sábado, 15 de maio de 2010

O Tempo que Resta, por Carlos Antunes


Título original: The Time That Remains
Realização: Elia Suleiman
Argumento: Elia Suleiman
Elenco: Elia Suleiman, Ali Suliman, Saleh Bakri e Nati Ravitz

No tempo que permanece, parece tudo permanecer para os palestinianos.
Afinal de contas, os episódios da sua história sucedem-se mas as diferenças entre eles esbatem-se.
O quotidiano palestiniano prolonga-se com um povo que se mantém imóvel mesmo à deriva.
Um povo com um quotidiano estagnado mas sem um lugar onde esse quotidiano pertença.
O tempo deste povo parece já ter passado, vivendo agora num tempo irreal, uma eternidade de repetição, enquanto esperam por um tempo que estará para vir.


O tempo passa, as pessoas mudam, mas a realidade repete-se, como um gag a que o destino condena um povo.
Só que o gag só se vê com um olhar distante, abrangente. Aqueles que estão no seu interior apenas parecem estar à espera, com uma tristeza contida.
Misto de melancolia e contentamento, de expectativa e falta de possibilidades.
A haver uma expectativa para este povo, ela está enterrada sob impossibilidades e desapontamentos.


Afinal de contas, Elia Suleiman é um herdeiro de Buster Keaton, com a seriedade de quem olha o mundo sem fascínio, mas com uma enorme melancolia. Como se o mundo não guardasse nada senão um tempo e um espaço onde os palestinianos não podem chegar a existir em plenitude.
A comédia não é concretização dele, é o resultado do olhar concentrado com que atravessa as situações mais absurdas, tristes ao ponto de exigir o riso que alivia a pressão, mas que está guardado para quem permanece de fora já que ele é incapaz de o executar.


O povo permanece em expectativa, silencioso, rendendo-se à aceitação. E dessa forma, o que deveria causar agitação nestas pessoas torna-se num acto de apática normalidade.
Esse é o burlesco desta comédia, a irrealidade olhada sem reacção, a tristeza da terrível situação que este povo vive a servir o nosso riso.
Assim Elia Suleiman continua a olhar a sua realidade com um olhar único e fascinante. Os seus filmes pertencem à pátria do Cinema!



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