Título original: Camino (2008)
Realização: Javier Fesser
Argumento: Javier Fesser
Elenco: Nerea Camacho, Carme Elias, Mariano Venancio e Manuela Vellés
Realização: Javier Fesser
Argumento: Javier Fesser
Elenco: Nerea Camacho, Carme Elias, Mariano Venancio e Manuela Vellés
Camino acaba por chegar a Portugal com um atraso de quase três anos, corroborando com aqueles que não entendem os critérios das distribuidoras portuguesas. Em 2008 rebentava a polémica em Espanha, onde Camino, veículo de uma forte crítica anti-catolicismo e Opus Dei acabou por ganhar seis prémios Goya, os mais importantes do cinema espanhol, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento. Crítica essa desde cedo perfeitamente assumida pelo seu realizador, como um filme contra o obscurantismo e fundamentalismo ainda vividos em Espanha (curioso analisar isso à luz das notícias que dão a conhecer o caso do presidente do Festival de Cinema de Sitges que foi acusado de exibir pornografia infantil com A Serbian Film, mas é uma história à parte).
Camino é inspirado no processo de beatificação ainda em curso da jovem Alexia González-Barros, de apenas 13 anos. Se bem que para fazer um filme não é necessariamente necessário que este seja baseado em factos verdadeiramente verídicos e não adulterados, é importante perceber a polémica envolvente já que Camino versa muito sobre a manipulação sendo ele próprio extremamente manipulador do espectador. A família da menina acusa o realizador Javier Fesser de nunca sequer ter tentado falar com eles para conhecer os verdadeiros factos que envolveram a sua morte e acusa-o de distorcer muitos dos acontecimentos.
Tudo isto para podermos perceber que Camino será um filme catalisador de sentimentos e reacções antagónicas por parte do grande público. Quer seja por termos duas facções (uma que o considera ofensivo para a fé católica e outra que apoia essa crítica) ou ainda por – à margem de qualquer discussão religiosa – haver quem se sinta comovido com a história ou, no seu oposto, quem o sinta como uma manipulação barata. Muito porque o método de actuação do realizador não é de todo discreto. Em todo seu argumento, bem como na montagem da própria estrutura do filme, denota-se a enorme tendência em apelar o público para o lado emocional, manipulando o espectador directamente e não lhe dando sequer para margem para decidir de que lado da história ficar. Não lhe é dado livre arbítrio do julgamento.
Muita dessa manobra de manipulação é criada através do uso de uma estética kitsch, demasiado cliché por vezes, mas que o faz muito bem dada a intenção do realizador. Camino é um filme claramente intenso e bastante divergente em géneros – o que pode ser visto por alguns como uma realização desequilibrada – mas que prova como a indústria cinematográfica espanhola é uma das mais interessantes e com mais potencial da actualidade. O filme de Javier Fesser tem tanto de melodrama ora depressivo ora alegre, como de uma doce comédia familiar ou até de um filme de fantasia, que consegue fazer com que nutramos carinho pela sua protagonista com uma enorme facilidade. Especialmente porque se há algo que o (manipulador) argumento do espanhol é saber utilizar interessantes analogias e simbolismos: daí se explica o interessante twist (?) final e que é a súmula de toda a crítica que apresenta à Opus Dei ou a introdução de uma lado fantástico com a história infantil de Mr. Peebles, um homem que tem um problema - só existe, quando acreditam nele (numa referência a Deus).
Esse lado de fantasia da história é muito bem concebido com algumas referências literais (e não só) à Disney, com utilização de excelentes recursos a nível de efeitos especiais, a cargo de Raúl Romanillos (Mar Adentro). É também esta faceta que traz a Camino dos momentos mais fascinantes da trama. Destaque ainda para a banda sonora de Rafael Arnau. Mas é sobretudo com o elenco que o filme mais se destaca. A jovem Nerea Camacho, extremamente bela e carismática, é uma protagonista fabulosa, tão doce como corajosa e cuja personagem – nas suas All Star vermelhas – cria imediatamente empatia com o espectador. Uma actriz talentosa e com potencial para nos próximos anos se afirmar como uma das melhores do cinema espanhol. No espectro oposto da empatia temos Carme Elias (que já trabalhou com Pedro Almodóvar em La flor de mi secret), numa interpretação assombrosa com uma personagem que consegue revoltar qualquer um.
Javier Fesser recria o desespero de uma menina, na flor da idade, natural para a descoberta, mas que é limitada pelas crenças e convicções da sua mãe, aguentando tudo isso com uma coragem espantosa. O realizador é cruel nessa concepção: com uma obra que tem tanto de onírico com de chocante, força o espectador à crítica – mesmo que a ache exacerbada. É impossível não sair de coração partido.
