Os Mercenários, por Carlos Antunes

Título original: The Expendables
Realização: Sylvester Stallone
Argumento: Sylvester Stallone e Dave Callaham

Elenco: Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Mickey Rourke, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis

Muitos irão dar a Stallone um apreço pela forma como conseguiu regressar da sua carreira terminada.
Esse apreço fez sentido quando o seu Rocky Balboa mostrou um homem consciente do tempo que passa - para ele e para as suas personagens - e assim filmou uma ode de despedida que fazia jus ao primeiro filme.
Deixou de fazer sentido quando, logo de seguida, o terrível e absurdo Rambo mostrou que Stallone queria apenas continuar a capitalizar nas personagens que o fizeram famoso, sem mais aquela forma de consciência do final de ciclo.

Com The Expendables confirma-se que Stallone reinventou a sua carreira trazendo de volta os anos 1980 onde teve sucesso e que são, na verdade, os únicos anos que ele consegue compreender na sua versão do Cinema.
Se há uma atracção no facto de num único filme se reunirem alguns dos ícones do cinema de acção dessa década - e da seguinte - e, com essa ideia, se prometer um filme de género como não se via há muitos anos, não é só por essa razão que se pode julgar um filme com mais permissividade.

No início da segunda década do século XXI, o mundo já não tem espaço para um filme que tenta passar pelo crivo público sem investir numa narrativa consistente e sólida, sem investir em diálogos que contribuam para as personagens e sem investir numa distinção ao nível de realização.
Não é possível contentar espectadores com uma reprodução de baixa qualidade dos filmes de acção de mais baixa qualidade dessa década.
Uma história banal e desconjuntada, personagens reduzidas à funcionalidade de um único traço físico - pois personalidade não têm nenhuma - e acção banal repleta de cabeças a explodir, sangue falso e frenetismo oco não respondem, sequer, a qualquer bizarra forma de saudosismo.

Pior ainda, o mundo já não tem espaço para uma ideologia tão primária e bacoca - inocente é um contra-senso num género como este - onde os bons e os maus são tão perfeitamente definidos e têm, ainda para mais, uma hipótese de redenção se tiverem uma ligação afectiva à sua família - real ou por afinidade.
As cenas individuais de luta com dois dos "colossos" a defrontarem-se são o que de menos mau e mais próximo do esperado ocorre, um mano-a-mano para os espectadores descobrirem quem ganharia num combate entre as suas "action figures" favoritas.

Se, ainda assim, é possível distinguir dois momentos no filme é por se tratarem de duas cenas que contrariam tudo aquilo que são as falhas do resto do filme.
Numa, Willis, Stallone e Schwarzenegger ironizam consigo próprios num momento de camaradagem - misto de rivalidade e reconhecimento - que extravasa o filme e guarda significados do próprio meio cinematográfico que os reuniu.
Na outra, o rosto de Rourke contra o espelho dá emoção e credibilidade a um monólogo (não particularmente bem escrito) que o define como personagem.

São oásis de seriedade cinematográfica no seio de um encontro de "machões" numa noite num bar qualquer.
Todos eles maus actores como sempre foram - se quisermos ser simpáticos podemos dizer que Statham escapa por se levar a si próprio com mais humor do que os restantes - e todos eles sem conseguirem acertar com os momentos que têm para fazer da camaradagem o fulcro do filme.
The Expendables é um filme da ressaca dos anos 1980 que tomou os esteróides CGI dos anos 2000. Sendo que qualquer das duas formas é má de origem, o resultado consegue ser pior ainda.