Título original: Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1
Realização: David Yates
Argumento: Steve Kloves
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Alan Rickman, Ralph Fiennes e Helena Bonham Carter
Fui ver este Harry Potter por inércia depois de ter, ao longo dos anos, acompanhando a série cinematográfica por acompanhamento do meu irmão e depois, igualmente, de ter desistido muito rapidamente da saga escrita.
Tão perto do fim é um pouco difícil evitar descobrir o que vai suceder, mesmo que isso se tenha vindo a tornar mais e mais evidente com o passar do tempo.
Esta primeira parte do fim da saga vem reforçar a ideia que o sexto já tinha evidenciado, que Harry Potter decaiu para uma pilhagem de duas referências fundamentais, O Senhor dos Anéis e Star Wars.
A verdade é que há muito material que retira inspiração dos percursos de ambas essas sagas. Aliás, o próprio Star Wars tem momentos que são variações da estrutura narrativa criada por Tolkien.
Poderá, por isso, discutir-se que o que verdadeiramente interessa é a inovação do contexto onde decorre a história.
Não é verdade. Uma saga com um universo tão longamente definido não precisa de, chegando ao final, submeter-se a comparações tão evidentes e pouco convincentes que são meras reformulações com outras personagens.
O sentimento de mera repetição prolonga-se com a própria concretização do filme.
Os três amigos atravessam paisagem após paisagem à procura de um momento iluminado que lhes permita descobrir a forma de destruir um artefacto que lhes afecta o estado de espírito à medida que o transportam.
O artefacto deveria despoletar os conflitos dentro do pequeno triângulo de relações equívocas em que eles estão enfiados.
A vazia passagem de paisagem para paisagem, tal como o ténue conflito e resolução das relações que acontece praticamente todo “fora do ecrã” deveriam ser essenciais para um dos momentos-chave do filme, a destruição do tal artefacto, mas parecem casualidades numa linha traçada independentemente dos personagens e de quaisquer eventos que eles coloquem em marcha.
Para um filme de fantasia com pretensões a épico, este limbo criativo é desesperante para o público não iniciado que tem de depender da narrativa do filme e apenas dessa para compreender e aceitar o que se passa.
Continuo a achar que, ao fim de todo este tempo, o “Escolhido” deveria ser uma personagem mais sólida e activa não tanto dependente da casualidade e abafada pelos conhecimentos de Hermione e pelas decisões bruscas de Ron.
Mais ainda, os dados essenciais da ascensão do poder de Voldemort e a sua perseguição Hitleriana aos seres não-mágicos deveriam estar no ecrã a solidificar um universo sustentado para as suas personagens que parecem vaguear num espaço solitário onde o exterior é, senão inútil, pelo menos indiferente.
O desespero aumenta quando à narrativa se soma a qualidade cinematográfica em si.
Não coloco em causa a qualidade dos valores de produção, sobretudo a fotografia – Eduardo Serra a afirmar-se peremptoriamente em grandes produções – e os efeitos especiais.
Mas coloco em causa que as pretensões épicas do filme terminem em bilhetes postais com personagens em movimento ou, pior ainda, que a cena de emoção mais intensa do filme – um funeral na praia – pareça saído de uma produção baseada num romance de cordel e não em algo que tem vários milhares de páginas de um reino mágico.
Não é o primeiro nem será o último filme a sujeitar-se a ser criticado sendo metade de uma história inteira.
Se o livro é tão complexo como esta divisão sugere, então deveriam ter arriscado preencher o tempo do filme – e prolongá-lo, se chegasse a isso – com mais informação do que aquela que lá está.
Sobretudo, deveriam dar emoção ao que mostram por agora e não limitar-se a fazer um trecho que serve de mera introdução ao que, suponho, será a batalha final da segunda parte.
Este filme tinha de ser “suficiente”, valer um pouco por si próprio e justificar o interesse do público.
Não o faz e só por arrasto do movimento generalizado das muitas horas dispendidas com a saga é que irei ver o verdadeiro final que, segundo toda a lógica de extrapolação, será ainda mais decalcado de Star Wars do que este pedaço de (pouco) cinema foi.
Tanto assim é que o que verdadeiramente se destaca é a pequena animação que contextualiza os Talismãs da Morte. Se pudessem ser duas horas e meia de pequenos contos do género, seria muito melhor.
Estou em completo desacordo, mas compreendo perfeitamente os teus argumentos. Talvez eu tenha sido toldado pela emoção, mas não creio. Abraço.
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