sábado, 24 de julho de 2010

Louise-Michel, por Carlos Antunes


Título original: Louise-Michel
Realização: Gustave de Kervern e Benoît Delépine
Argumento: Gustave de Kervern e Benoît Delépine
Elenco: Yolande Moreau, Bouli Lanners e Albert Dupontel

No fim do filme há uma dedicatória a Louise Michel, a anarquista e activista francesa do século XIX que teve múltiplos ofícios.
Só a dedicatória explica muito do que ficou para trás na hora e meia de filme. Não ao nível da história, fácil de seguir, mas ao nível daquilo que me parece constituir a própria filosofia de nascença do filme.


Um filme que se inicia com uma militância socialista tão desencantada que apenas crê na solução mais radical possível para o problema do desemprego, um ataque determinado ao topo da pirâmide administrativa.
Inicia-se e depois descontinua-se. Sem rumo nem acreditando que tivesse de o descobrir, o filme torna-se numa amálgama de inconsequências.


A falta de união entre pedaços narrativos, alguns deles genuinamente conseguidos à conta do humor negro que de lá nasce, será o reflexo da anarquia equivocada que abdica da ordem em vez de contrariar as obrigações que se julgam obrigatórias num filme.
O problema da anarquia, mesmo que criativa, é a de não permitir algo coeso, algo organizado. Daí que fosse necessário partir para a total irrisão e destruir o filme do seu interior para o fazer brotar.
Levar o filme às suas últimas inconsequências era o caminho de realmente arrancar do modelo normalizado do filme e construir um outro.


A pergunta que nos fica é o que faz aqui Yolande Moreau, uma excelente actriz a sujeitar-se a esta estranheza inapropriada e indiferente.
Os pedaços que se notam ser originais são abafados por uma generalidade de ideias banais.
Ao acabar o filme o espectador tem de fazer a sua própria montagem do que viu para apreciar os pedaços de humor negro que são o melhor do filme.



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