segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entrevista a Mário Patrocínio, realizador de "Complexo: Universo Paralelo"

A dada altura, Mário Patrocínio confidencia-nos que «aquelas armas para eles eram como se fosse o utensílio do trabalho deles», enquanto fala do clima de insegurança que se vive diariamente no Complexo Alemão, o maior aglomerado de favelas da América Latina. Mas a imagem de quem «não permaneceu por cinco minutos, mas conviveu diariamente» é diferente da noticiada pelos meios de comunicação. Durante três anos, os irmãos Mário e Pedro Patrocínio viveram dias de verdade, 24 horas por dia numa das mais temidas favelas do Rio de Janeiro e conheceram a realidade: «não era só coisas e pessoas ruins que ali existiam, que ali também havia gente boa, trabalhadora, gente que também sonhava fazer diferente e melhor».

Complexo: Universo Paralelo
é o retrato desses três anos e estreia a 13 de Janeiro nos cinemas portugueses. Em antecipação, o Split Screen esteve à conversa com o realizador Mário Patrocínio.

A pergunta que se impõe na cabeça de muitos é: como é que um português decide fazer um documentário sobre o Complexo Alemão, o maior aglomerado de favelas da América Latina?
Costumo dizer que nós fomos escolhidos, porque a probabilidade de acontecer o que aconteceu, de termos a oportunidade que tivemos no momento específico que estávamos a viver foi realmente única. Eu tinha chegado há uns meses ao Rio de Janeiro, onde o meu irmão já estava a estudar cinema há uns seis meses e um dia um amigo, o actor Bernardo Mello Barreto, ligou-me a dizer, “cara, vamos fazer um videoclip de um rapper da favela, dar uma ajuda para o cara? é numa comunidade pobre chamada complexo do Alemão”.

Como tinha acabado de chegar ao Rio, não fazia a mais pequena ideia do que era o Complexo do Alemão, dos seus perigos e do que os media falavam. Imediatamente disse que sim, sem nem pensar, gosto de ajudar e sempre gostei de conhecer novas pessoas e novos mundos. Falei com o meu irmão para vir também. Portanto, o nosso primeiro contacto começou através do videoclip do Mc Playboy e a música chamava-se “Por Amor”.


Só depois de ir ao primeiro dia de filmagem, quando fizemos pesquisa na internet é que nos demos conta de como aquela realidade era retratada, lemos também que tinha sido assassinado um jornalista da Globo e isso nos deixou um pouco assustados. Mas a nossa experiência pessoal dentro do complexo foi muito boa, todos nos trataram bem e o clima que sentíamos era de uma pequena comunidade. Foi aí que começou a surgir a ideia de fazer um documentário.

Posso dizer-lhe que o que mais nos marcou foi conhecer a família da dona Célia e ver as condições em que viviam. Eu já tinha estado em África, mas não imaginava que se pudesse viver naquelas condições num país como o Brasil. E não era só a questão das dificuldades, era também a força interna que ela tinha para conseguir segurar aquela estrutura familiar, de oito filhos e um marido com graves problemas de dependência de tóxicos. Foi inspirador ver a sua força.

E porque não seguir a linha do documentário comum, mais informativo?
Embora goste muito de ver documentários informativos também, creio que limitam a capacidade de expressão de quem os realiza. Estamos a falar de objectivos diferentes e opções diferentes mas todos de muito valor para o nosso mundo. A verdade é que muita gente vê o documentário como uma ferramenta informativa, mas eu acredito que também podemos pôr um pouco da nossa visão, utilizando a própria imagem, o encadeamento das histórias de uma forma mais orgânica. Em vez de informar-te, o objectivo é tentar colocar-te dentro do Complexo do Alemão, para que o espectador possa sentir de uma forma diferente aquela realidade. Sabemos que as experiências pessoais não são passíveis de reprodução, porque o presente é sempre só um e todos somos diferentes, mas queríamos que as pessoas viajassem um pouco como nós viajamos naquele universo paralelo. Daí a opção que foi tomada de tentar fazer escolhas que nos aproximassem da realidade, que nos colocassem lá dentro.

