sábado, 2 de abril de 2011

Metropia, por Carlos Antunes


Título original: Metropia
Realização: Tarik Saleh
Argumento: Stig Larsson e Tarik Saleh
Elenco (vozes): Vincent Gallo, Juliette Lewis e Udo Kier

Metropia é um trabalho visual admirável mas inqualificável que no seu processo de recuperação de referências de ilustração consegue lançar hipóteses para um futuro da arte.
Infelizmente, Metropia é quase só isso, o que é frustrante do momento em que passamos a estar à espera de uma qualidade de ideias que acompanhe o que vamos vendo até ao fim em que nenhuma surpresa nos agarra como as imagens o conseguiram fazer.


A colagem foto-realista faz a ligação entre a animação e a imagem real, acrescentando efeitos inesperados que recordam formas artesanais de expressão que chegam mesmo ao teatro de marionetas.
A criação de diversos e progressivos planos por desfasamento dos recortes de fotografias foi usado durante muito tempo nos filmes de estúdio com estruturas em cartão para criar a profundidade das cenas, ainda o cinema era mudo.
Por isso a técnica não é nova, mesmo que faça bom uso do CGI para gerir a ligação entre os elementos, mas fala-nos daquilo que tem sido descartado pelo tempo em nome de um progresso acrítico.
Em época de alarde tecnológico, isto é 3D sem truques de filmagem, sem óculos incomodativos, sem equipamento especial.


Como muitos filmes de Ficção Científica recentes, convocando ambientes negros consonantes com a distopia que pretendem retratar, Metropia confia no estilo visual para captar o público, sem depois se preocupar em estabelecer as bases sólidas e lógicas do seu mundo.
O Grande Metro, o Champô, o Plano Corporativo, o Centro de Comando. São ideias avulsas, usadas de forma inconsistente como dão melhor jeito e não em nome de uma continuidade estruturada.
Ideias cuja origem se podem traçar a outros filmes ou das quais a origem se foi perdendo na recorrência de aparição na tela.
Não basta recuperá-las num conjunto em formato noir e dar-lhes uma roupagem alternativa e cool - ou não fossem as vozes principais de Vincent Gallo e Juliette Lewis - para fazer crer que são parte de um olhar novo.


Contra a inovação da revisão de velhas técnicas de criação de animação joga o esgotamento das ideias sobre as quais trabalhar.
Não sustentar uma na outra é o que divide o público de uma total apreciação Metropia e é o que afasta o filme de uma influência mais definitiva.
O sentimento imediato é de estranheza e não de admiração. A mente não acompanha o olhar, vem atrasada porque o filme não puxa por ela.



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