quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Simbologia em Fringe

(Começo, claro, pelo típico aviso de spoilers. Quem não viu a segunda temporada até ao fim e decidir ler o resto deste texto estará a fazê-lo por sua conta e risco.)


Alice

A primeira vez que se pôde ter a certeza de que as referências a Alice não eram produto da imaginação dos fãs foi há um ano atrás, aquando do lançamento do poster promocional da segunda temporada. Quando se analisa em alta-resolução podemos observar um coelho branco com um pequeno sino ao pescoço (em inglês, bell) e uma carta de uma dama de copas. Não só temos a referência do Coelho Branco que Alice seguiu (ou neste caso, de William Bell que Olivia seguiu) como uma referência à Rainha de Copas.

Entretanto na própria série podemos encontrar diversas referências, como o momento em que Olivia toma chá com Bell, numa alusão ao Chapeleiro. Em termos de relacionamentos, podíamos também olhar para o duo Olivia/Nina Sharp, em que a última age um pouco como o Gato de Cheshire, querendo ajudar Olivia mas não se importando de colocar alguns obstáculos pelo caminho.

Não só existem referências a Alice in Wonderland como também a Through the Looking-Glass, and What Alice Found There (uma espécie de sequela do primeiro livro, em que Alice atravessa um espelho e vai dar a outro mundo) que estão bastante presentes através de referências a espelhos e a xadrez, sendo a mais evidente o espelho através do qual os shapeshifters e a Altlivia comunicam na máquina de escrever.



Religião

(refiro apenas que não pretendo ferir quaisquer susceptibilidades, apenas fazer uma documentação de vários assuntos discutidos neste campo, não representando necessariamente a minha opinião)

Apesar de largamente abordada no episódio 17 da segunda temporada, The White Tulip, esta é uma temática constante ao longo de toda a série. Tal como Alice, que era presença constante na série LOST, a dualidade Homem de Fé/Homem de Ciência é um tema recorrente nas séries de J.J. Abrams.

Não me querendo alongar demasiado sobre este assunto, é o tema principal de Fringe que pode levar a mais questões relacionadas com a religião, e se neste momento estão com dúvidas, estou realmente a referir-me aos universos paralelos. Analisando os conceitos por detrás da teoria do multiverso, esta surgiu da necessidade de resolver alguns problemas das teorias deterministas nas quais todas as hipóteses colapsam numa resolução única. Nesta teoria, existem tantos mundos paralelos como o número de possibilidades de resolução de todas as situações algumas vez ocorridas (embora outras teorias assegurem que a infinidade não é possível pois alguns mundos tendem a convergir para uma mesma realidade). Ora nesta teoria da Filosofia da Física os mundos são incomunicáveis entre si e tendem para uma separação cada vez maior.

Portanto, o que é que o multiverso tem a ver com religião? Dada a introdução inicial, lança-se então a discussão: qual o ponto inicial em que existia apenas uma realidade? O Big Bang? Antes disso? Seria possível algumas realidades terem sido originadas por uma série de acontecimentos naturais e outras por uma entidade superior? Existe também a teoria filosófica de que a realidade actual em que vivemos ser a que menos sofrimento causaria à humanidade, respondendo então a uma grande questão no campo religioso do porquê de Deus não intervir em prol da humanidade.

Existem também questões morais relacionadas com esta teoria: até que ponto uma pessoa opta realmente por uma hipótese, quando num universo paralelo optará por outra? Afinal haverá individualidade de ser e livre arbítrio? O próprio Walter sugere na série que somos todos um capítulo de um grande livro do destino e escolha, e que quando alguém morre esse capítulo não é arrancado do livro, mas sim reescrito numa linguagem melhor.

Voltando então a The White Tulip, vemos em Walter um Homem de Fé, outrora um Homem de Ciência que foi confrontado com a possibilidade de que tudo o que lhe acontecia era um castigo divino por ter raptado Peter do outro universo, pois era considerado uma traição. Esse mesmo homem procura perdão divino, que lhe é concedido por um Homem de Fé (Peck). É bastante interessante analisar o diálogo entre as duas personagens, pois apesar de permanecerem em campos opostos de opinião, ambos respeitam o outro, sendo que Peck praticamente assume o papel de padre, ouvindo a confissão de Walter e concedendo-lhe o sinal de perdão divino que ele tanto ansiava.

Apesar de inúmeras outras referências religiosas presentes ao longo da série, tenho ainda de destacar a presença da agente Amy, que no início da série começa a relacionar casos d'O Padrão com passagens da Bíblia, nomeadamente a nível de passagem entre mundos.
Recentemente, no poster da terceira temporada da série, podemos ver Peter caracterizado como o salvador, através do halo à volta da sua cabeça feito pela cúpula.



Número 8

O número 8 tem feito pelo menos uma aparição por episódio, normalmente discretamente (como o tamanho dos sapatos de Olivia). Contudo, sendo uma presença constante, há que dar-lhe o devido destaque. Primeiro que tudo há que considerar que rodando 90º o número 8 ele torna-se o símbolo do infinito, sendo apropriado à série dadas as múltiplas (e infinitas) realidades. Na China o número 8 é também considerado um número de sorte, e estando normalmente associado a Olivia podemos assumir que será o número da sorte dela.



Prometeu

Muitos não sabem, mas a Massive Dynamic, companhia fundada por William Bell, chamava-se Prometheus Corporation no episódio piloto feito para mostrar a série à Fox. Sendo Fringe, obviamente este nome não foi escolhido ao acaso, sendo que hoje já se consegue adivinhar o seu provável significado.

Prometeu era, segundo a mitologia da Grécia Antiga, um titã que roubou o fogo que Zeus tinha escondido para o dar à humanidade. Além disto, Prometeu tinha o dom de adivinhar o futuro.
Olhando então para Fringe e assumindo a luz como sendo conhecimento, percebe-se onde os argumentistas queriam chegar: a Massive Dynamic provavelmente terá roubado os avanços tecnológicos ao outro mundo (claramente mais avançado neste campo), sendo que assim conseguia antecipar-se ao futuro.

Há também que referir que por esse feito Prometeu ficou conhecido como protector e benfeitor da humanidade, um papel que a Massive Dynamic também parece assumir, mas por outro lado, Zeus vingou-se de Prometeu. Será que o mesmo se vai passar na série?

Outra questão interessante a analisar é que essa vingança consistia em que Prometeu ficasse atado a uma pedra durante 30000 anos, acompanhado de uma dose conveniente de tortura diária, mas Hércules, semi-deus e filho de Zeus salvou-o após concluir os doze trabalhos. E confessemos agora todos aqui que nos lembrámos subitamente de Walternate e Peter...

2 comentários:

  1. Acho esta série fenomenal. Cheia de segredos e tem sempre coisas que nos escapam, tais como as que referiste. É bom aprender com estes posts, e ainda bem que o criaste. Muitos parabéns. Guardado já nos favoritos :)

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  2. Obrigada :) No início da série a mitologia anda sempre mais escondida, por isso talvez demore um pouco a aparecer o próximo post sobre isto, mas garanto que quando se justificar ele vai aparecer.

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