cortadas, claramente desnecessárias ao bom funcionamento da narrativa.



1 comentário:

  1. Eu tenho uma opinião mais negativa. Foi uma desilusão tendo em conta os trabalhos anteriores de Stephen Frears. Ritmo demasiado arrastado e uma comoção algo artificial.

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