Título original: [REC]
Realização: Jaume Balagueró e Paco Plaza Elenco: Manuela Velasco, Ferran Terraza e David Vert
É certo que [REC] coloca em jogo, com enorme perspicácia, a presença de uma câmara – televisiva, ainda para mais, num período em que o tele-voyeurismo é um “cancro social” – num prédio fechado, colocando em posição as peças de um potencial jogo de tensão.
Mas o filme acaba, afinal, por ser apenas mais um sintoma desse tele-voyeurismo, propagado agora ao cinema, como se para o público que o cinema tem agora, isto chegasse.
Não há em [REC] uma composição de personagens. A sua anonimidade ressoa bem nos propósitos (apenas) funcionais que elas servem.
Até a breve – e fundamentalmente ridícula – tentativa de capitalizar na tensão gerada por temas actuais como o pequeno racismo gerado pela emigração redundam na ideia televisiva da exploração mais insignificante e espalhafatosa da realidade.
Esta ausência de estrutura dramática é um defeito incontornável. Bastará ver Night of the Living Dead para perceber como sempre houve preocupação em compôr uma realidade palpável nos filmes deste género.
Mesmo que optemos por ignorar esta falha, na verdade não encontramos nada de substancial neste filme.
No que toca às ideias de terror, elas estão mais do que vistas, não só em outros filmes de terror, mas até numa banal Casa de Terror.
As bruscas irrupções de som e/ou luz mal conseguem gerar algum susto momentâneo, muto menos gerar uma fluência consistente (e interessante, lá está) de terror.
Acreditando que a ideia visual é suficiente para renovar as velhas ideias de como fazer terror, os realizadores forçam ao extremo essa mesma ideia, acabando o filme em modo “visão nocturna”.
Em que se traduz isto tudo? Uma forma diferente de levar o espectador a dar um “salto na cadeira” mas nem por isso mais interessante.
Se nos lembrarmos ainda do momento em que a câmara subitamente rebobina a filmagem, vale a pena ainda questionarmo-nos sobre o mecanismo.
Estaremos afinal perante o visionamento de uma gravação encontrada ou perante o tratamento despreocupado e indigente desta forma de cinema?
A conclusão é apenas uma, de que se reduziu o cinema à relidade do tratamento do media visual ao primitivismo – televisivo e caseiro – da exploração imediata e irreflectida da realidade.
Fazer disso cinema é tão limitado quanto é possível ser nestes tempos de enorme modernidade visual . Bastará ver Os Fragmentos de Tracey para compreender como essa modernidade pode servir e potenciar um filme e não o resumir a qualquer efeito de redutor mimetismo.
A verdade, tão simples quanto é possível colocá-la, é que estamos perante um filme que negligencia por completo a componente dramática do cinema, apostando na crença de que o efeito visual “inovador” será o suficiente.
E se é claramente suficiente para os espectadores, que na sua maior parte ficaram envolvidos pelo mecanismo, a verdade é que é por demais insuficiente para o cinema.
Publicado originalmente a 1 de Maio de 2008.
Mas o filme acaba, afinal, por ser apenas mais um sintoma desse tele-voyeurismo, propagado agora ao cinema, como se para o público que o cinema tem agora, isto chegasse.
Não há em [REC] uma composição de personagens. A sua anonimidade ressoa bem nos propósitos (apenas) funcionais que elas servem.
Até a breve – e fundamentalmente ridícula – tentativa de capitalizar na tensão gerada por temas actuais como o pequeno racismo gerado pela emigração redundam na ideia televisiva da exploração mais insignificante e espalhafatosa da realidade.
Esta ausência de estrutura dramática é um defeito incontornável. Bastará ver Night of the Living Dead para perceber como sempre houve preocupação em compôr uma realidade palpável nos filmes deste género.
Mesmo que optemos por ignorar esta falha, na verdade não encontramos nada de substancial neste filme.
No que toca às ideias de terror, elas estão mais do que vistas, não só em outros filmes de terror, mas até numa banal Casa de Terror.
As bruscas irrupções de som e/ou luz mal conseguem gerar algum susto momentâneo, muto menos gerar uma fluência consistente (e interessante, lá está) de terror.
Acreditando que a ideia visual é suficiente para renovar as velhas ideias de como fazer terror, os realizadores forçam ao extremo essa mesma ideia, acabando o filme em modo “visão nocturna”.
Em que se traduz isto tudo? Uma forma diferente de levar o espectador a dar um “salto na cadeira” mas nem por isso mais interessante.
Se nos lembrarmos ainda do momento em que a câmara subitamente rebobina a filmagem, vale a pena ainda questionarmo-nos sobre o mecanismo.
Estaremos afinal perante o visionamento de uma gravação encontrada ou perante o tratamento despreocupado e indigente desta forma de cinema?
A conclusão é apenas uma, de que se reduziu o cinema à relidade do tratamento do media visual ao primitivismo – televisivo e caseiro – da exploração imediata e irreflectida da realidade.
Fazer disso cinema é tão limitado quanto é possível ser nestes tempos de enorme modernidade visual . Bastará ver Os Fragmentos de Tracey para compreender como essa modernidade pode servir e potenciar um filme e não o resumir a qualquer efeito de redutor mimetismo.
A verdade, tão simples quanto é possível colocá-la, é que estamos perante um filme que negligencia por completo a componente dramática do cinema, apostando na crença de que o efeito visual “inovador” será o suficiente.
E se é claramente suficiente para os espectadores, que na sua maior parte ficaram envolvidos pelo mecanismo, a verdade é que é por demais insuficiente para o cinema.
Publicado originalmente a 1 de Maio de 2008.
Dicordo, eu adorei o filme. 5*
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