Calculo que não tenha sido fácil obter financiamento para realizar um filme que parece uma tarefa, acima de tudo, bastante perigosa. Como foi financiado o filme?
Na verdade o nosso caminho sempre foi feito pelo auto-financiamento. Em tempos procuramos produtoras para nos apoiarem. Em Portugal estavam todos muito distantes da realidade, nem compreendiam o que queríamos fazer. No Brasil, era difícil acreditarem que dois portugueses tinham a possibilidade de entrar dentro do mais perigoso complexo de favelas do Rio, o quartel-general da maior facção criminosa do Rio. Diziam-nos sempre: “pô cara, vou botar dinheiro e nem sei se vocês vão sair vivos de lá...ainda matam vocês e roubam tudo...lembra do Tim Lopes?”.

Agora, passado algum tempo, vejo que é perfeitamente compreensível para um investidor que joga pelo seguro não querer colocar dinheiro num projecto onde quem ia trabalhar nele poderia não sobreviver. Mas em tantas reuniões que tivemos também tivemos produtores que nos explicaram que embora não pudessem pôr dinheiro nos poderiam ajudar, seja com material seja com contactos. Portanto pelo caminho, fizemos grandes amizades com pessoas e empresas que acabaram por acreditar em nós.

Do ponto de vista financeiro, reunimos dinheiro proveniente dos trabalhos que estávamos a fazer no Brasil, vendemos o pequenino “Gol” (uma espécie de Polo), juntamos amigos e pessoas de coragem que acreditaram em nós e metemos mãos à obra. Não podíamos perder mais tempo à procura de financiamento, tínhamos antes que provar que era possível. E assim foi.


Claro que o filme não acaba na captação de imagens e aí começou uma nova aventura. Em Portugal, conseguimos encontrar uma pessoa que muito nos ajudou a criar as condições necessárias para arrancarmos com a montagem e com o projecto. Paulo Carboila, um grande director de publicidade, que não tinha intenção de entrar nesta área mas que acreditou em nós e se apaixonou também pela história. Na sua produtora, Quioto, conseguimos retomar o projecto e levá-lo mais avante. Mas em Portugal tivemos muitos outros parceiros que também nos ajudaram e entraram de coração no projecto, tais como a VS2, o Grupo Nova Imagem, a Imago e a Umbrella Desing Studio. Portanto, a forma que encontramos de tentar concretizar este projecto foi sempre através de parcerias e objectivos em comum, tornando a cada dia que passava um projecto que não era só nosso mas de todos. Para finalizar foi também importante a entrada da VC multimédia.

Como se chega a uma das favelas mais perigosas do mundo e se é recebido pelos seus habitantes e pelos traficantes? Necessitou de autorização?
O meu primeiro contacto como referia atrás foi através do actor Bernardo Mello Barreto, que nos ligou, dizendo que queria fazer um videoclip de um “cara” chamado MC Playboy que era do Complexo do Alemão e a música chamava-se “Por Amor”. Depois, quando conhecemos o MC Playboy foi ele quem verdadeiramente nos abriu ao mundo do complexo.

Desde o primeiro segundo em que entrámos no Complexo do Alemão, fomos sempre bem recebidos. Se, durante as filmagens do videoclip e alguns meses depois ainda éramos visto com muita desconfiança por alguns, com o tempo o elo de ligação entre os moradores e nós foi aumentando. Lembro-me dos moradores falarem-nos sempre daqueles jornalistas que pisavam a entrada do Complexo por cinco minutos, tiravam meia dúzia de imagens e depois faziam uma notícia a falar mal do Complexo, alimentando a imprensa e a mente colectiva, propagando a palavra de que no Complexo era um lugar só de “bandidagem”. Nós não permanecemos por cinco minutos, nós convivemos diariamente.

O mais importante foi continuar a vivenciar o Complexo do Alemão, continuar a visitar frequentemente, a conhecer pessoas novas, a trilhar as ruas, a almoçar lá, a jantar, a ir ao “churrasquinho”, a jogar futebol, a tentar fazer e compreender um pouco da vida do morador do Complexo. Tudo isto sempre com a ajuda e carinho do MC Playboy que tinha muito gosto em mostrar-nos a sua comunidade e fazer-nos ver que não era só coisas e pessoas ruins que ali existiam, que ali também havia gente boa, trabalhadora, gente que também sonhava fazer diferente e melhor.

