Realização: Clint Eastwood
Argumento: Peter Morgan
Clint Eastwood é um dos cineastas mais consensualmente aplaudidos pela crítica de sempre. A sua sensibilidade de actor conjugada com a sua visão de realizador trouxe-nos, ao longo da sua vasta filmografia, excelentes obras que para sempre ficaram marcadas nos avais da história do cinema. De há uns anos para cá, o cineasta começou a filmar com uma periodicidade invulgar, ora vejamos: dose dupla no mesmo ano com Flags of Our Fathers (2006) e Letters of Iwo Jima (2006), seguido de mais dois filmes quase em simultâneo com Changeling (2008) e Gran Torino (2008) e logo no ano seguinte o biopic Invictus (2009). Uma actividade invejável para um cineasta com 80 anos (com actividade semelhante apenas temos Woody Allen com uma produção por ano e o português Manoel de Oliveira, já com mais de uma centena de anos e igual periodicidade).
Essa periodicidade, contudo, parece começar a ter como consequência filmes com temáticas e produções menos óbvias em comparação com o seu currículo. O caso mais flagrante até ao momento foi Invictus que, não obstante o interesse histórico, se resumiu a um sentimento insonso, cheio de clichés que nunca antes tínhamos visto em Clint Eastwood. Quererá o realizador experimentar novas áreas e novos temas, tendo consciência que com uma carreira invejável, não precisa já de comprovar nada ao público e à crítica? Talvez sim, mas a verdade é que Hereafter – Outra Vida deixa no espectador um sentimento de estranheza quando lemos nos créditos o seu nome.
Não é a polémica temática sobre a vida após a morte que nos choca mais. A verdade é que o filme não deixa margem ao espectador para questionar a existência ou não de vida além morte, nem abre espaço para cépticos, porque parte de imediato em assumir que de facto existe. Nada contra. Mas Hereafter – Outra Vida aparenta ser um mero projecto pessoal do realizador, que procura explicações e respostas para uma dúvida própria, sem se preocupar muito com o espectador. Ao filme falta-lhe subtileza na forma como aborda a história e alguma coerência, acabando por se limitar a uma previsível sucessão de acontecimentos que já sabemos de antemão qual a sua conclusão. Já o argumento de Peter Morgan (The Queen e Frost/Nixon) é vítima de uma grave falta de credibilidade, que se limita a ser uma tentativa frustrada de uma história em mosaico, com ausência de conflito palpável e real nas personagens, limitando-se a contemplá-las sem grande interesse. E esse argumento fraco, pobre – é difícil perdoar isso ao argumentista britânico – traduz-se na forma como Clint Eastwood aborda a história que lhe foi dada.
Os simbolismos utilizados no filme com recurso ao uso de sombras, luz fraca, planos no sentido descendente ou fixos no vazio, enquadramentos sombrios e fechados são excessivos, faltando-lhes subtileza, o que acaba por transmitir a mensagem da morte e pós-vida de uma forma forçada. Ou os cortes rápidos entre personagens que culminam num encontro artificial. Ou ainda a falta de rigor em recriar a passagem do tempo entre personagens: se são narrativas simultâneas, como se explica que enquanto uma personagem faz um curso de 10 semanas, outra encontra-se há mais de 6 meses a escrever um livro?
A nível de elenco, Matt Damon assina uma das suas prestações mais medíocres dos últimos anos, totalmente morna e sem grande vigor; Cécile De France revela potencial, mas nunca chega a atingir o pretendido; Bryce Dallas Howard traz alguns momentos luminosos, com grande carisma, para depois culminar numa cena emocional (artificial) e concluir-se numa inocuidade tremenda e só os jovens Frankie McLaren e George McLaren parecem trazer algo diferente e interessante (mas que infelizmente nunca é abertamente explorado).
Porém é interessante ver Clint Eastwood num filme com efeitos especiais. A cena introdutória é absurdamente realista e emocionante - talvez o único verdadeiramente - a demonstrar que Hereafter merece um lugar entre os nomeados ao Óscar de Melhores Efeitos Visuais. (E não deixa ainda de ser menos curioso que num filme com orçamento e produção maiores, se utilize recurso ao - excessivo e às vezes ridículo - product placement).
