segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Vale das Bonecas II, por Carlos Antunes


Título original: Beyond the Valley of the Dolls
Realização: Russ Meyer
Argumento:
Roger Ebert
Elenco: Dolly Read, Cynthia Myers, Marcia McBroom, John Lazar e Michael Blodgett

Ainda que o filme avise logo de início que não se trata de uma sequela a Valley of the Dolls, em Portugal isso de nada serviu na altura de lhe dar o nome.
A verdade é que este filme está bem para lá do anterior, quer a nível de arrojo, quer a nível de interesse.


Quem não queira reconhecer a Russ Meyer talento terá, pelo menos, de lhe reconhecer uma ferocidade como cineasta que se notava na velocidade e no exagero de imaginação dos seus filmes.
Há que reconhecer, ainda mais uma característica de Russ Meyer, o seu apreço pela força das mulheres.
Muitas vezes confundida com machismo ou misoginia, a exposição que ele fazia das mulheres era a de quem as admirava e lhes reconhecia um poder dominante que acabava por representar de forma sexualmente agressiva.


Daí que este seu filme seja bem mais femininista que Valley of the Dolls, por colocar na própria mulher a escolha e a determinação da sua actuação.
Se em Valley of the Dolls as mulheres eram vítimas do meio em que se envolviam - e, acima de tudo, vítimas da sua própria fraqueza - aqui as mulheres são o símbolo mais evidente de uma libertação sexual e social.
Homossexualidade, transexualidade, multiplicidade de parceiros, uso do sexo como arma de chantagem, apetite e domínio sexual da mulher. Todos estes temas, ainda tabús na época e alguns até ao presente, passam pelo filme frontalmente.


Russ Meyer trata tais temas com a frontalidade imagética que levou o seu filme a uma classificação muito restricta nos EUA.
Olhando para o caminho que o filme percorre é de espantar como conseguiu ele fazer tal filme dentro do sistema de estúdios.
Neste caso a sua ferocidade levou o filme a terminar com um jogo sexual a partir de uma representação de papéis - entre eles um soldado nazi e um rapaz da selva - que desvaira num assassinato múltiplo.
Russ Meyer levou para lá dos limites uma história que, se fosse reduzida ao seu âmago, se fosse desprovida da personalidade do seu autor, seria um mesmo melodrama sonso de Valley of the Dolls.



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