sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estoril Film Festival 2010: Os destaques



Começa já hoje aquele que subtilmente arrisca-se a ganhar o título de festival mais mediático (mais importante seria complexo demais de dizer) de Portugal. Falamos pois claro do Estoril Film Festival que anualmente tem trazido convidados reconhecidos internacionalmente, bem como uma excelente mostra das antestreias mais aguardadas da actualidade. Compete - mesmo que não abertamente - com outro dos festivais mais importantes do país (o mais importante será complicado demais de dizer também): o Fantasporto. Mas ambos tem nas suas maiores diferenças o público-alvo, a organização e o orçamento. Pormenores à parte, o Estoril Film Festival 2010 prepara-se para uma das melhores programações da sua ainda curta vida.

O festival de Paulo Branco, apesar de ser uma festa do cinema, não só de filmes vive: Lou Reed apresentará a sua exposição fotográfica Romanticism e o seu documentário Red Shirley, John Malkovich apresenta uma linha de roupa, entre outras surpresas. Mas o desfile de estrelas não se fica por aqui: o iraniano Abbas Kiarostami, o britânico Stephen Frears, o holandês Anton Corbijn, a espanhola Marisa Paredes, o israelita Elia Suleiman, os franceses Mathieu Amalric e Melvil Poupaud são alguns dos convidados que abrilhantarão este festival, onde todas as artes acabarão por convergir, com filmes, desfiles, exposições, concertos e masteclasses à mistura.

A programação completa poderá ser consultada no sítio oficial do festival em http://www.estoril-filmfestival.com/. Enquanto isso, o Split Screen apresenta os seus maiores destaques e expectativas para este Estoril Film Festival 2010:


Aurora (2010), de Cristi Puiu

Depois de ter passado por Cannes, Nova Iorque e Varsóvia, o cinema romeno de Cristi Puiu e o seu mais recente projecto chegam ao Estoril. Depois do seu premiado The Death of Mr. Lazarescu (2005), que acabou também por dividir a crítica, Aurora contrasta principalmente com o ritmo lento e despojo que a sua obra habitualmente apresentava: alguns apontam-lhe um excesso exibicionista. O filme trata das relações inter-humanas e o realizador Cristi Puiu é também protagonista. Pertence à secção oficial competitiva do festival de 12 filmes.




Depois de uma estreia como a de Control (2007), a expectativa sobre o mais recente filme do fotógrafo/realizador Anton Corbijn é mais que muita. Já sabemos que aquilo que tivemos oportunidade de ver no biopic de Ian Curtis não foi mera sorte de principiante (respira-se talento ali), mas conseguirá ele superar ou pelo menos manter-se ao mesmo nível da sua primeira obra? Do seu lado tem a vedeta George Clooney que vive o seu tempo áureo entre o grande público. No filme é um assassino contratado que, a dada altura, decide entregar as armas numa pequena cidade italiana. Mas nem tudo será assim tão simples. O filme será exibido fora da competição com presença do seu realizador.



Copie conforme (2010), de Abbas Kiarostami

É um dos filmes mais aguardados da mostra nem que seja pela presença do iraniano Abbas Kiarostami em Portugal. Mas Copie conforme é mais que isso. Foi um dos mais aclamados filmes do Festival de Cannes deste ano e podia muito bem ter ganho a Palma de Ouro. A si lhe garantimos: Juliette Binoche nunca esteve tão bonita neste filme e o seu talento aqui valeu-lhe uma Palma de Ouro por Melhor Actriz. A dada altura, o filme reúne vários recursos estilísticos e conceptuais da filmografia do cineasta, mas no fim de contas é uma história de amor tão bonita, mas ao mesmo tão pouco usual e tão madura, que - confiem em mim - vale o bilhete para a sessão.




No plano mais indie, temos uma das surpresas do ano. Uma comédia dramática com as veteranas Annette Bening (American Beauty) e Julianne Moore (The Hours) a viverem um casal lésbico, com interpretações que lhes têm valido um dos maiores oscar buzz do ano. Provavelmente estarão ambas nomeadas ao Óscar de Melhor Actriz na próxima cerimónia, sendo que já vem sendo falado desde o início do ano (no Festival de Sundance) e até em Berlim, onde ganhou o Teddy Award para Melhor Longa-Metragem. Um filme emocional, divertido e forte.




O cinema independente continua em alta, mas Winter's Bone está longe de ser o banal feel good movie do género. De uma história simples, encontra-se aqui um dos filmes mais maduros e contundentes do ano que se encontrará também certamente na próxima cerimónia dos Óscares. Mas aquilo que o torna claramente superior é a estrondosamente surpreendente interpretação da jovem actriz Jennifer Lawrence, num dos melhores papéis e desempenhos do ano.




