domingo, 3 de abril de 2011

Chico & Rita, por Carlos Antunes



Título original: Chico & Rita
Realização: Tono Errando, Javier Mariscal e Fernando Trueba
Argumento: Ignacio Martínez de Pisón e Fernando Trueba
Elenco (vozes): Mario Guerra, Limara Meneses e Eman Xor Oña


Já não se fazem filmes de amor assim. Não se fazem desde que as estrelas deixaram de soar carinhosamente na boca do público.
Não só por esse motivo, mas apetece dizer que por esse motivo acima de qualquer outro, Chico & Rita é um filme para aquecer o coração do cinéfilo mais saudoso.
Uma história de amor cujo único adjectivo que a define é, de facto, intemporal.
Uma história de amor capaz de vencer todas as contrariedades, sobretudo os grandes infortúnios que só o amor mais ardente causa através dos seus próprios protagonistas.
Uma história de amor que só podia ser vivida no seio daquelas décadas de 1940 e 50 cujos mitos nos chegaram como preciosos momentos de irrepetível grandeza.
O filme não é só uma história de amor, mas uma história repleta de amor por esse tempo e, sobretudo, pela Arte.
O Cinema, que toca a história e as imagens como uma recordação redescoberta dos filmes que adoramos e que nunca olhámos exactamente como aqui.
A Música, que marca o ritmo e o sentimento da própria história. Dizzy, Tito, Thelonious e "Bird", são só alguns dos grande músicos que estão no filme a marcar o temperamento do relato.
A Pintura, através do desenho do filme reverberando a luminosidade da época, quando a arte já reflectia o próprio ambiente jazzístico que se expressava à sua volta.
E que desenho... Só aquela luz, que a arte feita à mão ainda cria como nenhuma outra, valia já a ida ao cinema.
Mas há muito mais para ver nesta criação calorosa e detalhada, com um sentimento de humanidade latente.
Como o próprio tema do filme, o desenho tem a perfeita imperfeição do amor, o aconchegante prazer do que não é imaculado mas é grandioso!
Só a animação poderia levar-nos de volta a um cinema que já não se faz e talvez só na animação conseguissem narrar as mesmas ideias desse cinema.
A presença de Fernando Trueba entre a a equipa de realizadores terá sido essencial. Se o seu cinema não é dos mais recordados, fica evidente que o seu conhecimento e devoção à História do meio que escolheu são inequívocos.
A animação não é só adulta, é a expressão da memória dos adultos que querem rever o mundo em que cresceram.
É tão bom, cinquenta anos depois de Bogey & Bacall terem deixado de poder existir como casal para lá dos filmes que já nos tinham legado, poder voltar a ter uma dupla tão deliciosa no ecrã.
Uma dupla que traz consigo a maravilha das grandes artes de um tempo que não volta a ser mas que se volta a ver, ouvir e sentir com encantatório prazer.




2 comentários:

  1. 5*??? Ui tenho mesmo que ver...

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  2. Descreveste deliciosamente o filme! Pessaolmente também dou as 5*! Parabéns pela escrita Carlos :)

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