sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TRON: O Legado, por Carlos Antunes


Título original:
TRON: Legacy

Tron é um filme de culto e, como (quase) todos os filmes de culto, perdurou melhor na mente de um grupo delimitado e de características singulares do que propriamente como obra real e revisitável.
O filme, com os seus gráficos surpreendentes, as suas bases de ideias inovadoras e a sua criação de um mundo desconhecido mas susceptível, foi perdendo o seu poder.
As revisitações do filme levaram a que a surpresa visual desse lugar a uma falta de investimento humano.


O novo filme é um parente directo do seu predecessor, baseado em excesso visual.
Nesse aspecto, admita-se, os efeitos são executados de forma excelente, com uma incorporação quase perfeita comas componentes de imagem real.
Mas quase trinta anos depois do original é muito mais difícil aceitar que um filme seja baseado no pressuposto que bastam cenas sobrecarregadas de luz, movimento e som para satisfazer o espectador.


A história do filme é simples de compreender, mas difícil de aceitar.
A linearidade está contaminada por toda a espécie de factos insustentáveis que esvaziam o interesse num relato que até preocura as emoções humanas mas que não exprime nada porque as personagens não são capazes de as substanciar.
O filme original, falhando para com as suas personagens, estava repleto de ideias que definiam as possibilidades a desvendar de algo que era ainda um nicho.
O computador servia para criar uma visão do seu próprio interior, assim fazendo coincidir o progresso com a sua expressão.


Este mundo que agora vemos já não se aceita como um mundo virtual desconhecido.
Quer porque os meandros de um computador e da sua utilização já não encerram mistérios, quer porque a exorbitância criativa o coloca para lá de qualquer possibilidade de circuitos e chips.
É uma das possibilidades essenciais a aceitar mas certamente a mais difícil delas todas, que dentro de um computador exista todo aquele império que já não é um conjunto de funções.


Até porque um mundo assim tão extravagante deveria ser sinónimo de diversão. Estranhamente não é.
O grande videojogo tornou-se num filme de uma seriedade absurda, com reflexões superficiais sobre Deus e o destino.
O mais divertido do filme é uma cena quase sem efeitos, quase sem recorrer ao mundo criado.
Uma cena dentro de uma discoteca com um Michael Sheen a fazer de David Bowie a interpretar The Riddler.
É a prova de que o efeito humano supera o efeito visual, sempre, independentemente da qualidade aplicada neste último.



2 comentários:

  1. Parece-me se calhar mais um filme cheio de efeitos visuais e provavelmente o antigo será bem melhor.

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  2. Concordo com a nota e com a crítica. Visualmente incrível. E só!

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