Em finais de 2005, já estávamos a conviver com o Complexo há mais de um ano, pesquisando e tentando entender aquela realidade. Pessoalmente, comecei a escrever um roteiro que se chamava “Complexo Natal” e tentava imaginar como seria passar o Natal no Complexo. Falei com o meu irmão e disse-lhe que seria muito bom passarmos o Natal no Complexo, seria uma nova aventura que realmente poderíamos fazer-nos entender aquela realidade, porque nessa altura as pessoas estão mais sensíveis. Só não me lembrei na altura que nós também estaríamos mais sensíveis e por essa razão também foi uma experiência tão intensa. Falámos com o MC Playboy, que nos acolheu em sua casa, e tivémos a oportunidade então de finalmente estar no Complexo, sem ser apenas uns meros frequentadores, mas a viver aquela realidade durante cinco dias de verdade, 24 horas por dia. Vivemos o pré-Natal, o Natal e pós-Natal. Conhecemos e entrevistámos um leque de quase trinta pessoas e foi dessa base que depois escolhemos aqueles que achámos que, como um todo, representariam o Complexo do Alemão. Portanto, fomos sempre bem recebidos e sentimo-nos privilegiados por termos podido viver tantas experiências novas que sabemos agora que fizeram toda a diferença na nossa forma de estar e de ser.

Os primeiros contactos com os traficantes foram comuns. Bastava subir o morro que já estava entrando em contacto com eles, seja através dos pontos de venda junto às estradas seja através dos postos de guarda. Mas quando foi para filmar o nosso documentário, tivémos que falar com o chefe máximo. Explicámos exactamente o que queríamos fazer, qual era o conteúdo do nosso documentário, mostramos até um teaser do nosso trabalho. Trataram-nos sempre bem e só pediram para falar aquilo que víamos e não deturpar nem inventar. Como isso já faz parte da nossa maneira de ser, pareceu-nos bastante simples.


A única coisa que era incomodativa era a presença das armas, que por muito convívio que houvesse nunca nos iremos conseguir acostumar. Mas com o tempo fomos entendendo que aquelas armas para eles eram como se fosse o utensílio do trabalho deles. É verdade que nos primeiros momentos tínhamos medo sim, mas a vontade de concretizar este projecto, a inspiração dos personagens e o encorajamento dos moradores faziam-nos acreditar que era possível.

Muitas vezes ficávamos a pensar que realmente estávamos a ser privilegiados por viver num outro mundo, ter a oportunidade de conhecer este mundo complexo tão diferente, mas ao mesmo tempo tão igual. Definitivamente, tínhamos alguma luz em nós, porque agora que olho para trás e vejo por tudo o que passámos, por onde passamos, quem conhecemos, só com alguma luz nos guiando poderíamos ter chegado até aqui.

Chegou a temer pela própria vida? Conte-nos um momento de tensão que tenha vivido na favela.
Aquilo que era tensão para nós no início foi se transformando em rotina. A única forma de convivermos diariamente com aquela realidade era olhar para a coragem dos moradores que lidavam com os cercos da polícia e os tiroteios com a maior naturalidade possível. Era a rotina deles e passou a ser a nossa. Claro que lembro-me de alguns tiroteios que não foram brincadeira, como eles diziam lá “o bicho tá pegando”, e quando assim é o melhor é ficares quietinho à espera que passe.

Lembro-me de um dia em que estávamos a filmar numa lage (um terraço) um convívio entre amigos. Estava tudo animado, havia o famoso churrasquinho, uns dançavam, outros cantavam, umas crianças brincavam. Estava tudo em família, até que começamos a ouvir tiros de fuzil. Mas como era normal haver uns tiros de vez em quando ninguém parou a festa e continuaram a conviver. Do nada, começamos a ver trassantes a invadirem o céu em direcção ao morro, o melhor paralelo que vos consigo fazer é aquelas imagens nocturnas dos ataques no Iraque, em que se vê umas luzes a atravessar o céu. A intensidade começou a aumentar e aí já se via as caras a mudar e, do nada, uma explosão ensurdecedora fez-nos a todos cair no chão. Rapidamente, rastejámos todos para o pátio interior e ficámos ali a olhar uns para os outros, meio em pânico, meio com sorriso nervoso por estar a passar por aquilo mas estávamos bem. A verdade é que passado um pouco o tiroteio acalmou, e se nós estávamos reticentes os nossos amigos voltaram à lage e começaram de novo a festa. Nós seguimo-los e aprendemos mais uma lição do dia-a-dia do Complexo do Alemão.

