sábado, 2 de abril de 2011

Summer Wars, por Carlos Antunes


Título original: Samâ wôzu
Realização: Mamoru Hosoda
Argumento: Satoko Okudera e Mamoru Hosoda
Elenco (vozes): Nanami Sakuraba, Ryunosuke Kamiki e Ayumu Saitô

Não vejo em Summer Wars nada de tão relevante que leve a ser trazido a um segundo festival nacional.
Apesar do seu prenúncio de ruína tecnológica, no final é um filme para transmitir às crianças o valor dos sentimentos familiares e dos prazeres "arcaicos".


A criação de um mundo virtual onde as pessoas operam e no qual as infraestruturas humanas estejam cada vez mais inseridas e dependentes na sua funcionalidade só se torna uma novidade - quer em termos cinematográficos, quer em termos reais - pela cor e pela criatividade envolvida nos pequenos avatares, as verdadeiras estrelas da criação animada do filme (ainda que o tempo que lhes é dedicado acabe por ser inevitavelmente curto).
A sugestão do seu apocalipse do mundo real por roubo das identidades no mundo virtual funciona melhor do que o habitual por alguma inovação visual em OZ e pelo retrato de complexos cenários em situações vulgares em pleno Japão.
Como cenário é a pior hipótese possível de uma eventualidade contemporânea.


Contra o ambiente de caos opõe-se o espaço privilegiado de uma reunião familiar, um ambiente protegido e onde o pequeno caos de relações é, na verdade, uma paz emocional.
No seio da família, a hierarquia funciona e preservam-se as memórias como ensinamentos a cada nova geração. É a oposição ao espaço da internet em que toda a informação é lançada sem critério nem filtro e onde tudo o que não seja imediato não tem mais lugar.
Contra o abstracto vilão - que tem a interessante particularidade de surgir por culpa americana e mostrar quão afectado pode ser o resto do mundo em vez do cenário inverso e mais habitual - luta o calor humano capaz de vencer oposições e unir-se em prol do bem estar comum.


A grande catástrofe mundial originada pela concentração de informações numa única plataforma resolve-se com um jogo de cartas centenário. Um jogo de cartas partilhado em família.
A tradição, a união e a sabedoria do (bom) ambiente familiar, onde as emoções humanas predominam, vencem as ameaças da desumanização incontrolável do mundo moderno.
A mensagem é admirável num mundo tão focado na individualidade da relação com monitores, mas não saberei dizer até que ponto é eficaz.
Claro que a mensagem não é apontada à minha faixa etária, mas é a sua predominância que tornou convencional este filme.



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