Hereafter acaba por ser o filme mais desapontante da carreira do cineasta. Em vez de trazer a sua abordagem pessoal à ideia da vida após a morte, limita-se a focar-se apenas em relacionamentos clichés - alguém merece aquele final?. Compreendemos que Clint Eastwood se queira movimentar noutros géneros, que queira explorar outras vertentes do seu cinema, que se foque em questões que o apoquentam ou interessam, mas por favor que não se limite ao medíocre.
Essa periodicidade, contudo, parece começar a ter como consequência filmes com temáticas e produções menos óbvias em comparação com o seu currículo. O caso mais flagrante até ao momento foi Invictus que, não obstante o interesse histórico, se resumiu a um sentimento insonso, cheio de clichés que nunca antes tínhamos visto em Clint Eastwood. Quererá o realizador experimentar novas áreas e novos temas, tendo consciência que com uma carreira invejável, não precisa já de comprovar nada ao público e à crítica? Talvez sim, mas a verdade é que Hereafter – Outra Vida deixa no espectador um sentimento de estranheza quando lemos nos créditos o seu nome.
Não é a polémica temática sobre a vida após a morte que nos choca mais. A verdade é que o filme não deixa margem ao espectador para questionar a existência ou não de vida além morte, nem abre espaço para cépticos, porque parte de imediato em assumir que de facto existe. Nada contra. Mas Hereafter – Outra Vida aparenta ser um mero projecto pessoal do realizador, que procura explicações e respostas para uma dúvida própria, sem se preocupar muito com o espectador. Ao filme falta-lhe subtileza na forma como aborda a história e alguma coerência, acabando por se limitar a uma previsível sucessão de acontecimentos que já sabemos de antemão qual a sua conclusão. Já o argumento de Peter Morgan (The Queen e Frost/Nixon) é vítima de uma grave falta de credibilidade, que se limita a ser uma tentativa frustrada de uma história em mosaico, com ausência de conflito palpável e real nas personagens, limitando-se a contemplá-las sem grande interesse. E esse argumento fraco, pobre – é difícil perdoar isso ao argumentista britânico – traduz-se na forma como Clint Eastwood aborda a história que lhe foi dada.
Os simbolismos utilizados no filme com recurso ao uso de sombras, luz fraca, planos no sentido descendente ou fixos no vazio, enquadramentos sombrios e fechados são excessivos, faltando-lhes subtileza, o que acaba por transmitir a mensagem da morte e pós-vida de uma forma forçada. Ou os cortes rápidos entre personagens que culminam num encontro artificial. Ou ainda a falta de rigor em recriar a passagem do tempo entre personagens: se são narrativas simultâneas, como se explica que enquanto uma personagem faz um curso de 10 semanas, outra encontra-se há mais de 6 meses a escrever um livro?
A nível de elenco, Matt Damon assina uma das suas prestações mais medíocres dos últimos anos, totalmente morna e sem grande vigor; Cécile De France revela potencial, mas nunca chega a atingir o pretendido; Bryce Dallas Howard traz alguns momentos luminosos, com grande carisma, para depois culminar numa cena emocional (artificial) e concluir-se numa inocuidade tremenda e só os jovens Frankie McLaren e George McLaren parecem trazer algo diferente e interessante (mas que infelizmente nunca é abertamente explorado).
Porém é interessante ver Clint Eastwood num filme com efeitos especiais. A cena introdutória é absurdamente realista e emocionante - talvez o único verdadeiramente - a demonstrar que Hereafter merece um lugar entre os nomeados ao Óscar de Melhores Efeitos Visuais. (E não deixa ainda de ser menos curioso que num filme com orçamento e produção maiores, se utilize recurso ao - excessivo e às vezes ridículo - product placement).
Hereafter acaba por ser o filme mais desapontante da carreira do cineasta. Em vez de trazer a sua abordagem pessoal à ideia da vida após a morte, limita-se a focar-se apenas em relacionamentos clichés - alguém merece aquele final?. Compreendemos que Clint Eastwood se queira movimentar noutros géneros, que queira explorar outras vertentes do seu cinema, que se foque em questões que o apoquentam ou interessam, mas por favor que não se limite ao medíocre.
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