Qual foi a sensação de ver o seu filme na selecção oficial do DocLisboa, do Festival de Cinema do Rio de Janeiro e vencer um prémio no Festival Artivism em Los Angeles?
A nossa estreia mundial foi no Festival de cinema do Rio de Janeiro, na emblemática sala Odeon. No primeiro sábado do festival em horário nobre, com seiscentos convidados, amigos de longa data, novos amigos, pessoas de todas as áreas, ricos, pobres e com a honrosa presença dos nossos personagens e moradores do complexo. Esse momento foi absolutamente inesquecível, foi a concretização de um sonho e a merecida homenagem aos moradores do Complexo do Alemão. A estreia em Lisboa foi uma bela surpresa, pois mesmo antes de chegarmos do Brasil, já o filme estava esgotado. Conquistar o prémio de melhor filme internacional na categoria de direitos humanos foi uma honra para nós. Mas vamos continuar a trabalhar para que o filme possa chegar ao máximo de pessoas possíveis.

Acha que a temática das favelas brasileiras já está muito saturada? Todos os anos surgem filmes sobre o tema…
Creio que o que está saturado muitas vezes é a repetição das mesmas visões. Ou seja, os temas vão sempre repetindo-se, o que é natural por somos seres humanos, e o mundo é apenas um. A questão é talvez pensarmos como podemos olhar para essas realidades de forma diferente, e que isso nos permita trazer algo de novo.

Passou 3 anos no Complexo Alemão. Mantém algum contacto com os intervenientes do filme?
Sim, vamos mantendo contacto com vários amigos no Complexo. Tentamos sobretudo estar a par da situação da família da dona Célia, de forma a podermos ajudá-la. Para isso até iniciámos uma campanha de recolha de fundos e um projecto social com a ONG Terra dos Sonhos que tem como objectivo poder ajudar no desenvolvimento do Complexo do Alemão, criando novas oportunidades.

Acha que os relatos actuais e a visão que nos é trazida pelos media sobre o Complexo Alemão é distorcida? Qual é a realidade?
Se tivermos a falar do passado, tive a oportunidade muitas vezes de ver notícias especulativas, que contavam histórias que eram mentira porque eu estava lá dentro para comprovar o contrário. Mas nem todos os jornalistas são assim: é como em tudo na vida, existem bons profissionais e maus profissionais. O problema é que hoje em dia a informação circula muito rápido e de forma descontrolada e, às vezes, é difícil perceber o que é verdade ou não, a não ser que tenhas verdadeiro conhecimento da matéria ou estejas envolvido nela de certa forma.


A realidade é que o Complexo do Alemão, tal como muitas outras comunidades no Rio de Janeiro, esteve abandonado do ponto de vista governamental durante muitas décadas, o que fez com que um poder paralelo se aproveitasse da situação e se instalasse. Creio que havia muitos interesses e um jogo de forças que fazia com que a situação assim se mantivesse durante todas estas décadas. Mas por vezes surgem novos interesses, superiores aos anteriores, e aí começou-se a olhar para as comunidades de uma forma diferente e parece que agora faz parte da política governamental oferecer melhores condições de vida àquelas comunidades. O tempo estará aqui para prová-lo e nós estaremos atentos, pois também temos o objectivo de voltar a retratar esta realidade daqui a algum tempo.

Mas tudo isto são interesses e jogos, quando olhamos com olhos de ver encontramos pessoas, seres humanos, moradores que acordam todos os dias para trabalhar, que têm família, objectivos e sonhos. Portanto são como nós, só que num outro ponto do planeta, lidando com uma realidade diferente.

Como encarou recentemente as notícias sobre a invasão do Complexo Alemão pelo BOPE?
O Bope não invadiu, liderou uma acção concertada pelas várias forças policiais, que pela primeira vez na história do Complexo do Alemão, tinha como objectivo permanecer de forma a possibilitar uma melhor instalação do programa de aceleração do crescimento. Como em todas estas operações, ficámos com o coração na boca, pois temos muitos amigos lá, mas também sabíamos que esta acção era importante para que o Complexo pudesse voltar a ser um território pertencente ao Rio de Janeiro e não um condado do tráfico.

Esperamos que agora com a ocupação e a criação das UPP (unidade de policia pacificadora) possa começar a haver uma confiança da comunidade na polícia e que sejam aplicados todos os programas planeados para a melhoria das condições de vida dos moradores dentro da área da saúde, educação, moradia, saneamento, cidadania entre outros.