Com Machete, Robert Rodriguez atinge um dos pontos mais altos da sua carreira. O filme é tudo aquilo a que se propunha: entretenimento puro e duro. O auge do género exploitation com muitas drogas, sexo, mulheres nuas, armas, sangue, cabeças a rolar e diálogos absolutamente impagáveis. Danny Trejo é o extraordinário protagonista de um filme que nasceu de um trailer falso em Planet Terror (2007). O elenco completa-se com Robert De Niro (num papel brilhante), Jessica Alba, Steven Seagal e Michelle Rodriguez. Para ver sem pudores e rigor.




Da Coreia do Sul, chega um dos filmes mais tocantes do Festival de Cannes 2010, sobre uma mulher que descobre a poesia ao mesmo tempo que lhe é diagnosticada Doença de Alzheimer. Jeong-hee Yoon dá toda a sua alma numa interpretação arrebatadora e comovente. O filme ganhou o prémio de Melhor Argumento em Cannes e diz quem viu que é um dos mais mais belos e contemplativos do ano.



Scott Pilgrim vs. the World (2010), de Edgar Wright

A presença de Michael Cera no típico papel de filme indie não deve ser elemento dissuador no momento de decidirem se vão assistir a este filme. Na verdade, Scott Pilgrim vs. the World é um dos melhores filmes de entretenimento do ano e uma das composições mais originais e arrojadas, arriscamo-nos dizer da década, num hino à cultura pop, desde a música aos jogos de vídeo. Edgar Wright, que já nos trouxe Shaun of the Dead e Hot Fuzz, volta a surpreender num dos mais divertidos (e geeks) filmes do ano. E dos próximos.




Confessamos que não é dos mais aguardados. O material promocional não convence, nem as críticas de quem já o viu, mas um filme de Woody Allen é sempre um evento. Desta vez o elenco de estrelas é imenso: Anthony Hopkins, Naomi Watts, Josh Brolin, Freida Pinto e Antonio Banderas. Mais uma comédia de um dos mais ocupados cineastas da actualidade.



Mistérios de Lisboa (2010), de Raúl Ruiz (Mini-série)

A longa-metragem com cerca de 4h30 chegou aos cinemas e surpreendeu tudo e todos por se apresentar como um dos mais agradáveis e competentes filmes portugueses. Do chileno Raúl Ruiz e do retrato de Camilo Castelo Branco da alta sociedade portuguesa do século 19, chega um fascinante folhetim com especial cuidado técnico e narrativo, numa adaptação de Carlos Saboga. A nível de elenco, entre os portugueses Maria João Bastos, José Afonso Pimentel, Ricardo Pereira e Adriano Luz, desfilam estrelas internacionais: Léa Seydoux, Melvil Poupaud (presente no festival) e Clotilde Hesme. No Estoril Film Festival terão a oportunidade de assistir à versão alargada do filme, com cerca de 6h de duração e que terá direito a uma exibição em formato de mini-série na televisão portuguesa.


O Estoril Film Festival 2010 decorre de 5 a 14 de Novembro.

9 comentários:

  1. Muito Obrigadoo! foi uma excelente ajuda!

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  2. Lá estarei para ver várias sessões de que tratarei no blog ;) É pena não poder assistir a muitos dos filmes que gostaria de assistir por causa da hora e dos transportes públicos.

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  3. Eu já vi alguns deles: Machete, Winter's Bone, Copie conforme, Scott Pilgrim... Depois espero pelas tuas opiniões, já que infelizmente não consigo comparecer.

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  4. Infelizmente estou muito longe para poder ir... Excelente selecção de filmes que apresentaram... Tenho enormes expectativas para "Poetry", tem mesmo tudo para ser um excelente filme... Em seguida na ordem de prioridades está "Aurora" (a cada filme romeno que vejo fico mais fascinado pelo trabalho por lá desenvolvido), "Copie Conforme" (não conhecia a obra de Kiarostami até ter visto o surpreendente "Shirin", mas foi mais que suficiente para o considerar um realizador a seguir) e "Winter's Bone" (cujo vosso texto aguçou bastante a minha vontade de o ver).

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  5. Pois, eu também não vou conseguir ir. Dos que vi, para mim o melhor é claramente o "Copie Conforme"... Mas sim, o "Winter's Bone" tem a Jennifer Lawrence que é surpreendente. E o "Poetry" anseio por ele desde Cannes...

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  6. "Poetry" estreia a 9 de Dezembro!!! :)

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