sexta-feira, 28 de maio de 2010

Robin Hood, por Carlos Antunes

Título original: Robin Hood
Realização: Ridley Scott
Argumento:
Brian Helgeland
Elenco: Russell Crowe, Cate Blanchett e Max von Sydow

O Cinema já não tem lugar para heróis divertidos, rectos e inconsequente.
Hoje em dia todas as suas personagens devem provir de um complexo negrume que as psicanalise.
Mais do que isso, não podem ter a sua dimensão local e pessoal, têm de carregar consigo os destinos de milhares de outros.


Não que não fosse uma ideia capaz a de unir a história particular com a global conspiração do romance histórico, se a sua interligação resultasse.
Não resulta, com ambas as histórias a avançarem de supetão, prejudicadas cada uma pelo que fica por dizer na outra.
A história maior vive de uma personagem que a história particular não criou.


Este é, portanto, um Robin Hood nascido num tempo pós-Braveheart, não só ao nível narrativo, mas igualmente ao nível cénico.
As grandes batalhas sujeitas a uma sugestão de significância e ousadia a um nível de invenção que acaba por parecer deslocado no cômpito geral.
São, no entanto, cenas mortiças à conta do estilo de Ridley Scott, capaz de sugerir o épico a partir do espaço exíguo da acção do indivíduo mas igualmente capaz de sufocar as cenas que já de si envolvem uma aparato grandioso.


As actuações são dignas, com Russell Crowe na sua pose habitual de último reduto da masculinidade, Cate Blanchett com classe a interpretar uma envelhecida e arisca Marion e Max von Sydow um senhor intemporal como só ele sabe ser em qualquer filme.
Mas o que mais se recorda são os breves momentos de grupo carregados de humor onde a dinâmica com os merrie man funciona e recorda os filmes que outros fizeram com esta personagem.
Filmes onde o divertimento era regra e não excepção, onde o herói era aquilo que dele se espera e não a sua análise clínica.
O Cinema recordará melhor essas outras encarnações do mito, sem necessidade de mostrar as suas fundações.



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