Realização: Chang-dong Lee
Argumento: Chang-dong Lee
Elenco: Jeong-hie Yun, Da-wit Lee e Hira Kim
O que realmente interessa em Poesia não é tanto o que se vê, mas a forma como se vê. Ou melhor, há uma diferença entre ver e observar. Daí que a poesia seja isso mesmo, a diferença entre ver e observar, olhar com atenção para o que nos parece banal, observar pormenores nunca antes apercebidos, observar com sentimento. A dada altura diz-se que «não é difícil escrever um poema, difícil é ter coração para o escrever». Da mesma forma que para fazer um filme com uma história com um cerne semelhante a esta não era preciso muito, mas o difícil era fazê-lo com o mesmo olhar e sentimento. Um sentimento tão honesto e verdadeiro que não passou despercebido no Festival de Cannes 2010, onde ganhou o prémio para Melhor Argumento, entregue a Chang-dong Lee, argumentista e realizador de Poesia. Este é o seu primeiro filme a estrear nas salas de cinemas portuguesas, o que nos deixa a pensar no que talvez tenhamos perdido até agora.
O olhar de Chang-dong Lee é peculiar. É o olhar simples e poético sobre uma forte história. Coisa rara no cinema. Porque se havia material para se criar um thriller intenso a partir de uma tragédia na comunidade que se estende à família ou um melodrama sobre uma mulher que perde aos poucos a sua mente sã, Poesia altera esses padrões de género e destaca um olhar frio, às vezes cínico, sobre uma história de julgamento moral. A busca de Mija pela inspiração poética através da observação do quotidiano é a mesma que o cineasta impõe ao espectador. Se a personagem é forçada a observar o banal com outros olhos, também o espectador acaba por observar os acontecimentos factuais. Observar não é fácil. Quando observa uma simples maçã, a protagonista fica desapontada com a inspiração que não vem. Daí que se apercebe que a realidade e a dor dá material o suficiente para sentir e observar o mundo com outros olhos.
É notável a sensibilidade e simplicidade com que o realizador filma. O tom é naturalista, sem grandes recursos estilísticos, nem música, nem sentimentalismos extravagantes. Onde um simples jogo de badmington ou olhar para uma maçã acabam por ganhar poesia. Jeong-hie Yun, estrela sul-coreana, regressa depois de 15 anos de interregno. É ela que carrega o filme com a sua interpretação alineada, expressiva e solene, numa personalidade cheia de nuances. Se a dada altura, a sua interpretação remete para algo semelhante a Mother (2009), na verdade Chang-dong Lee acaba por trazer um olhar frio sobre essa temática forte. Porque Poesia é um exercício de exposição das personagens, dos humanos, dos sentimentos. Um filme sobre fragilidade, uma espécie de poesia incómoda, mas realista.
A poesia não é simplesmente aquilo que é belo, mas também aquilo que é sombrio, negro. A poesia é o que se sente. A forma como se escreve, como se vê, como se exprime o que sente. Poesia escreve-se entre imagens e entre silêncios, na forma como uma mulher acalma as suas dores pessoais na escrita de um poema ou a cantar num karaoke. Observar não é fácil, é preciso ter alma, ser delicado, subtil. É preciso sentir. E Poesia sente-se como uma auto-reflexão belíssima e encantadora, daí que não se escreva muito sobre ele. Não é para falar, é para sentir.
O olhar de Chang-dong Lee é peculiar. É o olhar simples e poético sobre uma forte história. Coisa rara no cinema. Porque se havia material para se criar um thriller intenso a partir de uma tragédia na comunidade que se estende à família ou um melodrama sobre uma mulher que perde aos poucos a sua mente sã, Poesia altera esses padrões de género e destaca um olhar frio, às vezes cínico, sobre uma história de julgamento moral. A busca de Mija pela inspiração poética através da observação do quotidiano é a mesma que o cineasta impõe ao espectador. Se a personagem é forçada a observar o banal com outros olhos, também o espectador acaba por observar os acontecimentos factuais. Observar não é fácil. Quando observa uma simples maçã, a protagonista fica desapontada com a inspiração que não vem. Daí que se apercebe que a realidade e a dor dá material o suficiente para sentir e observar o mundo com outros olhos.
É notável a sensibilidade e simplicidade com que o realizador filma. O tom é naturalista, sem grandes recursos estilísticos, nem música, nem sentimentalismos extravagantes. Onde um simples jogo de badmington ou olhar para uma maçã acabam por ganhar poesia. Jeong-hie Yun, estrela sul-coreana, regressa depois de 15 anos de interregno. É ela que carrega o filme com a sua interpretação alineada, expressiva e solene, numa personalidade cheia de nuances. Se a dada altura, a sua interpretação remete para algo semelhante a Mother (2009), na verdade Chang-dong Lee acaba por trazer um olhar frio sobre essa temática forte. Porque Poesia é um exercício de exposição das personagens, dos humanos, dos sentimentos. Um filme sobre fragilidade, uma espécie de poesia incómoda, mas realista.
A poesia não é simplesmente aquilo que é belo, mas também aquilo que é sombrio, negro. A poesia é o que se sente. A forma como se escreve, como se vê, como se exprime o que sente. Poesia escreve-se entre imagens e entre silêncios, na forma como uma mulher acalma as suas dores pessoais na escrita de um poema ou a cantar num karaoke. Observar não é fácil, é preciso ter alma, ser delicado, subtil. É preciso sentir. E Poesia sente-se como uma auto-reflexão belíssima e encantadora, daí que não se escreva muito sobre ele. Não é para falar, é para sentir.
Classificação:
Lindíssimo filme! Parabéns pela crítica, Tiago.
ResponderEliminarObrigado Ana Paula! :)
ResponderEliminarUm muito obrigado pela oportunidade que me deram para ver o filme, com a dinamização do passatempo ;)
ResponderEliminarE gostaste do filme?
ResponderEliminarPara ser muito sincero, adorei os primeiros 45 minutos; a partir daí, foi sempre a descer. Mas ainda assim ;)
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