Camino não é perfeito: a música é por vezes demasiado alta, ofuscando algumas cenas, mas é sobretudo tendencioso e manipulador. Manipulação essa nem sempre positiva. Mas ignorando o conteúdo (é possível?), não deixamos de deixar de gostar dessa manipulação, pois Camino é um filme comovente que tanto consegue fazer o espectador sorrir como chorar. A sua apreciação final dependerá sempre de grandes factores, entre os maiores estão os obstáculos éticos e morais, como as crenças religiosas, de cada espectador individualmente. Independentemente de se amar ou odiar, é um filme a não perder que não deixa ninguém indiferente.
Camino é inspirado no processo de beatificação ainda em curso da jovem Alexia González-Barros, de apenas 13 anos. Se bem que para fazer um filme não é necessariamente necessário que este seja baseado em factos verdadeiramente verídicos e não adulterados, é importante perceber a polémica envolvente já que Camino versa muito sobre a manipulação sendo ele próprio extremamente manipulador do espectador. A família da menina acusa o realizador Javier Fesser de nunca sequer ter tentado falar com eles para conhecer os verdadeiros factos que envolveram a sua morte e acusa-o de distorcer muitos dos acontecimentos.
Tudo isto para podermos perceber que Camino será um filme catalisador de sentimentos e reacções antagónicas por parte do grande público. Quer seja por termos duas facções (uma que o considera ofensivo para a fé católica e outra que apoia essa crítica) ou ainda por – à margem de qualquer discussão religiosa – haver quem se sinta comovido com a história ou, no seu oposto, quem o sinta como uma manipulação barata. Muito porque o método de actuação do realizador não é de todo discreto. Em todo seu argumento, bem como na montagem da própria estrutura do filme, denota-se a enorme tendência em apelar o público para o lado emocional, manipulando o espectador directamente e não lhe dando sequer para margem para decidir de que lado da história ficar. Não lhe é dado livre arbítrio do julgamento.
Muita dessa manobra de manipulação é criada através do uso de uma estética kitsch, demasiado cliché por vezes, mas que o faz muito bem dada a intenção do realizador. Camino é um filme claramente intenso e bastante divergente em géneros – o que pode ser visto por alguns como uma realização desequilibrada – mas que prova como a indústria cinematográfica espanhola é uma das mais interessantes e com mais potencial da actualidade. O filme de Javier Fesser tem tanto de melodrama ora depressivo ora alegre, como de uma doce comédia familiar ou até de um filme de fantasia, que consegue fazer com que nutramos carinho pela sua protagonista com uma enorme facilidade. Especialmente porque se há algo que o (manipulador) argumento do espanhol é saber utilizar interessantes analogias e simbolismos: daí se explica o interessante twist (?) final e que é a súmula de toda a crítica que apresenta à Opus Dei ou a introdução de uma lado fantástico com a história infantil de Mr. Peebles, um homem que tem um problema - só existe, quando acreditam nele (numa referência a Deus).
Esse lado de fantasia da história é muito bem concebido com algumas referências literais (e não só) à Disney, com utilização de excelentes recursos a nível de efeitos especiais, a cargo de Raúl Romanillos (Mar Adentro). É também esta faceta que traz a Camino dos momentos mais fascinantes da trama. Destaque ainda para a banda sonora de Rafael Arnau. Mas é sobretudo com o elenco que o filme mais se destaca. A jovem Nerea Camacho, extremamente bela e carismática, é uma protagonista fabulosa, tão doce como corajosa e cuja personagem – nas suas All Star vermelhas – cria imediatamente empatia com o espectador. Uma actriz talentosa e com potencial para nos próximos anos se afirmar como uma das melhores do cinema espanhol. No espectro oposto da empatia temos Carme Elias (que já trabalhou com Pedro Almodóvar em La flor de mi secret), numa interpretação assombrosa com uma personagem que consegue revoltar qualquer um.
Javier Fesser recria o desespero de uma menina, na flor da idade, natural para a descoberta, mas que é limitada pelas crenças e convicções da sua mãe, aguentando tudo isso com uma coragem espantosa. O realizador é cruel nessa concepção: com uma obra que tem tanto de onírico com de chocante, força o espectador à crítica – mesmo que a ache exacerbada. É impossível não sair de coração partido.
Camino não é perfeito: a música é por vezes demasiado alta, ofuscando algumas cenas, mas é sobretudo tendencioso e manipulador. Manipulação essa nem sempre positiva. Mas ignorando o conteúdo (é possível?), não deixamos de deixar de gostar dessa manipulação, pois Camino é um filme comovente que tanto consegue fazer o espectador sorrir como chorar. A sua apreciação final dependerá sempre de grandes factores, entre os maiores estão os obstáculos éticos e morais, como as crenças religiosas, de cada espectador individualmente. Independentemente de se amar ou odiar, é um filme a não perder que não deixa ninguém indiferente.
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