sábado, 2 de outubro de 2010

Brisa de Mudança, por Carlos Antunes


Título original: The Wind That Shakes the Barley
Realização: Ken Loach
Argumento: Paul Laverty
Elenco: Cillian Murphy, Padraic Delaney, Liam Cunningham e Orla Fitzgerald
Distribuidora: Lusomundo Audiovisuais

A abordagem à Guerra Civil Irlandesa e da origem do IRA tinha tudo para constituir um trabalho dramático de monta bem como uma elucidação histórica a um mundo que vê as notícias sobre o IRA e o Sinn Féin sem entendimento mais profundo.
Com um conjunto de óptimos actores e um realizador conhecido pelo seu realismo social parecia abrir caminho a uma análise precisa e bem representada de um conflito de que a maioria não irlandesa conhece muito pouco.
Mas o caminho seguido não foi esse.


O filme tenta tocar tanto o drama a um nível pessoal na história de dois irmãos como o épico – a uma escala própria – capaz de abarcar uma época e um confronto onde os irlandeses se digladiavam entre si.
Se a relação entre ambos os caminhos narrativos é evidente, com a dimensão mais pessoal de um a tentar fortalecer a relação pessoal com o outro, a concretização da sua ligação raramente funciona.
O filme parece, durante toda a sua segunda metade, vaguear indeciso e disso se ressente começando vezes demais a notar-se e lamentar-se a sua extensão.


Afinal o que de verdadeiramente universal se vê no filme não é a história desses dois irmãos e nem mesmo a morte de um povo às suas próprias mãos.
É a traição dos ideais, a súbita mudança de atitude dos que antes estavam submissos e agora podem alcançar uma forma de poder.
Essa é a verdadeira tragédia que o filme não relata em profundidade. Essa é a verdadeira realidade que lança pistas para a actualidade.


Mas nem a extensão nem a falta de foco escondem o cuidado que Loach aplica aos seus planos, aproveitando ao máximo a beleza e a grandiosidade dos belos campos onde os treinos militares decorrem.
O filme tem a beleza de um cineasta que, mesmo perante um filme cujo tema tem forçosamente uma agenda política, não descura a qualidade do seu trabalho.
Pelo menos a dedicação dele tem de ser admirada, mesmo que o filme em si não o possa ser.




EXTRAS

Comentário áudio do realizador Ken Loach e do Prof. Donal O’Driscoll (pesquisador histórico do filme) – Equilibrado entre as memórias pessoais de Loach e os conhecimentos fundamentados de O’Driscoll, o comentário é excelente, dando-nos, mais do que o filme, uma visão abrangente e sentida do que foi aquele tempo.
A emoção equilibra-se com o impacto da informação e é com mais gosto que revemos o filme acompanhados pelos dois comentadores.



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