Estrear “Complexo: Universo Paralelo” num momento como este pode ser visto como oportunismo. Quais são as ideias para a divulgação e promoção do filme a nível nacional e internacional? Qual espera ser a recepção?
Ninguém trabalha tantos anos assim, dedicado de alma e coração, por oportunismo. A estreia já estava planeada há bastante tempo. Começámos este projecto por amor e é assim que pretendemos fechar este capítulo, e talvez por isso tenhamos tido sempre a sorte a acompanhar-nos. Continuamos a acreditar que tudo é possível. Repare, ouvi tantas vezes a palavra impossível ao longo deste percurso que agora quando a oiço até gosto, porque imediatamente se torna num desafio. Era impossível entrar no Complexo do Alemão, era impossível filmar lá dentro, era impossível recolher entrevistas dos mais poderosos senhores do tráfico do Rio. Eram impossíveis a toda a hora, por isso acredito tanto que com muito trabalho e sempre mantendo transparência e honestidade tudo de bom vem até nós.

Estamos a fazer tudo para promover o filme, sabemos que dinheiro não temos mas temos excelentes parceiros a trabalhar connosco e, mais que tudo, temos amigos e estamos a fazer novos amigos a toda a hora. Pessoas, que tal como nós, acreditam que é possível concretizar sonhos. A recepção tem sido maravilhosa pelos quatro cantos do mundo, por isso temos a certeza que de alguma forma o filme pode tocar qualquer ser humano seja ele de onde for. A questão aqui é as pessoas saberem que existimos, que existe este filme e que vale a pena ir vê-lo. Mais do que tudo, creio que o “boca a boca” é a melhor ferramenta e por isso pedimos sempre aos amigos que já tiveram a oportunidade ver este filme e gostaram, que espalhem a mensagem. Há um outro factor que também acho importante: lembrem-se que somos portugueses e que conseguimos chegar até aqui, por isso cada um de vós que às vezes tem dúvidas em relação até onde podem chegar, acreditem, pois podem chegar até onde vocês se deixarem ir. Sonhem, trabalhem e concretizem!


Acha que o documentário em Portugal é um género ignorado?
O cinema português em geral é mal divulgado. Acho até que o documentário está a crescer em Portugal e realmente é fundamental que assim o seja. Não só pela parte informativa mas porque nos faz reflectir, olhar muitas vezes para um problema de uma outra perspectiva e talvez levar a um movimento activo para a melhoria do nosso dia-a-dia, para a melhoria do nosso planeta.

Qual a sua opinião sobre o cinema em Portugal?
O cinema português marcou a minha infância com os clássicos que passavam na televisão. Creio que depois passei anos sem tomar conhecimento do que se ia fazendo em Portugal, já que tive muitos anos fora, mas ultimamente tenho observado mais o que se passa com o cinema nacional. Creio que estamos a caminhar para um ponto em que está claro que se poderá conjugar o cinema de autor sem esquecer a parte comercial.

Não adianta fazer filmes se eles nunca serão vistos por ninguém, o que muitas vezes não é culpa do filme, mas antes da forma como é promovido e também porque tem que ser limpa a imagem que o cinema português não presta. Temos um longo caminho à nossa frente, mas temos novo sangue a surgir, que aliado à experiência de alguns produtores portugueses com uma visão de futuro, poderemos chegar a um sistema que realmente funcione e torne o cinema nacional conhecido não só para os portugueses mas também no mundo. Eu acredito que é possível, dá trabalho, é preciso persistência e visão, mas o que não faltam são exemplos de sucesso no mundo. Temos que criar agora o nosso próprio sucesso.

Tem alguns conselhos para jovens realizadores que estejam a ler o Split Screen?
Primeiro que tudo vale a pena acreditar nos sonhos, principalmente se os sentimos vindos de dentro. Mas não fiquem à espera que eles caiam do céu, ponham mãos à obra, preparem-se o melhor para cada passo e entreguem-se à aventura. Lembrem-se que se fosse fácil todos fariam, por isso, será a persistência que fará a diferença lá mais para a frente. Tentem sempre criar a vossa visão, atrevam-se a trazer algo de novo porque o mundo está cheio de repetição e precisa de novas visões. Atrevam-se a “navegar”!


5 comentários:

  1. Excelente iniciativa! Irei ler a entrevista depois de ver o filme, o que acontecerá, no máximo, na próxima 6ª... :)

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  2. Ok, Filipe. Depois aguardo a tua opinião do filme e da entrevista. :)

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  3. Quero muito assistir! Perdi no Festival do Rio. A sessão que seria mais acessível pra mim esgotou os ingressos rapidamente.

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  4. Sem dúvida que lerei esta que me parece ser uma extraordinária entrevista, mas vou tentar ver o filme primeiro ;)

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